quinta-feira, 3 de abril de 2014

Conta-me uma história...

Para pessoas como eu - que deliram com a escrita e se fascinam com o potencial das palavras que se ligam em frases - esta tendência do content marketing é uma espécie de "nova praia".
O problema com as praias que são novas é que ou estão cheias de gente porque são moda ou estão assustadoramente vazias por serem incógnitas. Num caso ou noutro, entre o excesso de caras e corpos ou a solidão feita de areia e gaivotas, ninguém nos nota. Isto é, entre a multidão somos anónimos, se estamos isolados não temos a quem passar mensagens.
Assumindo que a ausência de seres humanos à distância de um toque é falsa questão num universo que se liga pela www, o maior dilema daqueles que fazem o marketing através do desenvolvimento de conteúdos é conseguir quebrar o muro de mensagens pop-up que disputam uns segundos de notoriedade.
O maior desafio do marketeer não é criar uma mensagem que seja notada porque entre pernas, mamas, crianças, cães ou paisagens deslumbrantes, lá se há-de conseguir encontrar uma conjugação de letras em fonte e cor apropriadas, capaz de ficar na retina de uns quantos consumidores.
A dificuldade está em ficar na memória.
Todos os dias somos confrontados com incontáveis mensagens e solicitações.
Em relação a muitas das mensagens directas ou subliminares com que nos cruzamos somos incapazes de evocar um nome, frase ou imagem segundos depois do contacto visual. A exposição a conteúdos é mais ou menos similar ao fenómeno da rádio: ouvimos a música como banda sonora, no carro ou no escritório, mas dificilmente recordamos a música que passou antes da que estamos a ouvir naquele momento. Às vezes nem nos damos conta que o rádio está ligado!
Uma mensagem só é memorizada quando nos comove.
Não é necessário que a mensagem nos faça rir ou chorar, é suficiente que nos provoque um sorriso, uma sensação de conforto ou de bem-estar, eventualmente um choque, susto ou confronto. Somos capazes de trautear as músicas que nos fazem felizes ou de morder o lábio quando ouvimos os acordes que nos atiram para um episódio infeliz.
O denominador comum de qualquer memória é a história.
No marketing como na vida não queremos detalhes aborrecidos, pormenores que não acrescentam um ponto ao conto. Provavelmente queremos ser enganados ou apenas entretidos, ansiamos por surpresas, por finais felizes, por sorrisos incontidos ou lágrimas no canto do olho.
Em relação aos produtos e às marcas não estamos verdadeiramente interessados na qualidade, nas características intrínsecas, nas vantagens do produto, na responsabilidade social ou na ética. Queremos tudo isso, é claro, mas só ficamos convencidos quando o conteúdo que a marca comunica nos envolve, eleva ou emociona.
Resumindo: é mais interessante assistir à novidade que a mulher traz para casa agarrada a um menu Happy Meal do que ser informados sobre os rigorosos métodos de selecção da potencial matéria-prima que pasta num prado alentejano.




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