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quarta-feira, 25 de março de 2015

Marketing imersivo: the new big thing!

O termo imersivo está associado a mergulhar, imergir...
Ao coligar esta palavra com marketing estamos a designar todas as estratégias pensadas para "engolir" os consumidores, não como onda gigante de bandeira vermelha, mas como temperado oceano de águas calmas.
Uma marca exerce o seu poder de atracção sobre o mercado-alvo recorrendo a imagens visuais fortes, conteúdos interessantes e apelos à interacção. Contudo, sendo estes argumentos a base de qualquer estratégia de marketing, a competição entre marcas resulta numa capacidade de diferenciação muito ténue.
O patamar que se segue é pois o da imersão.
As empresas/marcas competitivas serão as que desenvolvem estratégias ditas "customer centric".
Tais estratégias deverão conceber os pontos de venda como locais de experiência da marca. Se essa experiência for valorizada pelo cliente a compra acontece naturalmente.
Curiosamente, estas experiências físicas extraordinárias poderão ser mais facilmente criadas por empresas em que a venda on-line esteja já em velocidade cruzeiro. Na loja virtual exibe-se todo o portfolio de produtos, organizado por preços e/ou por categorias, na loja real mostram-se apenas os best-sellers, as inovações ou os lançamentos, sendo a prioridade no contacto físico com o comprador potencial a experimentação de um estilo de vida.
As lojas do futuro serão em si mesmas canais de marketing.
Na prática, os dados sobre nós próprios que vamos carregando nas redes de social media e as informações que partilhamos sempre que nos registamos num site, não serão apenas uma ferramenta essencial para o marketing on-line, mas também, e cada vez mais, uma plataforma fundamental para a construção de experiências de compra únicas e personalizadas para os consumidores que entram nas lojas físicas.
O que se pretende é prolongar o tempo de permanência do cliente no estabelecimento no pressuposto de que essa proximidade gera afinidade com a marca. Naturalmente essa permanência não pressupõe espaços imensos em que os consumidores deambulam entre artigos até se aborrecerem pelo tédio, pelo cansaço ou pelo limite do cartão de crédito. Tal permanência consegue-se, por exemplo, pela existência de um bar de gin numa barbearia, pelo agendamento de concertos acústicos numa mercearia, pela invenção de noites temáticas em restaurantes com presença de videntes ou de caricaturistas, pela aposta em todo o tipo de actividades que, não tendo qualquer ligação directa com os produtos que se vendem, funcionam como convites irrecusáveis para atrair e manter os clientes no ponto de venda.
Idealmente, a ida à loja deve transformar-se num evento social que o consumidor partilha e comenta.
Para além dos exemplos relativamente banais e fáceis de implementar que citei, não resisto a partilhar algumas realizações megalómanas de marcas gigantes:
Coca-Cola
Criou o future room como instalação no museu de arte moderna em Istambul
Barbie
A Mattel criou os armários mágicos para comemorar o aniversário da sua irónica boneca loira.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Relógio para que te quero...

Não sei se ainda há quem acredite que o relógio serve para ver as horas.
Não sei sequer se ainda existe alguém que de facto utilize o relógio para esse fim.
O relógio é um acessório de moda, ponto final. Os relógios de luxo são um produto aspiracional equiparável a uma birkin Hermés ou a um par de sapatos Tod´s. Ponto parágrafo.
Nos relógios existem segmentos objectivamente delimitados pelo factor preço, sendo as marcas de luxo comercializadas por valores que facilmente ultrapassam o custo de um utilitário.
O mercado que faz mexer a milionária indústria dos relógios na Suíça é precisamente o da alta relojoaria. Fenómenos como a Swatch ou outros acessórios com marca de estilistas de elevada notoriedade, como Tom Ford ou Calvin Klein, são apenas um "mal necessário" para garantir rotação, liquidez e empregabilidade.
Os consumidores que os suíços querem cativar, os que coleccionam relógios e valorizam os detalhes manufacturados, não procuram num relógio a tecnologia que a Apple vende no i-watch.
Este relógio não compete pois com as marcas de referência para o mercado do luxo mas sim com os gadgets sucedâneos que lançam outras marcas de telemóveis.
A Apple apresentou ao mercado "the Apple watch edition collection" com preços a partir dos $10.000 mas o mais provável é que os 30 milhões de relógios que a marca estima vender em 2015 estarão no segmento dos $700. Ao tentar posicionar-se no segmento preço do luxo, a Apple abriu uma oportunidade a marcas como a Montblanc ou a Tag Heuer para desenvolverem o seu próprio modelo de smartwatch.

É impensável conceber que a Apple se tenha equivocado na sua estratégia de marketing. Podemos contudo aventar que os criativos tecnológicos que idealizaram o i-watch, como típicos americanos que são, negligenciaram o pequeno grande pormenor que concede valor às marcas de luxo: o carácter artesanal da produção.
Os verdadeiros relógios de luxo são peças clássicas. São herança de família, memória de antepassados, património sentimental. Um smartwatch fica obsoleto no dia em que é apresentado ao público, vai entrar, sair e ser substituído nas nossas vidas com a mesma frieza desafectuosa com que trocamos de telemóvel.
O i-watch, como o i-phone ou o i-pad, será pois o premium da categoria, uma categoria nova de relógios que são uma espécie de telemóveis.
Sabendo bem que os gostos mudam a uma velocidade que nos faz parecer mentirosos (ou incoerentes), para já prefiro manter no pulso os meus relógios dourados ou prateados e continuar a utilizar o i-phone como telemóvel...


domingo, 18 de janeiro de 2015

CEO da marca "EU"

A gestão da marca pessoal é fundamental para prolongarmos o ciclo de vida do produto que somos.
Em primeiro lugar, qualquer que seja a nossa formação, idade ou percurso profissional devemos sempre considerar-nos como uma marca.
Porquê?
Somos inequivocamente seres únicos, uma combinação genética muito particular de células, umas tantas características inatas e muitas outras que adquirimos ao longo da vida, que determinam a forma como agimos perante desafios, como resistimos e reagimos a adversidades, como competimos ou meramente sobrevivemos a cada dia.
Somos seres humanos em mutação, cada vez mais complexos e completos, idealmente tão mais sábios quanto mais velhos. Somos também trabalhadores em processo contínuo de formação e de aprendizagem, pelo que, mesmo não estanho activamente à procura de emprego, por questões de ego ou meramente de auto-estima, devemos querer ser percebidos como marca premium e não como commodity, no mercado de trabalho.
Em segundo lugar, sendo uma marca, devemos reavaliar-nos periodicamente, pelo menos fazer planos estratégicos anuais, olhando para nós, para o que conseguimos, para o que queremos e para o que queríamos há doze meses, com sentido crítico e objectivo de forma a avaliar a consistência do produto que comunicamos.
Ser CEO significa ter poder. 
No caso da marca pessoal, independentemente dos reveses e azares que o destino nos prepara, está nas mãos de cada um controlar e gerir a sua reputação. As nossas acções devem todas ser consistentes com a manutenção de um conceito único, distinto e credível.
A checklist da gestão da marca incluí os seguintes pontos:
1. Identificar as nossas mais-valias
isto é, as características pessoais ou combinação de atributos que fazem de nós uma pessoa difícil de imitar. Esses pontos fortes têm necessariamente de ser relevantes para o ecossistema que identificamos como o nosso mercado de trabalho natural.
2. Identificar o que é relevante na indústria em que trabalhamos (ou queremos trabalhar)
Depois da licenciatura, os estágios e empregos que aceitamos empurram-nos ou puxam-nos inevitavelmente para uma determinada indústria. Se identificamos que a indústria em que entramos não nos fascina devemos procurar rapidamente uma alternativa pois o mais certo é que, depois de uma experiência superior a dois anos numa área (como mandam os requisitos de recrutamento), façamos a nossa evolução futura nessa mesma área. Quanto mais perdurarmos nesse negócio mais dificilmente conseguimos mudar.
As empresas procuram tendencialmente especialistas e não gerenalistas por isso a coerência acaba por ser imposta pelo próprio mercado.
O ideal é que o nosso nome seja uma referência positiva no mercado, entre quem nos paga o ordenado, clientes, fornecedores e concorrentes.Devemos por isso ter uma cautela imensa quando nos pronunciamos sobre entidades que gravitam na nossa órbita pois qualquer uma destas pode ser um potencial empregador.
3. Construir um perfil social coerente em todas as redes sociais
São vários os casos de pessoas que foram desmascaradas, devassadas ou humilhadas pelo que partilhavam no FaceBook quando mantinham uma sóbria imagem de fato e gravata no LinkedIn. Pesem-se as diferenças entre a pessoa que somos em família ou entre amigos, de camisa com palmeiras e chinelo no dedo, devemos manter privadas as fotografias que não nos dignificam e reservados os comentários que podem ser polémicos. A liberdade a que temos direito não fica de forma alguma limitada mas apenas e só circunscrita a um universo particular.
4. Partilhar conteúdos de forma sistemática
Há quem crie conteúdos ou quem simplesmente copie links. Independentemente do mérito e da capacidade criativa, a web não é meramente um espaço lúdico e recreativo, mas sim uma fonte inesgotável e imensa de informação e de conhecimento que, sendo relevante para a nossa área, devemos assimilar e partilhar com os demais. Se há uns anos fazia sentido a expressão "diz-me com quem andas que eu dir-te-ei quem és", hoje em dia é absolutamente verdade a máxima "mostra-me o que partilhas que eu dir-te-ei o que sabes."
No LinkedIn existem 25 pessoas com o mesmo nome que eu mas o meu perfil aparece como primeiro na lista provavelmente porque sou activa na rede mas também porque ostento o símbolo 500+. Mesmo não sendo tão regular neste tipo de networking como gostaria admito que nenhum dos cliques que faço nesta rede é casual ou aleatório.
5. Criar uma rede relevante de contactos
Neste caso falo não só nos contactos virtuais que podemos coleccionar no LinkedIn, que provavelmente nem reconheceremos na rua se com eles nos cruzarmos, mas também de contactos reais, pessoas de carne e osso que se relacionam connosco numa base quotidiana e que poderão indicar referências positivas sobre a pessoa que somos. Para que isto aconteça é fundamental manter a personalidade profissional de forma contínua, mesmo nos momentos mais informais ou de lazer. A personagem que construímos com a marca que vendemos tem de se comunicar sempre da mesma maneira, à distância de uns passos, de um telefone ou de um écran de computador.
6. Separar a marca pessoal da marca profissional
Assim como a P&G gere o seu portfolio de marcas como um conjunto de entidades independentes e estanques, também nós devemos saber gerir as duas personagens que mantemos sob a mesma pele como duas pessoas autónomas. É claro que o ser humano que somos tem características omnipresentes que se revelam de forma inequívoca em qualquer contexto. Não devemos no entanto, ser tão rígidos ou formais na vida íntima, nem tão descontraídos ou extrovertidos na vida profissional, sob pena de algumas qualidades se revelarem ameaças perigosas ou alguns defeitos nos condenarem ao fracasso.

Gerir esta ambivalência é tarefa árdua, requerendo muita sensibilidade e empenho. Talvez por isso apesar de todos temos uma marca, para alguns o rótulo é apenas um autocolante em branco...



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"Je suis Charlie" já é uma marca?

Um chico-espero de um belga tentou registar a marca "Je suis Charlie".
Como é evidente o pedido será declinado mas a visão deste homem, se não se basear unicamente num rasgo de esperteza saloia, revela um sentido de marketing extraordinário.
Se pensarmos que o valor de uma marca decorre dos produtos, pessoas e reputação que lhe estão associados, então a frase repetida, impressa, exibida e partilhada até à exaustão nos últimos dias reúne todas as condições para ser considerada uma top brand.

Ainda ontem, nos Globos de Ouro, várias celebridades exibiam a marca da moda com mais orgulho do que a da vestimenta patrocinada.
As razões que fazem de "Je suis Charlie" uma marca milionária são:
1) Omnipresença
Esta marca já se tornou quotidiana, tão presente como a marca da pasta de dentes ou do gel de banho, tão reveladora da nossa personalidade como a marca do perfume ou do casaco.
2) Tendência para a valorização
É claro que este fenómeno de histeria silenciosa que até atirou a Merkel para os braços do Hollande vai acalmar. Sucede porém que, a acreditar no infeliz vaticínio de que os acontecimentos da semana passada vão mudar para sempre a paz podre entre o mundo Muçulmano Radical e o Ocidente, a frase "Je suis Charlie" jamais será erradicada do nosso léxico.
3) Apelo a emoções
É claro que "Je suis Charlie" é uma marca que incorpora o toque mágico que tantas marcas ambicionam: mexe com as nossas emoções mais básicas. Já se sabe que as marcas que conseguem estabelecer laços emocionais agarram-se à nossa selectiva memória como uma espécie de tatuagem...

Nos próximos tempos a própria utilização do "Je suis..." será garante de atenção e promessa de viralidade. Em situações destas os marketeers não podem ficar adormecidos já que oportunidades de alavancagem destas são um oásis.
A Apple, que no que toca à inovação sofre de insónias, aprovou sem hesitar uma aplicação que ajuda a espalhar a mensagem de apoio à liberdade de expressão. Este pedido foi colocado por uma pequena empresa francesa que conseguiu o feito de validar a sua pretensão em tempo recorde. Como diria a minha sábia avó "quem sabe, sabe..."








quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Tendências para 2015 - take III


Se até agora os meios de social media privilegiados pelas marcas têm sido o FaceBook e o Twitter, dizem os especialistas que 2015 será o ano do Pinterest.

O Pinterest registou um crescimento superior a 100% nos últimos 6 meses do ano de 2014.

Trata-se de uma plataforma simples e altamente visual, que comunica essencialmente pela sensibilidade estética. O Pinterest pode vir a ser amplamente utilizado pelos marketeers a partir do momento em que a ferramenta dos “pins sugeridos” seja desenvolvida para reproduzir a sugestão de páginas no FaceBook.

O FaceBook e o Twitter têm as vantagens da escala e da informação sobre o público-alvo. O Pinterest ainda tem de se aperfeiçoar para permitir uma segmentação consistente do tipo de utilizadores, mas alguns casos reais como o dos álbuns sobre casamentos – um sucesso na plataforma – têm-se revelado ferramentas excepcionais para perceber os temas e tendências que interessam às pessoas (neste caso às que se pretendem casar). Se a utilidade destes álbuns for replicada para outro tipo de momentos/ contextos e se for potenciada uma forma de comunicação das marcas com grupos de pessoas com interesses comuns claramente identificados, então o Pinterest pode ter um ano em grande.

O Pinterest pode ser muito útil para testar marcas/conceitos em grupos focus, já que permite seguir o comportamento de compra on-line de consumidores com determinado perfil.

Actualmente, a forma de abordagem dos interesses/aspirações dos utilizadores no Pinterest tem características de marketing one-to-one, o que não se coaduna com o potencial de escala e de exposição que as marcas procuram. Segundo os especialistas o upgrade do Pinterest para uma plataforma de marketing por excelência vai acontecer mais cedo do que mais tarde neste ano que hoje começa.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Básicos para o marketing de luxo

O marketing experiência está para as marcas de luxo como básico, não como tendência. 
Neste segmento tão exclusivo o tal efeito experiência assenta nos seguintes pilares:

1. Comunicar crenças e não valores
Todos os que estudam e trabalham marcas sabem que o eixo de qualquer estratégia são os valores associados a cada marca. No caso dos bens de luxo os esforços fazem-se num patamar acima deste: o das crenças
As premissas que os consumidores assumem como verdadeiras em relação a uma marca são um elo de identidade mais forte e duradouro do que os valores que essa marca comunica. 
Os automóveis da Ferrari são produzidos em edições limitadas com uma relevante incorporação de trabalho de artesãos especializados e um incontável acervo de detalhes que reforçam o carácter luxuoso do produto. Contudo, a força desta marca não resulta deste carácter de exclusividade, que de resto é comum a todas as marcas de luxo. Se a Ferrari conquistou o título de marca mais poderosa no seu segmento em 2014 foi porque as crenças que os consumidores nutrem em relação à marca a distinguem de forma inequívoca em relação às outras. A Ferrari tem sex appeal, inspirando junto dos consumidores ideais de potência, força, sexualidade que nenhuma outra marca no segmento evoca com idêntica intensidade.

2. Ser mais do que um logotipo
Nas marcas de luxo os ícones visuais são de extrema importância. Para o consumidor, mais importante do que o logotipo são os monogramas, os símbolos, as cores, os padrões e outros elementos visuais inequivocamente associados a uma marca. 
A iconografia é vital para comunicar, defender e valorizar qualquer marca de luxo.
Por exemplo, se é verdade que o logo da Chanel é inconfundível, é igualmente verdadeiro que certos símbolos como o número 5 ou certos objectos como as pérolas são inequivocamente associados à marca. Em 2013 a Chanel foi eleita como Luxury Marketeer do ano devido à forma brilhante como se comunica com os diferentes segmentos-alvo através das redes sociais, nomeadamente através da utilização intensiva de vídeos, potenciando as vantagens da difusão em massa sem desvirtuar ou sequer beliscar o seu valioso legado histórico. Segundo o júri que atribuiu este galardão a marca Chanel soube gerir com primor um grandioso argumento, reforçando com cada segmento publicitário os detalhes únicos que contam a sua apaixonante história.
3. Envolver os consumidores em rituais 
As marcas de luxo não oferecem um produto mas sim um serviço único associado à venda de um produto.
Se no segmento de luxo as experiências são um argumento diferenciador essencial, então o acto de compra deve em si mesmo incorporar toda a mise en scène de um ritual.
A flagship store da Burberry em Londres, que funciona num espaço que albergou em tempos um cinema, é uma autêntica experiência teatral. Com a abertura desta loja, que é também um local para eventos e um centro de criatividade, a Burberry incorpora a alta tecnologia na mítica tela xadrez que em tempos foi decretada como outdated e depreciativamente classificada como conservadora e clássica. Na loja de Londres todas as etiquetas possuem identificação por radio frequência (RFID) permitindo ao consumidor explorar conteúdos sobre o produto em que estão interessados nos múltiplos écrans existentes ou nos i-pads disponíveis que guardam registo dos gostos pessoais e histórico de compras de cada cliente. Mais recentemente, na inauguração da oja em Pequim, a Burberry projectou uma passagem de modelos holograma através de vídeos 4D.

4. Fazer de cada loja um templo  
Se a experiência de compra é um ritual então cada loja é um templo.
As marcas de luxo devem prestar atenção redobrada à forma como vendem e inovam no ponto de venda. 
As lojas devem ser espaços multifuncionais que comunicam as crenças associadas à marca.
A Prada desenvolveu uma parceria com a AMO - empresa associada do conceituadíssimo gabinete de arquitectura OMA - uma espécie de laboratório que trabalha para lá das fronteiras tradicionais do desenho de espaços e que criou para a marca um conceito de identidade baseado na tecnologia e na produção de conteúdos para as lojas epicentro em Nova Iorque e Los Angeles. Estas lojas não são apenas um espaço físico de design arrojado pois a sua maior inovação reside no facto de proporcionarem ao consumidor uma experiência virtual única e exclusiva, nomeadamente uma escadaria que é uma rampa mas se converte num auditório para a projecção de filmes, para espectáculos e passagens de modelos. Nestas lojas o acto de compra é subvalorizado já que a prioridade é o envolvimento sensorial com a marca.

5. Convidar os consumidores para um círculo restrito  
As marcas de massa "empurram" os produtos para os consumidores. 
As marcas de luxo" puxam" os consumidores para um círculo restrito ao qual não pertencem os que querem mas apenas os devotos praticantes, isto é, os consumidores que compreendem as crenças, se envolvem nos seus rituais e visitam os seus templos. 
Todos intuímos que ser cliente de uma marca de luxo não é possuir uns óculos de Sol, uma mala ou um básico com a sua etiqueta. Ser cliente de uma marca é o equivalente a ser membro honorário de um clube, ter acesso à área reservada, ao camarote VIP.
Qualquer pessoa que tenha dinheiro suficiente pode adquirir uma mala Hermés. No entanto, apenas os clientes com uma ligação duradoura com a marca podem adquirir os modelos mais exclusivos. Esta atitude elitista da Hermés não afasta potenciais compradores, pelo contrário consolida a relação com a marca, desenvolvendo um sentimento de pertença e de fidelidade que outras marcas que concorrem no mesmo segmento de mercado não conseguem igualar.
6. Recorrer a lendas para comunicar o mito   
As marcas de massa tendem a comparar-se com os seus competidores para sustentarem a sua estratégia de comunicação nas vantagens competitivas que mais as diferenciam. As marcas de luxo posicionam-se como únicas logo não são comparáveis.
Este carácter singular alimenta uma aura mitológica associada às marcas de luxo, reconhecidas pelo mercado como acessíveis apenas a um grupo limitado de eleitos.
A Chanel tem na sua criadora uma figura mitológica primordial, mas o mais usual é que as marcas recorram a celebridades como personagens que melhor transmitem a essência de um produto, gama ou colecção. A Louis Vuitton, que de tão aspiracional deve ser das marcas mais plagiadas e contrafeitas, sendo as malas com o seu monograma vistas amiúde ao ombro de secretárias e de caixas de supermercado, incluí na sua estratégia de comunicação o recurso a estrelas fotografadas de forma cinematográfica, publicando imagens que são em si mesmas tão ou mais impressionantes do que a personalidade que se deixa fotografar.

sábado, 25 de outubro de 2014

Uma imagem vale mais do que MAIS de 1.000 palavras...

Todos sabemos que a informação visual comunica de forma mais rápida (uma imagem é processada pelo cérebro a uma velocidade 60.000 vezes superior à de um texto). No marketing este facto já teve imensas variantes mas o que acontece hoje é que as empresas que melhor comunicam com o público-alvo são as que produzem melhores conteúdos gráficos, desde o logotipo à imagem estática da página de entrada no site, passando pela infografia e pelo video.
Os conteúdos visuais, uma espécie de marketing pronto-a-comer, são social media friendly, isto é, são facilmente partilháveis,  convertendo a pessoa que os partilha numa espécie de "estrela social descartável" cuja notoriedade se mede pelos gostos e comentários acumulados entre feeds.
A infografia assume-se como uma forma fácil de debitar um texto em poucas palavras, sendo que as estatísticas demonstram que esta forma de comunicar é mais eficaz do que outros meios tradicionais que recorrem à palavra escrita.
O marketing de hoje é multi-canal e multi-facetado, mas qualquer que seja a forma como uma empresa ou marca chega ao público-alvo a regra de ouro é única e simples: a mensagem tem de ser inspiracional, visualmente atractiva, tão subtil que o destinatário a assimile e partilhe de forma espontânea, sem perceber que ao fazê-lo se transformou numa espécie de Sales Rep não remunerado...
Como sou uma acérrima defensora da máxima as boas ideias copiam-se, partilho um vídeo que sintetiza os básicos do projecto de content marketing de uma das empresas que mais capitaliza o efeito multiplicador da publicidade tradicional: a Coca-Cola Company.
1. Conteúdos de excelência
Ideias tão virais que não podem ser controladas, gerando comentários que se transformam em conversas, que no final se medem pela quota de popularidade na chamada pop culture.
2. Agir e reagir sobre os conteúdos
O compromisso de partilha de histórias, de reacção aos comentários, de interactividade com os seguidores tem de ser permanente, 365 dias por ano.
3. Aumentar a distribuição de criatividade
As histórias criadas e partilhadas pelos consumidores devem suplantar aquelas que a própria empresa é capaz de produzir. A empresa reconhece o crescente empowerment dos consumidores mas propõe-se a encarar este facto como oportunidade e não como ameaça.







domingo, 19 de outubro de 2014

Ser CEO ou não ser, eis a questão...

Quem anda minimamente atento sabe que a Harvard Business Review já publicou a lista dos 100 melhores CEO's do mundo e que Jeff Bezos, fundador da Amazon, ocupa o primeiro lugar.
Nota: entre os 100 melhores CEO's do mundo apenas 2 são mulheres, apesar da reconhecida capacidade de liderança, inteligência emocional e blá, blá, blá... da dominante população feminina no mercado de trabalho.
Os critérios de avaliação da HBR foram a rentabilidade accionista da empresa (na indústria e no país) e a capitalização da empresa no "reinado" do respectivo chefe-executivo.
Para além destes critérios objectivos, a HBR recorreu ao Reputation Institute para ponderar factores subjectivos como ambiente de trabalho, ética, cidadania, responsabilidade social, satisfação dos empregados, orientação para o cliente... Curiosamente, na avaliação à luz destes parâmetros, Bezos ficou em quarto lugar mas a Amazon ficou em primeiro por ser considerada a empresa mais customer centric à escala planetária (apesar de gastar quase nada em relações públicas e em publicidade).
Curioso é também o facto de os resultados trimestrais da empresa nem sempre serem positivos: o core business da venda on line está maduro e é rentável mas os new business apresentam, na maioria, contas de exploração com resultado negativo.
Sabe-se de Bezos que proíbe os Powerpoints e que pretere a lógica das folhas de cálculo à gestão pela intuição. Sabe-se da Amazon que as suas vendas aumentam, que o retorno dos acionistas é alto e estável, que é intenção declarada do CEO procurar o desenvolvimento do negócio através de melhorias incrementais e não através de extraordinárias inovações tecnológicas (apesar da posição relevante da Amazon em cloud computing, e-readers e online video).
O visionário que criou um negócio que tem sido sucessivamente decretado como moribundo ao longo dos anos, persegue um discreto mas consistente crescimento a longo prazo em detrimento dos saltos de dois dígitos na curva de vendas que tendencialmente são seguidos por períodos de menor rentabilidade - um estilo de gestão por ciclos que predomina em muitas empresas e que dificilmente se sustenta no tempo sem feridos nem baixas.
Já que as boas ideais se copiam, aqui vão as cinco regras básicas de gestão de Jeff Bezos, a seguir para quem um dia queira ser tão CEO quanto ele:
1. Ser uma "fada madrinha"
Fazer propostas tão boas aos parceiros, concorrentes, fornecedores, accionistas, trabalhadores... que estes as não possam recusar. Numa propostas acima das expectativas os detalhes do negócio acabam por não ser analisados como relevantes, o que pode derivar numa vantagem competitiva quando são exigidas as contrapartidas ou responsabilidades.
2. Não partilhar informação em demasia
Os accionistas ou parceiros da Amazon sabem pouco da estratégia da empresa. Jeff Bezos é altamente criticado pela opacidade da conta de exploração da empresa que dirige. Felizmente para ele, tais críticas não merecem resposta nem comentário na medida em que os resultados confirmam que as suas decisões mantêm a empresa no rumo certo.
3. Manter as equipas com uma dimensão que permita que sejam alimentadas com 2 pizzas
A regra das 2 pizzas é um clássico de Bezos. Para ele o tamanho ideal de uma equipa é entre 5 a 7 pessoas. Em equipas maiores existem inevitavelmente assimetrias de esforço e de empenho; equipas mais pequenas podem não ter massa crítica suficiente para devolver um trabalho de qualidade.
4. Promover a falta de comunicação 
Uma das críticas ao estilo de gestão de Bezos resulta da promoção deliberada da falta de comunicação entre equipas. Sou levada a concordar com a sua teoria (que a prática revela eficaz): quando as equipas comunicam entre si tendem a procurar consensos (ou a investir demasiado tempo e energia a alimentar rivalidades, acrescento); a procura de consensos, a homogeneidade de pensamentos, é um obstáculo à criatividade.
5. Promover o conflito
Bezos não suporta o clima de coesão social, aquele lado bonito das empresas em que todos são muito felizes e muito amigos, o tal "great place to work" que infelizmente para a maioria das pessoas é uma mera utopia. Para ele a inovação nasce da disrupção, do conflito, logo os subordinados são estimulados e valorizados quando põem em causa colegas e superiores, quando questionam e quando são proactivos a sugerir novas formas de dinamizar o negócio.
A Amazon não é lugar para yes man, nem para comodistas ou acomodados.



i-(s)watch: competidores ou complementares?

Já fui uma ávida consumidora de relógios: comprava entre um a dois por ano das colecções ditas de moda e pedi como prenda de final de curso um Pequignet, marca que muitos leigos desconhecem (falhando por isso na função de símbolo de status como é suposto com as marcas de luxo).
Hoje praticamente não utilizo relógio.
A função básica é substituída pelo telemóvel, ou pelo relógio do computador ou pelo relógio do carro; a função de acessório de
moda tornou-se supérflua ante a fobia pelas pulseiras de diferentes materiais, combinadas por cor, por coerência espiritual entre medalhas ou penduricalhos, pela combinação de materiais ou por qualquer outro subjectivo critério de vaidade.
Na minha adolescência quem não tinha Swatch estava out. Muitos dos meus amigos iniciaram uma doentia obsessão pela marca, acumulando colecções que são actualmente um inquantificável património sentimental de valor real inexplicável para quem não viveu o fenómeno.
Quem estudou marketing sabe que a Swatch é o case study de uma marca que salvou uma indústria agarrada aos predicados da manufactura tradicional e do carimbo "swiss made". Na altura, a ameaça eram os relógios digitais e Nicolas Hayek ultrapassou essa contrariedade lançando no mercado um relógio de ponteiros em plástico, que apesar de aparentemente obsoleto e pouco nobre como produto funcional, possuía uma vantagem inalcançável pela concorrência asiática: os relógios Swatch eram um produto de moda.
Num contexto em que a utilização de relógio já não é hábito entre um cada vez mais amplo segmento de consumidores, o lançamento do
i-Watch pode ser uma oportunidade para a Swatch mais do que uma ameaça.
Da mesma forma que os utilizadores que se apaixonaram pela Swatch nos anos 80 adoptaram a marca como objecto de colecção ou adereço de fim-de-semana, tendo evoluído para marcas mais caras como sinal de upgrade social ou de mero amadurecimento e consequente sofisticação nas preferências, também agora se vislumbra a possibilidade de que os utilizadores de gadgets se habituem a utilizar um adereço no pulso para consultar as horas, descobrindo o fabuloso mundo da relojoaria de moda e da alta-relojoaria de luxo.
Assim como o i-book não conseguiu substituir o livro em papel, sendo até eventualmente responsável pelo crescente interesse de consumidores pela literatura, não é líquido que as inovações que alteram hábitos de consumo ou que introduzem novas formas de consumo de um hábito, se sobreponham aos produtos tradicionais ou aos costumes de longa data.
Independentemente das intenções dos criadores, há produtos que se transformam em complementares e não em competidores.
Reconhecendo este fenómeno como vantagem, fala-se de uma parceira entre a Apple e a Swatch, de forma mais abrangente entre os executivos da indústria dos smartphones e os executivos da indústria relojoeira, para o desenvolvimento de um produto orientado para as necessidades do consumidor independentemente da tecnologia de base que o suporta.
A promessa do i-Watch é ser capaz de detectar os micro-movimentos do utilizador, fornecendo informação em tempo real que lhe pode permitir tomar melhores decisões e interagir de forma mais positiva com o meio ambiente. Curiosamente, a visão contemporânea da indústria relojoeira posiciona o relógio como uma extensão da identidade do seu utilizador, uma forma de este se comunicar e se afirmar perante os outros. Entre estes dois conceitos que se tocam poderá certamente surgir uma nova definição de produto, com benefício para aqueles que percebem que os esforços devem ser orientados para a felicidade do consumidor e não para a infelicidade da concorrência.



domingo, 12 de outubro de 2014

Millenials: os que não eram sequer um projecto antes do 25 de Abril

Os Millenials, ou "geração milénio", são a geração nascida na década de 80.
Tendo nascido numa fase de surpreendentes avanços tecnológicos, num clima de crescimento económico, com pais que, no caso português, nasceram na clausura do Estado Novo, foram mimados e protegidos, beneficiaram de uma educação de excelência provavelmente no ensino privado, frequentaram múltiplas actividades extra-curriculares, formaram-se em universidades de topo, plenos em mais-valias e predicados, com uma auto-estima acima da média.
Os Millenials são pejorativamente apelidados de geração Peter Pan, aquela que se recusa a crescer, a sair de casa dos pais, a casar e a constituir família, a abdicar da estabilidade comodista que lhes permite consumir marcas premium, frequentar os locais da moda e viajar com frequência.
O seu estilo de vida ambivalente - altamente orientado para a carreira e simultaneamente pela necessidade de viver intensamente cada minuto não dedicado ao trabalho - converteu os elementos desta geração em heavy users das plataformas sociais como forma de socialização, diversão, informação e consumo.
O atractivo desta geração não é a sua dimensão. No contexto de recessão actual não é certamente o seu poder de compra.
Esta geração é interessante e desafiante porque são consumidores informados, cultos, permeáveis à mudança, fortes entusiastas da inovação, tipicamente os primeiros a aderir a propostas diferenciadoras, a novas marcas, com uma sensibilidade relativa ao preço-base na medida em que ponderam as suas escolhas em função da imagem e do status pretendem ostentar.

Características básicas deste grupo social:
Viciados em social media, principalmente nos conteúdos criados por si próprios ou pelos seus pares
Os Millenials povoam redes sociais como o FaceBook, o Twitter ou o LinkedIn.
Tipicamente, confiam mais nas opiniões e sugestões daqueles que consideram como iguais, do que nas figuras públicas remuneradas como embaixadores de marcas ou contratadas como prescritores institucionais.
É claro que a identificação com um ícone continua a ser relevante na medida em que clarifica o posicionamento. Contudo, o fenómeno de sugestão ou recomendação potenciado por bloggers e por opinion makers semi-anónimos é fundamental para credibilizar a marca junto do segmento.
Privilegiam o "eu", o Me, myself and I, acima de todas as coisas
O valor acrescentado de uma marca no universo virtual de alguém desta geração deriva da possibilidade de personalização, como tão bem o sabem a Nike, a Primark ou a Coca-Cola.
Idealmente as marcas que gravitam no universo social de um Millenial devem permitir ao potencial consumidor o acesso a ofertas especiais, promoções exclusivas ou eventos.
O que os Millenials procuram é uma forma de se auto-promoverem através de uma marca, nomeadamente através das selfies que os retratam numa festa, numa loja ou com uma peça que as destaca e promove socialmente.
Quanto maior o apelo ao narcisismo maiores as possibilidades de sucesso de uma marca.
Altamente sensíveis a questões sociais e amigas do ambiente
Esta geração é paradoxal: por um lado são egocêntricos, por outro compensam esse seu pecado egoico através de uma atenção particular à sustentabilidade, à ética e à responsabilidade social, valorizando as marcas que se afirmam como verdes, justas e "boazinhas".
Os Millenials valorizam a filantropia e a lógica da "retribuição" (que os americanos apelidam de giving back), característica esta que eventualmente compensa a sua falta de identidade religiosa ou de coerência espiritual.

Do ponto de vista sociológico pertenço à geração anterior - a geração X - muito embora partilhe alguns dos tiques que categorizam estes consumidores sobre os quais recaem actualmente as atenções e esforços do marketing. Talvez porque não tive filhos, ou por ser filha única, provavelmente porque cultivo um estilo de vida que me aproxima mais da vitalidade histriónica dos trinta do que do conformismo cansado dos quarenta.
Seja como for, porque para lá dos conceitos do marketing existe um estilo de vida real, identifico-me com esta forma de estar na vida, com o carpe diem como filosofia, com o convívio genuíno com um grupo restrito de amigos entre copos de vinho tinto ou baldes de gin tónico, e com a socialização imensa com um vasto grupo virtual de contactos à distância de um clique no smartphone, no i-pad ou no portátil. Gosto de fins-de-semana em hotéis de charme com as comodidades de um cinco estrelas de características rústicas, com marcas que são hype, trendy e chiques, que reciclam, se bio-degradam e renovam, que são caras pela qualidade das matérias-primas mas acima de tudo porque não se alimentam da exploração insensível do trabalho de crianças.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Vai um snapchat?


O Snapchat é uma das plataformas de comunicação mais utilizadas actualmente entre os jovens.
O seu criador, Evan Spiegel - um jovem com um ar mais despenteado que Mark Zuckerberg e que recusou uma compra de três mil milhões de dólares por parte do FaceBook -, confirmou que a publicidade vai ser permitida na plataforma mas na secção Our Story. Os utilizadores podem integrar o anúncio na sua narrativa ou então ignora-lo.
Dado que as redes sociais são a forma mais rápida e eficaz de comunicar com um publico-alvo a uma escala planetária, fazer da inexistência de publicidade uma das virtudes de uma plataforma como sucede no WhatsApp começa a ser indicador de falta de visão estratégica. O próprio Instagram já permite anúncios, introduzidos de forma tão natural como as fotos ou videos que partilham os nossos "amigos". O próprio Twitter, já considerado um sénior por estas andanças, está a testar uma fórmula de rentabilidade assente na integração com ferramentas de comércio electrónico, nomeadamente a possibilidade de fazer compras a partir das publicações.
A Dove - marca que entrou nos corações de quarentonas como eu quando começou a utilizar "mulheres reais" nos seus anúncios - aposta cada vez mais num segmento mais jovem, leia-se mais teenager, com um eticamente correcto apelo à auto-estima.
Dada a aposta na fidelização de consumidores desde a idade das "escolhas fundamentalistas", a marca elegeu o Snapchat como canal fundamental de comunicação.
Esta estratégia de recolha de depoimentos sobre a forma como as pessoas se sentem em relação a elas próprias, nomeadamente em relação ao seu corpo, tem sido o tom da comunicação da Dove.
Em anúncios tipo filme que facilmente se tornam virais - como o Dove legacy - a marca incita mulheres a falarem sobre as inquietações relacionadas com a beleza exterior, que basicamente as perseguem desde a escola primária.
A promoção deste tipo de introspecção é relativamente fácil junto de uma população adulta mas encontra sérios obstáculos junto da malta mais jovem, que se por um lado se expõe desbragadamente nas redes sociais em relação à sua vida privada, pode ser reservada ou até dissimulada quando o tema são sentimentos de alguma profundidade, principalmente quando revelam inseguranças ou fraquezas que os inferiorizam.
A utilização do Snapchat pela característica efémera das conversas, facilita a exposição dos medos e traumas relacionados com a auto-estima, sendo a interacção com a marca assegurada através dos conselhos e palavras positivas que os "embaixadores" da Dove vão publicar no decurso desta acção que se prolonga apenas por alguns dias (um fim-de-semana que começou hoje, para ser mais precisa).
Se o maior de todos os argumentos do marketing é a relação emocional com o consumidor, então a Dove está de certeza a consolidar uma posição diferenciadora dos seus concorrentes, ocupando um lugar de destaque na mente de um vasto mercado potencial e um lugar cativo no coração de muitas miúdas que daqui a uns anos vão eleger a marca de forma espontânea, para si e para a família.



terça-feira, 2 de setembro de 2014

O que tem um Banco a ver com uma borboleta?



A associação de animais a logos de empresas não é coisa nova. Exemplos clássicos são o do coelhinho da Playboy ou o plagiado crocodilo da Lacoste.
Se é verdade que todos os logos são símbolos com significado, em relação à Playboy consegue perceber-se a associação da pornografia soft ao animalzinho fofo que todos sabemos copula freneticamente. Já em relação à Lacoste é necessário googlar a história da marca para se saber que o seu fundador tinha como alcunha "o crocodilo" devido a uma aposta feita nos anos 20 do século passado relacionada com uma mala na pele deste réptil.
Desde a pré-história que os homens vêm atribuindo aos animais características humanas, logo não espanta que quando a FIDELIDADE decidiu renovar a sua imagem incorporando o perfil de um cão no logotipo, todos entendamos que a mensagem tem a ver com a segurança que nos dão os cães de guarda e com a lealdade cega que estes amigos de quatro patas devotam aos seus donos, leia-se clientes.
As características de um animal podem funcionar como uma metáfora gráfica fácil para comunicar as ideias-chave sobre um produto ou empresa. Nalguns casos essa associação é imediata noutros é críptica.
Não há muitas empresas que utilizem coelhos ou crocodilos, tão poucas quanto as que utilizam borboletas.
O exemplo imediato é o msn, que lançou o seu logo com este insecto bonitinho em 2000, explicando ao mundo que este era um símbolo de liberdade e de empowerment (como é que isto se traduz?).
A ideia que se pretendia transmitir era de leveza, sugerindo que essa coisa da internet era fácil e de certa forma libertadora.
Alguma pesquisa sobre simbolismo confirma que a borboleta é mesmo sinónimo visual de mudança, de transformação, de metamorfose. Faz sentido.
Perante isto, parece quase lógico que o NOVO BANCO tenha adoptado este ícone como imagem de marca. Sucede porém que o NOVO BANCO é um Banco, uma instituição financeira, uma entidade que tem de inspirar confiança aos seus clientes.
Em primeiro lugar, manter a associação ao BES pelo código cromático e pelas frases sentimentais acopladas à comunicação institucional, equivale à capitalização de um activo tóxico, já que, como se sabe e vai sabendo, o Banco que saí de cena é um exemplo multiplicado de poucas vergonhas e de más práticas.
Por outro lado, sendo a borboleta um ser delicado, a escolha deste símbolo no contexto em que ocorre a mudança de imagem, é mais percebido como indicador de fragilidade do que como sinónimo de metamorfose.
Por último, se é verdade que as empresas devem procurar distinguir-se pela originalidade - quem alguma vez sugeriria um logo com uma fruta dentada para uma empresa de hardware? -, é igualmente verdadeiro que num sector que prima pela sobriedade é mais sensato seguir a norma de que "as boas ideias copiam-se".
Os únicos logos de instituições financeiras com animais que me ocorrem são os do Barclays (com uma águia estilizada em forma de escudo) e do Merryll Linch (que usa um touro possante para se distinguir num meio onde o termo "bull" é utilizado para classificar um mercado em ciclo ascendente).
A predominância do azul e do vermelho nos logotipos dos bancos também não é opção aleatória. A primeira cor transmite calma e confiança, a segunda evoca paixão e força. O BES optou pelo verde por razões que desconheço.
Parece-me contudo que se a manutenção desta cor faz sentido em termos operacionais para viabilizar uma mudança rápida de imagem com o menor investimento, numa perspectiva de marketing um corte radical com o passado era opção mais lógica se o objectivo é apagar da memória colectiva o nome da desgraça e tranquilizar os clientes.





domingo, 13 de julho de 2014

Lacticínios com valor acrescentado

Segundo o mais recente relatório da Brand Footprint, a Mimosa é a marca mais presente em casa dos portugueses. Segue-se a Danone
Sabendo-se que entre os FMCG há uma grande pressão das marcas próprias, não deixa de ser notável que duas marcas de lacticínios liderem as preferências de quem compra e selecciona os produtos que entram lá em casa: as mulheres.
De forma puramente empírica posso aventar que a consciência de qualquer Mãe, por mais espartana que seja a sua gestão do orçamento familiar, na hora de escolher produtos que o marketing associa a saúde e a crescimento, não arrisque na poupança de um rótulo da distribuição com receio que aquele leite que até saí das mesmas vacas não tenha a mesma quantidade de vitaminas e de cálcio.
Muito se especula nos tempos que correm sobre o carácter saudável do consumo de leite, sendo cada vez mais as vozes que especulam que o abuso de lacticínios em idade adulta é um comportamento de risco, muito perigoso e pouco ético. Seja como for, para crianças e para adultos menos informados, são ainda reais muitos mitos urbanos logo não me surpreende que seja mais fácil comprar arroz e massas em embalagens monocromáticas do que substituir o leite e seus sucedâneos por marcas que também dão nome a gel de banho, graxa para sapatos e detergentes.
Por outro lado, para além desta desconfiança que as marcas da distribuição ainda levantam, há que reconhecer que enquanto nas mercearias e nos produtos de limpeza a diferenciação é pormenor - entre as fibras alimentares, glutões e aromas que não cheiram a flores mas a ideais de campo e de natureza - no universo dos lacticínios, nomeadamente nos leites e nos iogurtes, marcas como a Mimosa e a Danone estão muito à frente dos seus concorrentes de linear com a multiplicação de benefícios de valor acrescentado que satisfazem necessidades que se sobrepõem à necessidade de poupar dinheiro.
Os iogurtes das marcas de distribuição estão para a Danone, como os básicos da ZARA estão para os trapinhos da Massimo Dutti: 
a diferença não está na confecção mas sim na etiqueta.
Estão por isso de parabéns as marcas que defendem a sua categoria, recriando produtos, ampliando gamas e inventando atributos, que entre sabores, texturas, bífidus e calorias, conseguem convencer os consumidores de que a diferença no preço unitário não é desperdício mas sim investimento.



terça-feira, 8 de julho de 2014

As marcas que o Brasil tem...

O quê que a Baiana tem?
Tem biquini atrevido, tem
Tem havaiana no dedo, tem
Tem roupa colorida, tem
Tem creminho no corpo, tem...

O bom do Brasil enquanto marca é que os seus atributos de cor, calor, alegria são tão vibrantes que qualquer produto que evoque paisagens luxuriantes, praias paradisíacas ou mulheres curvilíneas vende.
Portugal tenta fazer vingar o conceito de marca apostando no azeite e nos sapatos, na agricultura e indústria, num turismo de posicionamento esquizofrénico entre a melancolia sénior e a adrenalina do desporto aventura.
O Brasil exporta-se por ser bonito e sexy, 
Por exemplo, no calçado, todo o mundo conhece a marca Havaianas e suspira pelo ideal idílico que um chinelo no dedo representa. Mas o Brasil exporta outras marcas de calçado em plástico injectado (como a Melissa) a preços premium para mercados tão sofisticados como Los Angeles e Tokyo. A qualidade neste caso há-de ser um atributo intrínseco não um argumento para o marketing. As marcas de calçado que o Brasil vende são moda, mas acima de tudo são um estilo de vida.
Os brasileiros nutrem um amor efusivo pelas suas marcas e uma paixão entusiasta pelas marcas dos outros. Trata-se de uma nação consumista, com um forte crescimento económico, muito atraído pela inovação tecnológica e pelo universo "estrangeiro".
Nós por cá investimos em campanhas que evocam o orgulho no "made in Portugal" quando tal patriotismo deveria ser inato. Eles por lá, entre a simpatia genuína e o sorriso treinado em cursos intensivos de vendas, defendem como podem a indústria nacional, disciplinado com inteligência o investimento estrangeiro.
Os portugueses nasceram com uma melancólica carga genética cantada no fado. Os brasileiros nascem felizes só porque sim, num pais onde são ainda gritantes as diferenças entre classes sociais, com uma população imensa que não domina a palavra escrita, uma também imensa classe média em ascensão e uma classe alta mais pequena, mesmo assim muito relevante, com acesso a tudo o que no mundo há de melhor, formação nos Estados Unidos ou nas melhores universidades europeias, viagens frequentes para compras em Paris ou em Nova Iorque, um poder de compra que é um deleite para qualquer marca de luxo que se preze.
O know-how em marketing que aos brasileiros parece surgir por hereditariedade aliado aos investimentos multimilionários que fazem as marcas que querem estar neste mercado em crescimento, fazem do Brasil um case study dinâmico a que vale a pena estar atento.
Mesmo com tantas diferenças étnicas e culturais o Brasil mantém-se unido enquanto nação apoiado em básicos como o futebol, o samba ou a magia negra.
À hora a que escrevo este post o Brasil está fóra do Mundial. Só espero que este golpe no orgulho nacional não detone o barril de pólvora adormecido entre as praias de postal, as roças e as favelas...





quinta-feira, 12 de junho de 2014

O Brasil é uma marca poderosa!

Não é preciso ser nenhum guru ou visionário para perceber que o Brasil é uma marca poderosa.
O Brasil tem como principais atributos as praias paradisíacos, a luxuriante Amazonia, a alegria contagiante do seu povo, a musicalidade do samba... argumentos universais que identificam uma cultura colorida, reconhecida como única e exclusiva pelos próprios e pelos outsiders.
Sublinho aqui o facto de o povo brasileiro ter esta consciência colectiva em relação aos traços que o definem como raça singular.
É claro que o Brasil tem os seus defeitos e a população na sua maioria não é sequer bonita, muito menos culta ou interessante. Mas enquanto que a nós nos calha o rótulo de mulheres com bigode, às cariocas agarra-se o deslumbramento da bunda no biquini e do rebolar sensual.
É uma questão de marketing genético (inventei este termo aqui), uma propensão para a auto-avaliação positiva, característica que não é comum nos patrícios, aqueles que se queixam da vida, trabalham mais do que se divertem, agarrando-se às tragédias e fatalismos tão bem cantados no fado.
A organização do Mundial de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016 elevam o orgulho da nação brasileira a uma escala galáctica, reforçando este sentimento de sobranceria sem arrogância, que distingue um povo que temos como feliz, generoso e simpático.
Para além destas apreciações com o seu quê de subjectivo, o facto mais relevante na análise do potencial do Brasil enquanto marca é a força da sua economia.
Estes eventos internacionais alavancam os sectores da construção e do turismo, e todos os negócios que gravitam em seu redor, fomentando o emprego e assegurando a prosperidade económica de uma sociedade consumista, que por tradição vive em festa cada dia, tendo por isso pouca apetência para a poupança ou para a parcimónia
Aos marketeers interessa saber que o Brasil é o quinto maior mercado on-line (cerca de 79 milhões de pessoas com acesso à internet), com mais telemóveis do que habitantes e uma apetência notável para novas tecnologias e social media.
Este ideal de Brasil que tem estatuto de marca é o resultado de uma estratégia desenhada para o país na década de 50, que se foi cumprindo de forma lenta mas consistente entre crises económicas, escândalos políticos, caciquismos e corrupção.
A construção da marca Brasil começou com Juscelino Kubitschek, Presidente entre 1956 e 1961, o homem que fez o país progredir 50 anos em 5 através da atracção de investimento directo estrangeiro (nomeadamente da indústria automóvel) e que encomendou a Oscar Niemeyer a concepção de uma capital avant-garde no impenetrável centro do Brasil com o intuito de desmistificar definitivamente a ideia de uma nação de bananeiras e de praias.
Contudo, para muitos foi o Campeonato do Mundo do Futebol de 1958 que fez despoletar o orgulho próprio da nação. Com um Campeonato do Mundo prestes a estrear a questão que fica é "até onde pode ir o Brasil se conquistar a cobiçada taça?"