Há uns anos surgiu a designação de human branding para classificar este processo de gravação que mais não faz do que queimar a pele de um ser humano vivo deixando sobre a derme uma cicatriz perpétua consentida.
Não sou fã desta tendência e imagino que muitas das pessoas que voluntariamente se marcam para homenagearem algo ou alguém invariavelmente se arrependem com o tempo, quer porque os gostos mudam quer porque as pessoas, as coisas e as memórias passam, perdendo o protagonismo ou a significância que um dia tiveram.
Seja como for, fazer uma tatuagem sobre a pele pode ser equiparado a um acto de marketing:
1. Uma tatuagem identifica o seu portador
Qualquer tatuagem, mesmo que escolhida em catálogo e repetida pelo artesão vezes sem conta, é marca única, pessoal e intransmissível, indissociável daquele que a exibe.
Nos produtos, as marcas exercem exactamente a mesma função
diferenciando sucedâneos através de um nome tatuado numa embalagem com identidade própria.
2. Uma tatuagem tem uma carga emocional simbólica
Nem todas as tatuagens são feitas por amor, para honrar um ente querido ou para perpetuar uma paixão que se acredita eterna (que o diga a Angelina Jolie!). Sucede porém que grande parte das pessoas atribuem um qualquer significado emocional às "borboletas, caracteres e cartoons" que tatuam na pele, fazendo questão de revelar aos outros que a marca que elegeram tem afinal profundidade e sentido.
Também nas marcas a existência de uma história, de um princípio com enredo
e de um final conclusivo é uma fonte de ligação do consumidor ao produto,
um laço emocional que eventualmente gera vendas, fideliza e faz os stakeholders felizes.
3. Uma tatuagem gera uma afinidade com um grupo
O grupo primário de identificação será o dos tatuados versus o dos comuns mortais que se limitam a vestir a pele que Deus lhes deu. Quem faz uma tatuagem (ou um piercing) sente-se como uma espécie de iluminado, de rebelde, de infant terrible, falando dessa sua predisposição para se auto-mutilar como um acto de coragem ou de rebeldia. Algumas tatuagens vão mais longe e identificam pessoas de um gang ou grupo, conotação esta nem sempre positiva.
As marcas são identificadoras de tribos, de estratos sociais, de lifestyles, de atitude perante a vida, de poder económico e de estatuto. Exibimos marcas para nos mostrarmos como somos,
melhor dizendo, esperamos que as marcas que usamos nos definam.
Há quem faça branding através das marcas que veste, dos gadgets que compra, dos automóveis que guia ou do colégio dos filhos. Há quem sublinhe tudo isto com uma assinatura na pele, que ficará agarrada à personalidade do portador para todo o sempre ou até à cirurgia reconstrutiva...
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