terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Negócios baseados na fé

Não, não vou falar das Nossas Senhoras fluorescentes que se vendem em Fátima.
Vou falar dessa coisa fabulosa que são as empresas que têm fé no seu negócio, que acreditam que o produto ou serviço que vendem é um milagre capaz de mudar a indústria, alterar os hábitos de consumo, desafiar o status quo e os pressupostos que a concorrência toma como factos.
Uma empresa com fé não é apenas uma empresa inovadora.
Muitas das inovações que por aí se rezam são meros "santos de pau oco", falsas profecias, baseadas em credos duvidosos que facilmente se esfumam ou desmontam.

O relatório World's Most Innovative Companies está recheado de exemplos capazes de converter cépticos em crentes. Segundo este relatório, as empresas cuja "fé move montanhas" e que por todo o mundo convertem seguidores, têm em comum algumas best practices em que toda a empresa com a condição de mortal se deve inspirar:
#1 Esperar o Excepcional
O Google, a primeira empresa da lista, procura a excelência em tudo o que faz. 
Esta frase parece um daqueles soundbytes que lemos na missão de muitas empresas mas a verdade é que a Google concentra-se nos pequenos detalhes que podem fazer a diferença não naqueles objectivos grandiosos e eloquentes que só ficam bem estampados numa t-shirt.

#2 A inovação é o momento 
Consta que o projecto das lâmpadas LED esteve numa gaveta na Phillips durante 50 anos mas acabou por sair para o mercado em 11 meses quando alguém lhe fixou um prazo.  A inovação numa empresa não surge num "momento aha!", fruto de um sonho, visão ou flash de inspiração divina.
A inovação treina-se, sistematiza-se, obedece a procedimentos, a regras e a tarefas.

#3 O DINHEIRO é iMpORTaNtE
Muitas das excelentes ideias não são ideias de negócio, isto é, não são auto-sustentáveis.
É incontável o número de pessoas com projectos brilhantes que não passam de fantasias completamente inviáveis. Os bons negócios pressupõem que pessoas reais paguem dinheiro a sério por um determinado produto ou serviço. É claro que existem ideias geniais que se converteram em negócios financiados através das receitas de publicidade, como o Facebook, mas são apenas as excepções que confirmam a regra...
#4 A sustentabilidade não é apenas uma coisa bonita
Muitas empresas usam a etiqueta "amiga do ambiente" ou "ecológica" ou "verde" como uma descarada mentira. Sucede porém que o que distingue as empresas bem sucedidas são factores como eficiência energética, energias alternativas e reciclagem.
A Levi Strauss, a dinossáurica empresa de jeans produz hoje 10% das suas roupas em tecidos recicláveis mas tem como objectivo chegar aos 100%. As frotas da FedEx e da Coca-Cola incorporam já uma elevada percentagem de híbridos.

#5 O recurso a talento a uma ESCALA GLOBAL aumenta as possibilidades 
Muitas empresas externarlizam serviços para a Índia ou para África beneficiando não só de mão-de-obra qualificada ao preço de amendoins mas também de novas formas de olhar para o negócio e de pensar em soluções para o dia-a-dia.

#6 A paixão tem de ser VALORizada 
O crowdsourcing, isto é, a procura de público genuinamente interessado não de meros investidores, fez crescer empresas como a GoPro, convertendo um produto que começou por ser uma excentricidade de atletas radicais numa utilidade para pais de família cautelosos e para crianças em triciclo.

#7 O CONFLITO é um supérfluo 
Algumas empresas cultivam um clima de beligerância que decorre de uma cultura oldfashioned e/ou da personalidade conflituosa do líder (falei sobre isto em "Na bola como na vida... há líderes que não se aguentam"). Noutras, o domínio de sindicatos, de lobbies ou de small politics funcionam como força de bloqueio. 
Quem tem fé está acima disto. As empresas têm de acreditar que o seu negócio é mais forte do que estas ameaças e pecadilhos. 
Para ser grande há que ser inteiro...
    #8 Clientes FELIZes fazem felizES as EMPRESAS 
As empresas vendem soluções para resolver os problemas das pessoas.
Apenas as empresas que conseguem apresentar essas soluções em tempo útil a um preço justo fazem felizes os seus clientes.
Clientes felizes voltam e divulgam, aumentando assim o resultado da empresa e consequentemente a felicidade da organização.

    #9 O software é mais importante que o HARDWARE 
Apesar de o i-phone ser esteticamente muito bonito e de o design ser um dos argumentos competitivos que melhor diferencia a Apple, a verdade é que o que converte tantos consumidores em fiéis seguidores é o carácter inovador das duas aplicações.

#10 O sufixo "made in China" pode ser uma VANTAGEM 
Não obstante as questões humanas e o recurso a mão-de-obra de qualificação duvidosa para produção em massa de produtos cuja qualidade é também duvidosa, a verdade é que só os parvos podem continuar agarrados ao estereótipo da China dos "bazares de 1€". Hoje a China não é só o país dos plásticos e dos plágios. São inúmeras as empresas chinesas com avanço tecnológico incomparável logo há que olhar para este país com menos desconfiança e mais respeito (dentro do género).

#11 Existe uma APPeconomia liderada pela Apple  

Esta APPeconomia é liderada pelos jogos. O Candy Crush Saga gerou quase 1 milhão de dólares por dia! Não obstante a empresa que criou o jogo não entra na lista da World's Most Innovative Companies simplesmente porque tardou uma década a produzir um best-seller não existindo confiança no mercado de que seja capaz de manter a cadência. 
A Apple deixou de entregar o desenvolvimento e comercialização de Apps a terceiros para se dedicar a este negócio que em 2013 rendeu 10 biliões de dólares em vendas na App Store!!!! 

#12 DREAM BIG é um requisito não uma vaidade   
Já é verdade que os carros falam. Já é verdade que carros utilitários com mensalidade inferior a um salário mínimo lêem mails e mensagens de texto. Quem sonhou um dia com estas possibilidades foi um louco ou um visionário, alguém que não pensou pequeno e que concebeu ser possível trazer um pouco do futuro que vende Hollywood para a nossa pacata realidade.
O mundo actual está repleto de exemplos como estes, sendo que o pensar em grande se aplica a coisa tão pequenas como criar uma intranet numa empresa com pouca gente ou agradecer a cada cliente da empresa com um presente personalizado.




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