terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Me, myself and I - a história continua...

Selfie foi a palavra do ano no dicionário de Oxford.
A palavra que se traduz facilmente como auto-retrato - a obra que muito pintores elaboraram como exercício egocêntrico - faz hoje parte do nosso quotidiano tal a profusão de fotografias de eu's que inundam os social media.
Indepentemente das implicações narcisistas que esta exibição do ego enquadra, a verdade é que a partilha de fotos em certos locais e/ou momentos é em muitos casos uma fuga à solidão, uma forma de sociabilização, uma opção que permite manter no nosso dia-a-dia aqueles que nos são queridos mas que não estão necessariamente próximos.
Para além destas vantagens quase líricas surge o exibicionismo barato, a vaidade sem vergonha e a estratégia publicitária de muitas celebridades, mas cada um fará o filtro que quiser a esta invasão de fotos instantâneas.
A esta moda ou fobia não escapa ninguém, mesmo as figuras que o estatuto de públicas coloca constantemente sobre as objectivas de mirones.
Agora os paparazzi fotografam os famosos a auto-retratarem-se, o que não deixa de ser uma ironia caprichosa destes tempos modernos.
A indústria da partilha de selfies é actualmente bilionária.

O marketing rendeu-se a esta tendência e existem já imensas campanhas baseadas em fotografias de consumidores com um espontâneo sorriso nos lábios.
Estima-se que no ano de 2014 sejam tiradas 250 biliões de selfies o que transforma esta tendência num fenómeno que não pode ser ignorado.
Entramos na era de invasão permitida da privacidade, uma forma extraordinária de recolha de dados e de pesquisa, num contexto em que o marketing se faz para cada indivíduo, o tal ser humano que ocupa o lugar do consumidor anónimo e massificado pelas estatísticas para quem se pensavam produtos e marcas.
Na prática, as estratégias de marketing actuais têm muitas ilações a retirar do conceito de selfie:
1. O mais importante é o ângulo
Quem se publica dificilmente escolhe o primeiro auto-retrato. O autor de si próprio ensaia a pose e testa perspectivas, de forma a partilhar com o público a mensagem perfeita. Assim devem comunicar as empresas com o seu alvo.
2. A partilha deve ser pessoal
Mesmo para as fotos que se tornam virais, que passam das redes de amigos para outros amigos até serem partilhadas entre milhares de estranhos, há um ponto comum a grande parte das selfies que retemos: o contacto visual. Em regra quem se fotografa fixa directamente a objectiva. Por mais inconsciente que seja o gesto, na prática o seu efeito não é inconsequente. O facto de termos um par de olhos a fitarem os nossos confere um contacto pessoal à fotografia, veicula emoções, gera cumplicidade. As empresas têm de desenvolver esta capacidade de comunicar com o alvo como se a mensagem fosse especificamente direccionada e como se cada consumidor fosse um ser único e extraordinário.
3. O resultado final é o produto de uma série de erros
Nas selfies prevalece o método da tentativa e erro. A técnica aperfeiçoa-se e existem apps que melhoram instantaneamente os resultados, mas o autor dos seus próprios retratos elimina-se e rejeita-se muitas vezes antes de selecionar uma selfie como publicável. Assim devem ser as estratégias das empresas: tentadas e testadas incontáveis vezes antes de colocadas em prática. Este método tem contudo de ser célere sob prejuízo de entre testes e remakes se perderem as melhores oportunidades...
4. Os resultados compensam o esforço
O êxito de uma selfie é imediatamente mensurável pelo número de "gostos" e de "comentários". É claro que o inverso acontece e quem se expõe sujeita-se sempre a escrutínio. O selfying já deu origem a uma nova forma de bullying, com vítimas traumatizadas e predadores perversos. De toda a forma, comunicar com o público através dos social media tem como vantagem este barómetro instantâneo, uma fonte inesgotável e inestimável para aperfeiçoamento.



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