domingo, 23 de fevereiro de 2014

De Murphy a Pessoa

Esta foi uma daquelas semanas à Lei de Murphy!
Não que eu seja supersticiosa, sequer pessimista ou com espírito de Calimero. Mas a verdade é que nestes últimos dias tudo o que podia correr mal correu pessimamente: desde o pão a cair ao chão com o lado da manteiga para baixo, ao computador a crashar na fase final de uma complexa análise de dados, culminando em problemas com o carro, com um curto-circuito provocado pelo forno e com uma fuga de água irreparável na "bicha" do chuveiro.
Presumo que estas fases de azar sejam cíclicas como o são a moda e a economia.
Num dado momento que não se explica e que nem sempre é detectável entra um grãozinho de areia na engrenagem e, de repente, tudo se começa a desmoronar numa sucessão interminável de agoiros e de azares.
Para quem acredita nessas coisas da lei da atracção, a Lei de Murphy funciona como pólo para tudo o que é negativo. Não é só uma coisa ou outra a correr mal. Para aqueles que são obcecados com planeamento e gestão de risco, o que acontece quando a Lei de Murphy nos apanha é que se antecipamos que há quatro factores cuja ocorrência nos pode afectar o que a vida nos devolve é a conjugação destes acrescidos de um quinto acontecimento que nem sequer tínhamos previsto.
Quando a vida começa a correr mal é difícil encontrar o antídoto para o enguiço.
A solução pode ser um fim-de-semana de sono, uma noite de farra, um par de horas no ginásio ou simplesmente adoptar como táctica o optimismo moderado de forma a reagir com naturalidade aos maus momentos.
O Sr. Murphy era um major na US Air Force, não um personagem ficcionado, que viveu na década de 40, tendo como missão o teste de modelos experimentais no âmbito da engenharia militar. Já se sabe que para quem faz experiências o "método da tentativa e erro" faz parte do dia-a-dia mas este major fez do jogo das probabilidades uma espécie de sina metodológica.
Apesar de imaginar que o Murphy que deu nome à Lei não fosse propriamente a pessoa mais interessante para convidar para um jantar, admito que o sermos capazes de antecipar ameaças ou desgraças nos permite reagir de forma pragmática aos reveses que nos fustigam.
Na prática, a evolução das espécies ainda não retirou da nossa genética uma certa forma primitiva de reagir ao inesperado: o coração dispara, a respiração altera-se, ficamos quartados na capacidade de raciocinar de forma objectiva e célere. As acções tomadas sob impulso ou instinto nem sempre são lógicas. As consequências podem por isso ser uma catástrofe.
Quando a catástrofe gera catástrofe eis que começa a funcionar a Lei de Murphy.
Se nos treinarmos para o imprevisto, isto é, se construirmos os cenários mentais que ficam para lá do plano B, o nosso cérebro prepara-se emocionalmente para responder com método a cada um dos acidentes e cataclismos.
É claro que a antevisão sistemática da desgraça pode converter-nos no maior dos pessimistas, completamente avesso ao risco, logo incapaz de sair do sítio. A inteligência emocional está em ser capaz de equilibrar alguma prudência pragmática com a vontade de empreender, acreditando que os nossos projectos são viáveis e possíveis, ainda que para atingir o resultado esperado o caminho seja sinuoso e repleto de percalços não uma estrada asfaltada em progressão geométrica.
Para chegarmos longe termos de sonhar alto, mas se não anteciparmos que a nossa existência decorre num mundo real e não num plano idealizado, morremos antes de chegar à praia. Como dizia Pessoa, necessitamos das pedras do caminho para construirmos o nosso castelo.


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