Começo por clarificar o conceito de paixão que aqui utilizo como aquele sentimento de fascínio em relação a determinada pessoa. Esse sentimento pode evoluir para algo mais forte ou esfumar-se com o tempo.
Há marcas com as quais desenvolvemos relações deste tipo.
Algumas são in&out's, uma espécie de paixão de Verão, coisa efémera sem sequela que até nos embaraça em retrospectiva. Outras vão ficando, instalam-se na nossa vida, fundem-se com a nossa personalidade, são veículo de transmissão do que somos e do que pensamos, eventualmente do que aspiramos ser ou do que queremos que os outros pensem sobre nós.
As empresas cuja marca é um activo determinante gastam fortunas para tentar manter a chama acesa. Mas afinal, o que nos faz apaixonar por uma marca?
Um estudo publicado no Journal of Consumer Psychology concluiu que a ligação que uma pessoa estabelece com uma marca é tão mais intensa quanto menor a distância psicológica entre o produto e o consumidor. Ficamos apaixonados pelas marcas a partir do momento em que as vemos como um prolongamento de nós próprios.
Como é evidente, a paixão por uma marca não se desenvolve a partir dos seus benefícios funcionais.
Entre seres humanos, se a paixão tivesse como ponto de partida a funcionalidade praticamente qualquer parceiro era elegível. Os critérios que determinam a nossa escolha têm que ver, em primeiro lugar, com a experiência sensorial, com o que vemos, cheiramos, tocamos, provamos e sentimos. Quando nos apaixonamos por uma pessoa gostamos do que ela é, como um todo - pacote, conteúdo e imagem -, mas acima de tudo do que ela nos faz sentir e/ou das reacções que provocamos nos outros quando temos essa pessoa ao nosso lado. Por mais cruel que possa ser a afirmação, de facto a opinião dos outros conta quando estamos a falar da paixão...
Tudo isto se resume a uma palavra: prazer.
O prazer da paixão não é necessariamente sexual. A conquista por si só pode ser mais orgásmica do que a consumação.
Nos produtos sucede o mesmo: a compra pode dar-nos tão ou mais prazer do que o consumo. A mera propriedade, ou a ostentação, podem ser as derradeiras fontes de satisfação, independentemente do beneficio efectivo que aquele produto promete e cumpre.
Um exemplo fácil para explicar esta paixão é o i-phone da Apple.
Apesar de nos dias que correm a funcionalidade de um telemóvel ser um pouco difícil de sintetizar, se nos focarmos no básico que é comunicar há milhares de modelos que satisfazem esta necessidade.
Podemos reduzir o painel através de requisitos técnicos como os GB de memória ou os pixels da câmara, mas mesmo assim ficamos certamente com uma mão cheia de opções.
O que nos leva a eleger o i-phone - e ao que me parece a relação é do género "quem vai não volta" - é o status que a marca nos confere, a sensação de pertencer a um clube privado do qual só faz parte gente gira, famosa e hype.
Os produtos da Apple têm um design único, simples mas sofisticado, têm uma utilização fácil e exclusiva cada vez mais copiada. Mesmo que a concorrência imite e até supere estas vantagens enumeráveis não conseguem ultrapassar as sensações inumeráveis que a Apple proporciona. Ter um i-phone, um i-pad, um MacBook, por inerência ficar viciado na marca e nas suas apps particulares, é sinal distintivo que nos eleva o patamar.
Amamos as marcas que garantem este retorno emocional, a certeza de que a sua presença no nosso património nos recompensa com paixão à nossa volta, quanto mais não seja porque a marca nos faz gostar de quem somos, ou porque permite que nos aproximemos da personagem que gostávamos de ser, produzindo uma uma adrenalina feliz que se chama amor próprio.
O conceito não é novo e fiquei surpreendida por este endereço ainda estar disponível. Afinal o óbvio nem sempre é uma evidência para o comum dos mortais. Confirma-se que as boas ideias, por mais banais e banalizadas, podem sempre ser usadas, recicladas, convertidas em tesourinhos deprimentes ou elevadas ao estatuto de vintage.
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