quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Porque nos apaixonamos por uma marca?

Começo por clarificar o conceito de paixão que aqui utilizo como aquele sentimento de fascínio em relação a determinada pessoa. Esse sentimento pode evoluir para algo mais forte ou esfumar-se com o tempo.
Há marcas com as quais desenvolvemos relações deste tipo.
Algumas são in&out's, uma espécie de paixão de Verão, coisa efémera sem sequela que até nos embaraça em retrospectiva. Outras vão ficando, instalam-se na nossa vida, fundem-se com a nossa personalidade, são veículo de transmissão do que somos e do que pensamos, eventualmente do que aspiramos ser ou do que queremos que os outros pensem sobre nós.
As empresas cuja marca é um activo determinante gastam fortunas para tentar manter a chama acesa. Mas afinal, o que nos faz apaixonar por uma marca?
Um estudo publicado no Journal of Consumer Psychology concluiu que a ligação que uma pessoa estabelece com uma marca é tão mais intensa quanto menor a distância psicológica entre o produto e o consumidor. Ficamos apaixonados pelas marcas a partir do momento em que as vemos como um prolongamento de nós próprios.
Como é evidente, a paixão por uma marca não se desenvolve a partir dos seus benefícios funcionais.
Entre seres humanos, se a paixão tivesse como ponto de partida a funcionalidade praticamente qualquer parceiro era elegível. Os critérios que determinam a nossa escolha têm que ver, em primeiro lugar, com a experiência sensorial, com o que vemos, cheiramos, tocamos, provamos e sentimos. Quando nos apaixonamos por uma pessoa gostamos do que ela é, como um todo - pacote, conteúdo e imagem -, mas acima de tudo do que ela nos faz sentir e/ou das reacções que provocamos nos outros quando temos essa pessoa ao nosso lado. Por mais cruel que possa ser a afirmação, de facto a opinião dos outros conta quando estamos a falar da paixão...
Tudo isto se resume a uma palavra: prazer.
O prazer da paixão não é necessariamente sexual. A conquista por si só pode ser mais orgásmica do que a consumação.
Nos produtos sucede o mesmo: a compra pode dar-nos tão ou mais prazer do que o consumo. A mera propriedade, ou a ostentação, podem ser as derradeiras fontes de satisfação, independentemente do beneficio efectivo que aquele produto promete e cumpre.
Um exemplo fácil para explicar esta paixão é o i-phone da Apple.
Apesar de nos dias que correm a funcionalidade de um telemóvel ser um pouco difícil de sintetizar, se nos focarmos no básico que é comunicar há milhares de modelos que satisfazem esta necessidade.
Podemos reduzir o painel através de requisitos técnicos como os GB de memória ou os pixels da câmara, mas mesmo assim ficamos certamente com uma mão cheia de opções.
O que nos leva a eleger o i-phone - e ao que me parece a relação é do género "quem vai não volta" - é o status que a marca nos confere, a sensação de pertencer a um clube privado do qual só faz parte gente gira, famosa e hype.
Os produtos da Apple têm um design único, simples mas sofisticado, têm uma utilização fácil e exclusiva cada vez mais copiada. Mesmo que a concorrência imite e até supere estas vantagens enumeráveis não conseguem ultrapassar as sensações inumeráveis que a Apple proporciona. Ter um i-phone, um i-pad, um MacBook, por inerência ficar viciado na marca e nas suas apps particulares, é sinal distintivo que nos eleva o patamar.
Amamos as marcas que garantem este retorno emocional, a certeza de que a sua presença no nosso património nos recompensa com paixão à nossa volta, quanto mais não seja porque a marca nos faz gostar de quem somos, ou porque permite que nos aproximemos da personagem que gostávamos de ser, produzindo uma uma adrenalina feliz que se chama amor próprio.



Sem comentários:

Enviar um comentário