Sempre que revejo amigos tenho uma sensação assustadora: a certeza de que estamos a ficar mais velhos, a dúvida de que estaremos a ficar mais sábios.
Começamos a trabalhar na década de noventa, numa altura em que pouco se falava em desemprego, alguns de nós com salários milionários que não se pagam hoje, catapultados para um estrelato de consultores ou gestores em multinacionais num contexto em que o mercado crescia a dois dígitos e os negócios prosperavam.
Hoje somos desempregados, empregados frustrados, emigrantes, empresários por necessidade. Estamos assustados, desmotivados, perdidos. Disseram-nos que a vida começa aos quarenta mas o sentimento dominante é de que estamos acabados.
A expressão "a vida começa aos quarenta" é o título de um livro de auto-ajuda publicado em 1932 pelo psicólogo Walter Pitkin. Contudo, a ideia de que algo de mágico acontece após esse marco não é propriamente de sua autoria. O reconhecido filósofo Arthur Schopenhauer escreveu um dia que os primeiros quarenta anos de vida dão-nos texto, os restantes trinta dão-nos os comentários.
Supostamente os quarenta anos correspondem à nossa meia-idade, ao período da vida em que cremos que realizamos grande parte dos nossos objectivos, estamos emocionalmente estáveis, temos casa, família e uma carreira consolidada. Eventualmente isto foi assim para os nossos pais.
Hoje aos quarenta ainda nos sentimos jovens, provavelmente estamos em melhor forma do que estávamos aos vinte, ou pelo menos exercitámos-nos mais, ainda pensamos em mudar de emprego, de profissão, voltamos a estudar, não perdemos a mania de ciclicamente questionar o status quo, continuamos dispostos a fazer um reset, a derrubar os dados adquiridos, a reciclar o velho e o antigo, a mudar de casa, de cidade ou de país, a soltar amarras e a apaixonar-nos.
Recentemente foi publicado um estudo que concluí que os sessenta são os novos quarenta. Comenta o orientador da pesquisa, o Dr. Oliver Robinson da University of Greenwich, que a tal crise da meia-idade que nos faz questionar a nossa existência é despoletada pela morte dos nossos contemporâneos, o que felizmente acontece cada vez mais tarde.
Até sermos confrontados com a nossa mortalidade somos capazes de fixar objectivos, acreditando sem grandes dúvidas que temos muito caminho para andar.
A crise que nos afecta hoje é essencialmente conjuntural. O facto de termos quarenta é apenas um detalhe.
Vemos os nossos amigos partir, não porque morrem mas porque têm de procurar trabalho lá fora. Se os nossos amigos estão a definhar não é porque o seu esqueleto está velho mas porque a sua vida tal como a programaram entrou em colapso.
Ter quarenta no ano da graça de 2014 é uma prova de endurance.
Estamos numa época em que valemos pela nossa força e resistência, pelo nosso esforço e perseverança, pela energia que emanamos que de alguma forma nos mantém motivados e é exemplo para os demais.
Se temos quarenta e para todos os efeitos não somos uns miúdos temos de nos portar como mulheres e homens, como seres humanos que em circunstâncias extremas revelam capacidades sobrenaturais.
Enquanto tivermos saúde, enquanto não nos sentirmos limitados ou frágeis, continuamos a ser demasiado novos para entrincheirarmos na vala dos acomodados. Provavelmente estamos menos optimistas e crentes mas somos certamente mais competentes e audazes.
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