segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

... e se o FaceBook acabar?

Um estudo recente da Universidade de Princeton afirma que o Facebook vai perder 80% dos utilizadores até 2017. 
Não sei se acredito. 
Alguém concebe o mundo sem este universo paralelo de feeds?
Já há uns anos se começou a especular que muitos adolescentes estavam a sair do FaceBook para escapar ao controle parental. Este facto parece-me lógico. De facto é estranho ver no mural dos putos os seus pais e os amigos dos pais a comentarem publicações daquele que ainda vêem como criança, deixando piadinhas e graçolas que invariavelmente evocam o tempo das papas e das fraldas. Compreende-se que um adolescente com borbulhas não queira ser tratado pelo diminutivo nem recordado da cor, extensão e cheiro dos seus cocós ou das birras que fazia quando lhe escondiam a chucha.
De igual forma, evito "amigar" com os filhos dos meus amigos, que me vão conhecendo como uma adulta porreira que até vai a festivais, porque não quero que descubram que afinal tenho momentos em que sou tão pindérica que até partilho covers em bossa nova melancólica e mensagens descartáveis do Dalai Lama.
Creio que o FaceBook veio substituir na vida de muitas pessoas aquilo que era a ida ao café ou a um bar. No meu caso, que estou migrada na minha pátria e tenho alguns amigos emigrados, o FaceBook permite que vamos mantendo o contacto, sabendo em tempo real que a amiga que está no Kuwait foi jantar sushi, que o amigo que vive no Porto acabou de correr 6 kms em 38 minutos, que a amiga do Canada teve um bebé com três quilos e meio, e que a que vive no Rio está com um bronze que não se aguenta! 
O facto de nos mantermos unidos através da rede faz mais pela nossa amizade do que a vida real alguma vez permitiria. No mundo do lado de cá as amizades que fazemos enquanto crescemos, casamos e nos divorciamos, por mais fortes que sejam numa etapa, tendem a dissipar-se por razões várias. Algumas perdem-se por desentendimentos que nenhuma das partes consegue já contextualizar outras meramente por preguiça e pela inércia que empurra o "tal cafézinho" e "aquele jantar" para um futuro que não consta da agenda.
FaceBook fez-me reencontrar amizades perdidas, reconciliar com primos, descobrir afinidades e fortalecer laços com mais pessoas do que as que cabem na minha sala. Tive alguns dissabores e desilusões mas não tão graves que me façam questionar a ética desta rede social ou desenvolver teorias da conspiração. Em retrospectiva, desde que aderi ao FaceBook tive mais surpresas boas, nomeadamente o perceber que a minha existência faz sentido na vida de muitas pessoas e que alguns amigos que a virtualidade tornou íntimos são seres humanos maravilhosos.
Com o FaceBook conhecemos melhor quem gravita na nossa órbita. Não falo da persona fantasiada que alguns constroem como alter-ego, mas da pessoa real que se revela no que escreve, no que ouve e no que partilha.
Os adolescentes que preferem hoje Twittar porque não se querem cruzar com cotas, mais cedo ou mais tarde vão voltar a este imenso bar onde tantos adultos páram para tomar um copo.
A minha Mãe que tem mais de setenta anos tem conta no FaceBook
Imagino que os amigos que agora tenho vão envelhecer aos meus olhos em fotos do Instragam. Daqui a muitos anos vamos partilhar fotos de netos e de placas dentárias, fazendo humor sobre próteses e medicamentos, próstatas e algálias.
Por mais tétrico que pareça o cenário, que assim seja! ... que é sinal que ainda por cá andamos...



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