quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Na bola como na vida... há líderes que não se aguentam!

Antes de mais esclareço que não gosto nada, mesmo nada de futebol. O meu desinteresse é tanto que nem sequer sou capaz de vibrar quando vejo jogar Portugal. Melhor dizendo, não sou sequer capaz de assistir a um jogo da selecção.
Nos dias que correm contudo, é impossível escapar aos bombardeamentos de informação desportiva, nomeadamente aos domingos e segundas à noite, com vários canais a exibirem debates em regime de novela mexicana, com filósofos do suponhamos e do convenhamos, teóricos da bola e do esférico, intelectuais de vão de escada que fazem estudos da análise e diagnósticos do prognóstico, o rescaldo do caldo entornado, a antevisão da jornada ou do raio que o parta, a antecipação da polémica e a medição da força anímica, com vaticínios sobre previsões metereológicas, mapas astrológicas e dicas para o euro-milhões.
Este fim-de-semana* foi impossível não ouvir o gordinho da voz radiofónica a reclamar uma vez mais da má sorte que o persegue, num estilo que oscila entre uma versão dura do Calimero e uma versão branda do Stallone.
O tipo de liderança que pratica o Bruno Carvalho, com as virtudes e falhas de qualquer outra, promove um espírito de vitimização que não se aguenta.
Começo pelas vantagens para que não me tomem por falaciosa.
O rapaz chegou a um clube completamente desintegrado e foi eficaz no árduo trabalho de bricolage de juntar e colar as peças.
(Não conheço o suficiente da história para contextualizar a vitória deste homem, que me parece que ganhou apenas por ser o menos mau dos fracos, mas sei do que ouço que o Sporting passou os últimos tempos a coleccionar derrotas e a fornecer a punch line para muitas anedotas).
O Bruno Carvalho assumiu que a má performance quase crónica da equipa se devia a uma conspiração nacional que descaradamente os prejudicava e diminuía, não à pouca qualidade dos jogadores, à falta de motivação ou à ausência de táctica. Este tipo de desculpas e de argumentos caí bem aos que não têm justificações lógicas e desenvolve um espírito de equipa do "nós, os coitadinhos" - não, "nós, os bons" ou "nós, os invencíveis" - que fomenta um sentimento de grupo isolado e beligerante.
A grande vantagem do Bruno Carvalho é que uniu a equipa. Na sequência do espírito de coesão que instalou reergueu a dignidade do clube e fez as pazes com a massa associativa (linguagem futebolística pura...).
Em contrapartida, ao fomentar a clivagem entre o "nós" e "eles" instigou um clima de hostilidade que mais cedo ou mais tarde lhe vai ser atirado à cara quando o acumular de derrotas já não puder ser justificado com as regras mafiosas do sistema.
Nas empresas há líderes assim: o Director Comercial que faz com que a sua equipa se rebele contra o Marketing; o Director de Marketing que declara guerra aberta ao Director de Produção; o Director Financeiro que vende a alma aos senhores do Conselho de Administração denunciando que todos os outros departamentos actuam em conluio para levar a empresa à falência...
Equipas assim podem funcionar relativamente bem no seu casulo, mas inevitavelmente boicotam-se a si próprias por deliberadamente ignorarem que as empresas, como tudo na vida, funcionam como um sistema.
No man is an island... e é um péssimo capitão aquele que pensa que lhe bastam os seus marinheiros para chegar a bom porto...


*O post vem tarde mas a falta de tempo livre é dramática na última semana do mês

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

... e se o FaceBook acabar?

Um estudo recente da Universidade de Princeton afirma que o Facebook vai perder 80% dos utilizadores até 2017. 
Não sei se acredito. 
Alguém concebe o mundo sem este universo paralelo de feeds?
Já há uns anos se começou a especular que muitos adolescentes estavam a sair do FaceBook para escapar ao controle parental. Este facto parece-me lógico. De facto é estranho ver no mural dos putos os seus pais e os amigos dos pais a comentarem publicações daquele que ainda vêem como criança, deixando piadinhas e graçolas que invariavelmente evocam o tempo das papas e das fraldas. Compreende-se que um adolescente com borbulhas não queira ser tratado pelo diminutivo nem recordado da cor, extensão e cheiro dos seus cocós ou das birras que fazia quando lhe escondiam a chucha.
De igual forma, evito "amigar" com os filhos dos meus amigos, que me vão conhecendo como uma adulta porreira que até vai a festivais, porque não quero que descubram que afinal tenho momentos em que sou tão pindérica que até partilho covers em bossa nova melancólica e mensagens descartáveis do Dalai Lama.
Creio que o FaceBook veio substituir na vida de muitas pessoas aquilo que era a ida ao café ou a um bar. No meu caso, que estou migrada na minha pátria e tenho alguns amigos emigrados, o FaceBook permite que vamos mantendo o contacto, sabendo em tempo real que a amiga que está no Kuwait foi jantar sushi, que o amigo que vive no Porto acabou de correr 6 kms em 38 minutos, que a amiga do Canada teve um bebé com três quilos e meio, e que a que vive no Rio está com um bronze que não se aguenta! 
O facto de nos mantermos unidos através da rede faz mais pela nossa amizade do que a vida real alguma vez permitiria. No mundo do lado de cá as amizades que fazemos enquanto crescemos, casamos e nos divorciamos, por mais fortes que sejam numa etapa, tendem a dissipar-se por razões várias. Algumas perdem-se por desentendimentos que nenhuma das partes consegue já contextualizar outras meramente por preguiça e pela inércia que empurra o "tal cafézinho" e "aquele jantar" para um futuro que não consta da agenda.
FaceBook fez-me reencontrar amizades perdidas, reconciliar com primos, descobrir afinidades e fortalecer laços com mais pessoas do que as que cabem na minha sala. Tive alguns dissabores e desilusões mas não tão graves que me façam questionar a ética desta rede social ou desenvolver teorias da conspiração. Em retrospectiva, desde que aderi ao FaceBook tive mais surpresas boas, nomeadamente o perceber que a minha existência faz sentido na vida de muitas pessoas e que alguns amigos que a virtualidade tornou íntimos são seres humanos maravilhosos.
Com o FaceBook conhecemos melhor quem gravita na nossa órbita. Não falo da persona fantasiada que alguns constroem como alter-ego, mas da pessoa real que se revela no que escreve, no que ouve e no que partilha.
Os adolescentes que preferem hoje Twittar porque não se querem cruzar com cotas, mais cedo ou mais tarde vão voltar a este imenso bar onde tantos adultos páram para tomar um copo.
A minha Mãe que tem mais de setenta anos tem conta no FaceBook
Imagino que os amigos que agora tenho vão envelhecer aos meus olhos em fotos do Instragam. Daqui a muitos anos vamos partilhar fotos de netos e de placas dentárias, fazendo humor sobre próteses e medicamentos, próstatas e algálias.
Por mais tétrico que pareça o cenário, que assim seja! ... que é sinal que ainda por cá andamos...



sábado, 25 de janeiro de 2014

Me, myself and I por Virginia Woolf (hoje celebra-se o seu aniversário)


Os Nossos EusEsses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa. 

Virginia Woolf, in "Orlando"

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

I love Ray Ban

Quando eu era adolescente tinha um colega de liceu que usava uns óculos Ray Ban daqueles com lentes verdes e armação dourada. Esse miúdo era uma espécie de excêntrico. Associávamos aquele modelo aos combatentes em África, aos militares de Abril, uma coisa démodé e pirosa, sendo que no caso concreto o proprietário dos óculos só não era ostracizado e alvo de chacota por ser um puto giro com um estilo muito próprio.
Anos mais tarde, depois de uma série de pares de óculos em massa com lentes de dimensão tipo plasma, lá comprei os meus Aviator de lentes verdes e armação dourada, um modelo que as tendências de mercado e a estratégia de marca reposicionaram, capitalizando esta tendência que transforma o antiquado em vintage.

Os míticos Aviator foram concebidos na década de 30 com o intuito de protegerem os pilotos de aviação da forte exposição solar mas rapidamente se transformaram num símbolo americano de sucesso. O grande impulso à Ray Ban foi dado de forma não premeditada por um dos heróis da II Grande Guerra Mundial, o General Douglas MacArthur, que ficou para a história fotografado com uns Aviator.
Surgiu assim a ligação emocional com o público que a marca soube manter até hoje:
quando somos fotografados com óculos Ray Ban parecemos celebridades.
Sucede o mesmo com a Nike, a outra marca que adoro: quando usamos a marca sentido-nos diferentes, não necessariamente mais bonitos, mas seguramente mais fortes e confiantes.
Nos anos 60, a Ray Ban cria o primeiro modelo com armação de plástico, o Wayfarer, celebrizado por Audrey Hepburn no icónico filme "Breakfast at Tifanny's".
Dado o sucesso da marca no meio artístico, a Ray Ban entrou nos anos 70 como marca de moda, acomodando-se a um patamar de vanguarda que limitou o seu mercado-alvo a uma certa elite social e cultural.
Foi o início da estagnação das vendas...
Nos anos 80 com o inexplicável fenómeno da moda, com top models a competirem em fama com actrizes vencedoras de Óscares, o mercado é invadido por óculos de Sol com símbolos vistosos, nomeadamente Channel, Gucci, Yves Saint Laurent ou Versace. 
Os óculos de Sol e os relógios são os acessórios de griffe a que o cidadão normal pode aspirar quando um par de sapatos ou um vestido das marcas em questão se vendem por valores superiores aos de um salário razoável. As marcas passam a ser sinal de estilo e de estatuto, a determinar quem somos e ao que podemos aspirar. Numa época em que o poder de compra se viciava no crédito fácil surge uma procura febril por etiquetas e logotipos, utilizados sem cerimónia nem pudor como símbolo social.
Em 1999 num daqueles negócios multimilionários que se fazem entre empresas a italiana Luxótica comprou a marca Ray Ban.
A conjuntura estava a mudar.
A opção dos novos proprietários foi levar a Ray Ban ao comum dos mortais. Ao contrário do que seria mais previsível a Luxótica não alterou a tal linha de comunicação que associava a marca a celebridades apenas permitiu que qualquer cidadão pudesse surgir nas fotografias como pessoa importante.
A campanhaNever Hide(ALWAYS SEEK) foi lançada em 2007 e tem sido sucessivamente reciclada até aos dias de hoje. A ideia de base é que os óculos Ray Ban não escondem quem somos (há os cépticos que defendem que os olhos são o espelho da alma logo quem os esconde atrás de lentes escuras não revela a amplitude da sua personalidade) mas pelo contrário nos permitem afirmar-mo-nos enquanto pessoas extraordinárias. O encorajamento a este exibicionismo assenta como uma luva aos narcisistas que entopem as redes sociais com selfies e posts autobiográficos.
Os anúncios da Ray Ban transmitem uma mensagem emocional que os incita a partilharem imagens e fotos fazendo do product placement da marca um fenómeno viral.
É fácil associar a Ray Ban a uma espécie de cultura popular ou pop culture por ter conseguido perdurar no tempo sem alterar de forma muito radical os seus produtos e a sua publicidade na forma. O que mudou foi o alargamento do alvo, uma espécie de democratização que o mercado acolheu com um aplauso. Casos há em que a entrada em segmentos mais baixos afasta os consumidores iniciais e deprecia o valor da marca, como sucedeu por exemplo com a Benetton em Portugal, que passou de "marca dos betos" a "marca de ninguém em especial".
Esta evolução só foi possível porque a Ray Ban manteve uma comunicação sofisticada e cool, estendendo estas características glamourosas para todo aquele que "não se esconde".
Porque gosto da marca? Porque também eu pareço uma celebridade quando fotografada com uns Ray Ban...




domingo, 19 de janeiro de 2014

I love Nike

Pratico desporto desde os dez anos. Comecei pela ginástica e pela dança jazz, aderi na década de noventa à moda dos ginásios e faço hoje parte daquela estranha tribo urbana que descobriu o nirvana nas corridas.
Desde muito cedo que uso equipamento Nike. Não concebo que o desporto "à séria", aquele que fazemos com esforço e espírito de sacrifício, possa ser feito com adereços de outra marca, catalogando até a Reebok como a marca das meninas e a Adidas como um sucedâneo de segunda linha.
Tenho a noção de que o equipamento Nike é caro, que custa mais do que a sua utilidade ou qualidade justificam. Contudo, como consumidora inteligente que sou, adquiro estes produtos em outlets ou nos saldos, recusando-me a envergar marcas brancas ou commodities da Decathlon por mais irracional ou inverosímil que tal possa parecer aos espíritos mais pragmáticos e livres de preconceitos.
Independentemente de todas as razões subjectivas que me fazem gostar da marca, como marketeer o que aprecio na Nike é que esta conseguiu atingir o estado mais puro de notoriedade: identificámos-la pelo logo sem necessidade da palavra que a designa.
O símbolo "swoosh", criado em 1971, é identidade quanto baste como o são a maçã da Apple, o jockey da Ralph Lauren ou o crocodilo da Lacoste. Marcas como estas têm uma vantagem competitiva inestimável devido à mnemônica particular que lhes confere o sentido.
A característica aerodinâmica do "swoosh" da Nike não é uma representação retórica mas uma representação pictórica do que é a empresa e a sua cultura. Qualquer abordagem de neuromarketing dirá que o "swoosh" sugere competição e triunfo, evocação esta que se fundamenta nas raízes do logotipo, inspirado nas asas que o deus Hermes trazia nos pés, e na origem do nome derivado de Nice, a deusa grega da vitória.
A semelhança entre o "swoosh" e o "v" de vitória, um símbolo de trabalho feito, missão cumprida, induz uma associação positiva, a intuição de que os benefícios da marca transcendem as funcionalidades básicas de qualquer equipamento desportivo: quando envergamos Nike atingimos os nossos objectivos! Não me parece que existe uma qualquer outra marca de desporto que nos faça acreditar tanto nas nossas capacidades como a Nike através do seu símbolo.
Para além desta retórica semiótica elementar com que a marca em si mesma se comunica, todo o marketing da Nike se baseia em mensagens simples. A marca podia valorizar a qualidade técnica dos seus produtos, a complexidade da engenharia aerodinâmica utilizada no desenho dos ténis ou a tecnologia inovadora com que desenvolve os seus tecidos e materiais. Em vez disso comunica o efeito prático: "just do it".
Para o comum dos mortais a Nike funciona como uma espécie de kriptonite que permite a qualquer ser humano médio ascender ao estatuto de super-homem ou de super-mulher.
Com Nike sou invencível, imparável, supero-me a mim mesma.
A frase "just do it" quer dizer muito mais do que se percebe da interpretação literal destas três palavras. O "faz" sugere iniciativa, estimula a avançar sem medo nem remorsos, sem perguntar nem olhar para trás, incita-nos a ser audazes e aventureiros, com a certeza de que seremos vencedores apenas porque tentamos.

O meu amor pela Nike é uma consequência da estratégia que a marca tem prosseguido para comunicar com as mulheres, enaltecendo os resultados que todas procuramos alcançar pelo mero acto de pensar em fazer exercício.
As mulheres que fazem desporto não são necessariamente as magras anorécticas com medidas impossíveis com que outras marcas nos vendem os seus produtos. As mulheres que surgem nos anúncios da Nike são tangíveis, modelos de possibilidade para quem sua e se aplica.
Os anúncios da Nike dirigidos ao público feminino evocam uma emancipação persuasiva. As mulheres que treinam com Nike são poderosas, não são umas Barbies siliconadas que se alimentam a alfaces e infusões de limão com gengibre!


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Porque nos apaixonamos por uma marca?

Começo por clarificar o conceito de paixão que aqui utilizo como aquele sentimento de fascínio em relação a determinada pessoa. Esse sentimento pode evoluir para algo mais forte ou esfumar-se com o tempo.
Há marcas com as quais desenvolvemos relações deste tipo.
Algumas são in&out's, uma espécie de paixão de Verão, coisa efémera sem sequela que até nos embaraça em retrospectiva. Outras vão ficando, instalam-se na nossa vida, fundem-se com a nossa personalidade, são veículo de transmissão do que somos e do que pensamos, eventualmente do que aspiramos ser ou do que queremos que os outros pensem sobre nós.
As empresas cuja marca é um activo determinante gastam fortunas para tentar manter a chama acesa. Mas afinal, o que nos faz apaixonar por uma marca?
Um estudo publicado no Journal of Consumer Psychology concluiu que a ligação que uma pessoa estabelece com uma marca é tão mais intensa quanto menor a distância psicológica entre o produto e o consumidor. Ficamos apaixonados pelas marcas a partir do momento em que as vemos como um prolongamento de nós próprios.
Como é evidente, a paixão por uma marca não se desenvolve a partir dos seus benefícios funcionais.
Entre seres humanos, se a paixão tivesse como ponto de partida a funcionalidade praticamente qualquer parceiro era elegível. Os critérios que determinam a nossa escolha têm que ver, em primeiro lugar, com a experiência sensorial, com o que vemos, cheiramos, tocamos, provamos e sentimos. Quando nos apaixonamos por uma pessoa gostamos do que ela é, como um todo - pacote, conteúdo e imagem -, mas acima de tudo do que ela nos faz sentir e/ou das reacções que provocamos nos outros quando temos essa pessoa ao nosso lado. Por mais cruel que possa ser a afirmação, de facto a opinião dos outros conta quando estamos a falar da paixão...
Tudo isto se resume a uma palavra: prazer.
O prazer da paixão não é necessariamente sexual. A conquista por si só pode ser mais orgásmica do que a consumação.
Nos produtos sucede o mesmo: a compra pode dar-nos tão ou mais prazer do que o consumo. A mera propriedade, ou a ostentação, podem ser as derradeiras fontes de satisfação, independentemente do beneficio efectivo que aquele produto promete e cumpre.
Um exemplo fácil para explicar esta paixão é o i-phone da Apple.
Apesar de nos dias que correm a funcionalidade de um telemóvel ser um pouco difícil de sintetizar, se nos focarmos no básico que é comunicar há milhares de modelos que satisfazem esta necessidade.
Podemos reduzir o painel através de requisitos técnicos como os GB de memória ou os pixels da câmara, mas mesmo assim ficamos certamente com uma mão cheia de opções.
O que nos leva a eleger o i-phone - e ao que me parece a relação é do género "quem vai não volta" - é o status que a marca nos confere, a sensação de pertencer a um clube privado do qual só faz parte gente gira, famosa e hype.
Os produtos da Apple têm um design único, simples mas sofisticado, têm uma utilização fácil e exclusiva cada vez mais copiada. Mesmo que a concorrência imite e até supere estas vantagens enumeráveis não conseguem ultrapassar as sensações inumeráveis que a Apple proporciona. Ter um i-phone, um i-pad, um MacBook, por inerência ficar viciado na marca e nas suas apps particulares, é sinal distintivo que nos eleva o patamar.
Amamos as marcas que garantem este retorno emocional, a certeza de que a sua presença no nosso património nos recompensa com paixão à nossa volta, quanto mais não seja porque a marca nos faz gostar de quem somos, ou porque permite que nos aproximemos da personagem que gostávamos de ser, produzindo uma uma adrenalina feliz que se chama amor próprio.



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Os 4 P's da felicidade

Todas as pessoas que estudaram marketing ouviram falar dos 4 P's.
Como os americanos adoram converter o universo em siglas e cifras, em fórmulas fáceis de perceber e de assimilar, eis que um rapaz que escreve para a Wired e que tem um site cuja visita recomendo (Barking up the wrong treesintetizou os milhares de estudos sobre felicidade que se fazem pelo mundo em 4 P's.
Na prática, os p's acabam por não ser apenas 4 e a sua base de trabalho foi um livro que fala em 100 segredos das pessoas felizes (podem comprar o livro na AMAZON).
Mesmo assim, como também sou fã destas receitas e mezinhas, eis os 4 P's que resumem o nosso bem-estar:
(nota: este post não é uma tradução do texto original mas sim uma interpretação criativa do mesmo)

Purpose -> PROPÓSITO
O nosso propósito será um desígnio maior do que apenas crescer, estudar, trabalhar, casar, constituir família e dívidas, pagar hipotecas e descansar em paz.
O que dizem os estudos é que mesmo que não sejamos fervorosos adeptos de Deus ou de um Pai de Santo devemos procurar uma forma de encher de significado os nossos dias, perseguindo um objectivo que fique para lá da nossa realização, uma estrada mais larga do que o caminho que fazemos caminhando.
Há pessoas, como o Cristiano Ronaldo, que nasceram predestinadas a grandes feitos e a vitórias gloriosas. Presumo que o puto nem sempre tenha tido a noção desse propósito, mas em momentos como o do decisivo jogo de Portugal na fase de apuramento o CR7 revelou que tem a noção de que o "eu estou aqui!" com que apaziguou a ansiedade nacional teve o impacto de um milagre, uma benção para uma fé capaz de competir em intensidade com a de uma concentração em Fátima num 13 de Maio soalheiro (com todo o respeito de católica não praticante que este local me inspira).

Perspective -> PERSPECTIVA
O melhor exemplo de perspectiva é a história do copo meio-cheio ou meio-vazio, a forma como um optimista ou um pessimista percebem a mesma realidade.
Voltando mais uma vez ao exemplo do futebol - não porque goste mas porque hoje é inevitável escapar ao tema -, existia uma maioria mais ou menos silenciosa que pouco acreditava no apuramento da selecção nacional, e que até aguardava com alguma impaciência pela derradeira derrota para se dedicar com entusiasmo ao desporto com mais adeptos em Portugal: a crítica destrutiva.
É possível uma pessoa sentir-se feliz com pouquíssimos bens materiais numa humilde casinha numa ilha sem praia. Mas havendo a possibilidade de subir de patamar, de comprar umas roupas de marca sem ser aos ciganos, de ampliar a casa sem recorrer a marquises, poucos resistirão à tentação de esbanjar como se não houvesse amanhã. Que o digam o humilde Cristiano Ronaldo e todo o clã Aveiro!
O conceito de dinheiro como fortuna tem uma elasticidade enorme. De igual modo o conceito de felicidade não tem peso nem medida.
O mais correcto é associar-se a felicidade à gestão de expectativas, sendo certo que quanto mais ambiciosos são os nossos sonhos mais defraudados nos sentimos com o que a realidade nos devolve. Aqui não falo de sonhar com euros e receber em dólares mas sim de querer ganhar o jackpot a jogar ao monopólio.

People -> PESSOAS
De acordo com um estudo, obtemos 70% da nossa felicidade a partir das nossas relações com os outros.
A família e a profundidade dos laços que nos unem aos do nosso sangue, os amigos, em quantidade e na qualidade dos sentimentos que por eles nutrimos, todas as formas de contacto e de afecto que desenvolvemos em sociedade são fundamentais para nos encher o coração e consolar nos maus momentos.
Nesse aspecto os social media, independentemente de nos poderem afastar de "pessoas reais" e de promoverem um comportamento narcisista, fomentam e fortalecem as relações entre seres humanos, aproximando pessoas com gostos similares, facilitando a expressão de emoções e a partilha.
Graças ao Facebook reencontrei amigos de infância e desenvolvi laços com colegas de trabalho mais longos do que a ensonada troca de palavras junto à máquina do café alguma vez permitiria. Descobri também que existem pessoas insuportáveis que utilizam as redes sociais como uma espécie de saco de porrada ou como um mundo em desenho animado que atulham com pirosadas kitsch.
Nós que vivemos em ambientes controlados, que com relativa facilidade aceitamos amizades ou as eliminamos com um clique, conseguimos manipular o micro-cosmos que nos envolve garantindo alguma estabilidade na nossa existência. É claro que há pessoas más, que deliberadamente nos prejudicam e ofendem. É evidente que nem sempre as conseguimos escorraçar ou evitar na nossa trajectória, mas se acreditarmos nessa justiça divina que garante a ordem universal, assegurando que cada um recebe em dobro aquilo que oferece, então só teremos de ter o espírito optimista para aguentar o copo meio vazio até que a outra metade encha.

Play -> BRINCADEIRA
Costumo dizer que as pessoas inteligentes têm sentido de humor.
Rio-me muito. Nao é coisa que provoque (creio que fingir o riso é uma impossibilidade) mas algo que me acontece, muitas vezes de forma inusitada, principalmente em circunstâncias em que os nervos ou a cerimónia sugeriam uma pose sóbria.
Fui uma criança feliz e estridente. Sou uma adulta alegre e brincalhona.
Há pessoas que puxam de um cigarro para encher o tempo. Eu uso do humor para que o tempo não conte... e para quebrar o gelo.
É um refúgio tão legítimo como o dos tímidos que se camuflam com uma postura extrovertida (a timidez disfarçada também é uma das minhas características...).
Assumo que tenho alguma dificuldade em entender e em relacionar-me com pessoas cujo semblante é por definição sério, aquelas que demonstram uma dificuldade extrema em fazer o movimento de inflexão dos lábios que nos ilumina o rosto com um sorriso.
Nem sempre conseguimos contar uma anedota no tom que lhe dá a graça ou retribuir com simpatia  os esforços humorísticos de outra pessoa, mas será sempre mais fácil encarar a realidade quando somos um bocadinho palhaços, quando verbalizamos um disparate que desconcerta os outros, quando "soltamos a franga" e descontraímos.
Acresce ainda, que um sorriso é a nossa melhor maquiagem, alegadamente a melhor curva do corpo de uma mulher, se conseguirem não nos olhar para o rabo...

domingo, 12 de janeiro de 2014

Esta nova ciência que é o neuromarketing


O neuromarketing é uma área relativamente recente que associa psicologia, neuro-ciência, análise do comportamento do consumidor e modelos económicos para explicar os nossos mecanismos de decisão.
Todos sabemos que uma grande parte das escolhas que fazemos não se baseia na análise objectiva dos atributos e benefícios de um produto mas sim num qualquer processo mental, muitas vezes inconsciente.
Esta nova ciência que é o neuromarketing explora as dinâmicas inerentes às preferências dos consumidores, nomeadamente os mecanismos associados ao desenvolvimento de afinidades com certas marcas.
Quando falamos de marcas entramos no domínio da subjectividade.
Os fundamentos do marketing ensinam que existem necessidades que o consumidor procura satisfazer através da aquisição de bens ou de serviços.
Tais necessidades nem sempre serão básicas ou primordiais. Podem ser vontades ou vaidades perfeitamente supérfluas e fúteis, relacionadas com ego e com a auto-estima, com subtilezas que condicionam a forma como cada indivíduo se sente, se imagina ou se recria como personagem.
Num contexto de necessidades não racionais e nem sempre razoáveis, com processos de compra intuitivos ou emocionais, é cada vez mais complexo antecipar comportamentos, prever reacções e identificar padrões minimamente lógicos.
O nosso cérebro processa 11 milhões de bits de informação por segundo. Sucede porém que a nossa mente tem uma capacidade de processamento consciente de apenas 40 bits. Isto quer dizer que grande parte da informação que nos bombardeia é processada ao nível do subconsciente.
Os esforços do marketing, nomeadamente a publicidade, fazem parte da informação sensorial que o cérebro processa, nem toda de forma consciente: as cores e as imagens de um outdoor, a música de um spot televisivo, o packaging de um produto, o aroma de um puro cubano, a textura de uma caxemira.
Perante este espectro de solicitações e estímulos, com uma dimensão ainda mais vasta de reacções e de significados, o marketing está hoje elevado ao metafórico estatuto de rocket science.
Reconhecer e catalogar actos de consumo é tarefa básica. Perceber as motivações e emoções que precederam cada acção é o verdadeiro desafio.
Segundo um estudo desenvolvido pelo Nickelodeon, uma criança de 10 anos é capaz de reconhecer 400 marcas! Um outro estudo num colégio em Berkeley concluiu que com 3 anos um miúdo já identifica 100 logotipos!
Sabendo-se que o contacto com marcas aumenta exponencialmente com a idade os marketeers americanos já têm como certo que o desenvolvimento da notoriedade se inicia quando os consumidores ainda têm dentes de leite.
O nosso património sentimental, cuja base são as memórias de infância, é de facto altamente influenciador nas nossas decisões de consumo. Um estudo do SIS International Research revelou que 56% dos adolescentes e 53% dos adultos consomem marcas que conhecem desde tenra idade. Isto explica porquê que o vintage é tendência e porque continuam com vendas a Planta e as Pintarolas.
Nos E.U.A. existe uma empresa com uma equipa de 40.000 meninas e adolescentes cuja missão é fazerem marketing de guerrilha na promoção de produtos. A Girls Intelligence Agency entrega a essa vasta equipa amostras grátis de produtos e pede-lhes que as distribuam pelas suas amigas. A empresa organiza também eventos patrocinados garantido que com as 500 Slumber Parties in a Box que organiza por ano consegue influenciar 600.000 miúdas, que mais tarde se tornarão mulheres altamente consumistas.
Dado que o reconhecimento social associado ao consumo de uma marca é um factor determinante na sua escolha, existem pelo mundo várias agências como a que acima referi que utilizam os mesmos métodos junto de públicos adultos.
Fazer marketing nos tempos que correm já não se limita a desenhar campanhas, idealizar promoções, criar embalagens, desenvolver gamas, fazer anúncios publicitários, assegurar que os produtos chegam ao mercado de uma forma que não passa despercebida ao público-alvo. Vender uma marca hoje pressupõe o desenvolvimento de uma relação emocional com quem queremos que a compre, ligação esta cada vez mais difícil de estimular neste complexo universo de bytes.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A Pepsi como um péssimo exemplo de gestão de marca

O caso com o Cristiano Ronaldo é apenas mais um dos exemplos da gestão catastrófica da marca Pepsi a nível mundial (como será que escolhem as equipas de marketing nesta empresa?)
Muitos se lembram das "provas cegas" em que os consumidores revelavam uma clara preferência pelo xarope da Pepsi. Aqui em Portugal a coisa foi levezinha, uma espécie de "prova de sabor Planta" sofisticada com gente mais jovem e gira. Nos E.U.A. contudo, onde a publicidade comparativa é permitida, a guerra foi fria e na prova de sabor o produto sucedâneo era claramente identificado como Coca-Cola o que atestava que o sabor da Pepsi era melhor do que o do seu concorrente mais directo.
Apesar do impacto esta campanha não teve os efeitos esperados para os accionistas.
Quer isto dizer que por mais aplaudidos que tenham sido os estrategas que idealizaram a campanha os seus resultados não se reflectiram nas vendas. Ingénuos aqueles que pensam que um consumidor faz as suas escolhas com base em atributos físicos, nomeadamente no sabor.
As pessoas bebem Coca-Cola pelo estilo de vida.
É a "sensação da Coca-Cola", a "sensação de viver", a alegria, o ser hipe, o ser trendy, ter muitos amigos...
Beber Coca-Cola é viver no lado mais divertido da vida.
A Pepsi adopta por estratégia há anos a associação a cantores pop numa relação contratual karmica que só tem trazido prejuízos para a marca e para os seus artistas:
- O Michael Jackson, o primeiro embaixador da marca, queimou-se gravemente na gravação de um anúncio para a Pepsi e ficou desde essa data viciado em analgésicos e em plásticas.
- O David Bowie e a Tina Turner gravaram uma versão de "modern Love" para um anúncio da Pepsi e logo de seguida o cantor foi acusado de agressões sexuais o que obrigou a marca a suspender a campanha.
- A Madonna foi escolhida em 1989 mas assim que gravou o video de "like a prayer", também utilizado num anúncio para a marca, instigou uma forte polémica na cretina sociedade americana o que prejudicou a imagem da Pepsi e mais uma vez a forçou a cancelar um contrato de patrocínio.
Em 1996 a própria Coca-Cola light já vendia mais do que a Pepsi o que levou a revista Fortune a declarar que a luta entre as marcas rivais estava definitivamente perdida.
Mais recentemente, a Pepsi ficou conhecida por ser a empresa com mais gaffes em social media, factor este largamente penalizado pelos consumidores não obstante a duvidosa qualidade de escrita que circula por aí.
Mal comparando, a ideia subjacente ao polémica anúncio sueco da Pepsi foi a mesma que suportou a campanha comparativa de sabor entre a Pepsi e a Coca-Cola. O que fizeram os marketeers foi comparar Portugal com a Suécia numa atitude que, no mínimo, seria sempre ofensiva para o jogador português. O que aconteceu foi que todos os portugueses se sentiram indignados e com estes muitos outros consumidores que são fãs do craque por esse mundo fora.
É inacreditável como alguém com elevada responsabilidade num departamento de marketing possa ter autorizado tal anúncio! Só os fracos recorrem a golpes baixos para derrotar os adversários.
Como a Pepsi já devia ter percebido, as comparações são um veneno para a sua bebida...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

+++pensamentos positivos+++


Faz parte da mitologia urbana a ideia de que quando pensamos positivo a vida nos corre melhor.
Em boa verdade as pessoas pessimistas são aborrecidas, entediantes, deprimentes. As pessoas optimistas, por outro lado, são joviais, interessantes, divertidas.
Ser pessimista por defeito limita-nos os passos. Ser optimista por definição aumenta as probabilidades de nos estatelarmos no chão.
O ideal é sermos optimistas realistas mas este conceito numa conjuntura como a nossa tem um grau de dificuldade semelhante ao de uma manobra acrobática.
Um estudo publicado por uma investigadora na área da Psicologia da University of North Carolina, Barbara Fredrickson, revelou dados surpreendentes sobre o efeito dos pensamentos negativos sobre o nosso cérebro. A investigadora concluiu que os sentimentos negativos nos "encolhem o cérebro", nos toldam a capacidade de análise, nos submetem e paralisam.
A teoria de Barbara Fredrickson - the broaden-and-built theory - analisa a forma e a função de um conjunto de emoções positivas como a alegria e o amor. A premissa é que estas emoções alargam o repertório pensamento-acção do indivíduo. Como estas emoções nos incitam a pensar, a fazer, a explorar promovem a inovação, a criatividade, a extroversão. Este efeito de "alargar e construir" contribuí para o desenvolvimento dos recursos físicos e intelectuais de cada um.
Como mantemos as good vibes?
O optimistimo exercita-se. Temos de ter em relação aos pensamentos positivos o mesmo tipo de disciplina que temos em relação ao ginásio.
Alegadamente, a meditação ajuda a fomentar esse espírito de positividade. Presumo que seja porque nos relaxa e deixa mais tranquilos, já que o stress e a ansiedade são fonte de negatividade.
Outra das sugestões da investigadora que conduziu o estudo é a escrita. Sem querer estou a enveredar por esta forma de terapia para me manter focada no que é importante, ou pelo menos distraída das coisas que me aborrecem na vida quotidiana. Um outro truque é brincar. Imagino que esta actividade seja mais fácil para os pais de filhos pequenos. Os outros adultos podem dedicar-se a brincadeiras infantis como jogar Candy Blast Saga ou fazer uma luta de almofadas...

A amizade e o Facebook -Zygmunt Bauman

What do you mean when you say friend?

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A vida começa aos 40?


Sempre que revejo amigos tenho uma sensação assustadora: a certeza de que estamos a ficar mais velhos, a dúvida de que estaremos a ficar mais sábios.
Começamos a trabalhar na década de noventa, numa altura em que pouco se falava em desemprego, alguns de nós com salários milionários que não se pagam hoje, catapultados para um estrelato de consultores ou gestores em multinacionais num contexto em que o mercado crescia a dois dígitos e os negócios prosperavam.
Hoje somos desempregados, empregados frustrados, emigrantes, empresários por necessidade. Estamos assustados, desmotivados, perdidos. Disseram-nos que a vida começa aos quarenta mas o sentimento dominante é de que estamos acabados.
A expressão "a vida começa aos quarenta" é o título de um livro de auto-ajuda publicado em 1932 pelo psicólogo Walter Pitkin. Contudo, a ideia de que algo de mágico acontece após esse marco não é propriamente de sua autoria. O reconhecido filósofo Arthur Schopenhauer escreveu um dia que os primeiros quarenta anos de vida dão-nos texto, os restantes trinta dão-nos os comentários.
Supostamente os quarenta anos correspondem à nossa meia-idade, ao período da vida em que cremos que realizamos grande parte dos nossos objectivos, estamos emocionalmente estáveis, temos casa, família e uma carreira consolidada. Eventualmente isto foi assim para os nossos pais.
Hoje aos quarenta ainda nos sentimos jovens, provavelmente estamos em melhor forma do que estávamos aos vinte, ou pelo menos exercitámos-nos mais, ainda pensamos em mudar de emprego, de profissão, voltamos a estudar, não perdemos a mania de ciclicamente questionar o status quo, continuamos dispostos a fazer um reset, a derrubar os dados adquiridos, a reciclar o velho e o antigo, a mudar de casa, de cidade ou de país, a soltar amarras e a apaixonar-nos.
Recentemente foi publicado um estudo que concluí que os sessenta são os novos quarenta. Comenta o orientador da pesquisa, o Dr. Oliver Robinson da University of Greenwich, que a tal crise da meia-idade que nos faz questionar a nossa existência é despoletada pela morte dos nossos contemporâneos, o que felizmente acontece cada vez mais tarde.
Até sermos confrontados com a nossa mortalidade somos capazes de fixar objectivos, acreditando sem grandes dúvidas que temos muito caminho para andar.
A crise que nos afecta hoje é essencialmente conjuntural. O facto de termos quarenta é apenas um detalhe.
Vemos os nossos amigos partir, não porque morrem mas porque têm de procurar trabalho lá fora. Se os nossos amigos estão a definhar não é porque o seu esqueleto está velho mas porque a sua vida tal como a programaram entrou em colapso.
Ter quarenta no ano da graça de 2014 é uma prova de endurance.
Estamos numa época em que valemos pela nossa força e resistência, pelo nosso esforço e perseverança, pela energia que emanamos que de alguma forma nos mantém motivados e é exemplo para os demais.
Se temos quarenta e para todos os efeitos não somos uns miúdos temos de nos portar como mulheres e homens, como seres humanos que em circunstâncias extremas revelam capacidades sobrenaturais.
Enquanto tivermos saúde, enquanto não nos sentirmos limitados ou frágeis, continuamos a ser demasiado novos para entrincheirarmos na vala dos acomodados. Provavelmente estamos menos optimistas e crentes mas somos certamente mais competentes e audazes.





sábado, 4 de janeiro de 2014

Me, myself and I

Segundo a Wikipedia, a palavra narcisismo "descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo".
As pessoas narcisistas desenvolvem uma preocupação excessiva com elas próprias e com a forma como são percebidas pelos outros. Os indivíduos em que esta característica se manifesta derivam a sua satisfação pessoal de uma certa vaidade egocêntrica, da forma como valorizam os seus atributos físicos ou intelectuais para obterem a admiração e o respeito dos que com eles se relacionam.
Num contexto em que estamos todos viciados em redes sociais várias são as vozes que afirmam que os social media estão a potencial uma sociedade narcisista.
Verdade! Não é preciso ser psicólogo nem cientista para chegar a tal conclusão.
Eu própria assumo a leviandade de me publicar como marca, debitando uma série de textos através dos quais me pretendo fazer valer por culta ou erudita, com uma grande conhecimento ou pelo menos uma imensa curiosidade por temas que espero valorizem a minha personalidade profissional. Antes isto do que andar a publicar fotos com frases bonitas com presunção de profundidade atribuídas de forma quase aleatória a personalidades como Churchill ou Bob Marley.
Um estudo da California State University associa o abuso dos social media a uma série de disturbios de ordem psiquiátrica como déficit de atenção, depressão, comportamento obsessivo-compulsivo, hipocondria, esquizofrenia ou voyeurismo.
O fenómeno existe e creio que todos o identificamos em muitos dos feeds em que tropeçamos diariamente. Sabemos também todos, por experiência nessa arte que é "andar muitos anos a virar frangos", que existe uma propensão natural para as pessoas revelarem de si apenas os aspectos que as engrandecem - os melhores ângulos nas fotografias, os jantares gourmet, os fins-de-semana em hotéis com ar de luxo, as músicas socialmente correctas e as frases supostamente inteligentes -, ou até desenvolverem uma espécie de alter-ego que não corresponde ao anónimo médio cuja vida se resume ao percurso casa-trabalho, a uma existência monocromática onde é residual o contacto com seres humanos.
Apesar de assumir que estou um pouco viciada nisto quero acreditar que tenho o discernimento suficiente para não me transformar num case study psiquiátrico!

Tendências que vão dominar em 2014

Peter Drucker dizia que a melhor forma de prever o futuro é criá-lo.
Pensamentos megalómanos destes não estão ao alcance de comuns mortais pelo que, se queremos saber alguma coisa sobre o que nos espera no futuro, temos de pesquisar.
Por outro lado, ser criativo é tão difícil que para encontrar caminhos que nos diferenciem a opção mais segura é analisar o que dizem estatísticas e estudos sobre o que são as preferências do público, e como se vão cambiando padrões de consumo de acordo com as mutações nas variáveis do mercado.
São inúmeros os artigos que sintetizam as mega-tendências para o próximo ano. De tudo o que já li, aqui fica uma síntese do que achei mais interessante:

1. Predomínio do marketing com conteúdo
Os consumidores estão viciados em informação.
Numa época em que qualquer marca/produto só vinga se orientada para uma estratégia de excelência, ser bom é apenas o requisito mínimo. O mais relevante são os atributos intangíveis que permitem ao consumidor sentir-se feliz com determinada escolha.
As escolhas baseiam-se em conhecimento e este em informação.
Actualmente as estratégias mais utilizadas em marketing B2B são os social media, os artigos em sites de negócios/notícias, as newsletters, os case studies e os vídeos institucionais.
A utilização destes meios vai tornar-se uma opção cada vez mais determinante na construção de uma reputação positiva junto do público-alvo.
O conteúdo da marca/produto será o elemento de fidelização fundamental.

2. Maior diversidade no marketing através dos social media 
Até há uns anos havia um número limitado de redes sociais e poucas eram as empresas que incluíam este meio nas suas estratégias de marketing. Os social media são hoje inevitabilidades representando um leque infinito de opções para comunicar, para partilhar conteúdos, para fomentar laços de simpatia e de afinidade com os clientes/ consumidores. A utilização destes meios não só permite chegar a um público alargado como também, e acima de tudo, fazer uma segmentação mais fina do tipo de mensagem adequado a cada alvo.

3. O segmento-alvo é o indivíduo
O facto de os meios de comunicação a privilegiar em 2014 não serem de massa exige às empresas um maior esforço na segmentação e posicionamento dos seus produtos. No limite, o mesmo produto poderá ser comunicado a cada consumidor de acordo com o seu perfil.
Campanhas genéricas e categorias generalistas tenderão a perder a eficácia.
4. Predomínio do conteúdo baseado na imagem 
Dada a multiplicidade de mensagens com que os consumidores são bombardeados o desafio à comunicação é criar uma mensagem de grande impacto e fácil apreensão. Não é preciso ser nenhum génio para perceber que nos dias que correm a força das imagens se tornou um fenómeno viral. Fenómenos como a partilha de imagens no Pinterest ou no Tumblr, a utilização generalizada do Instagram ou a propagação de vídeos com um número de visualizações/contactos tantas vezes superior ao dos meios de comunicação tradicionais, são exemplos de como a forma de transmitir mensagens tem de ser adaptada aos novos hábitos sociais.

5. Less is more  
O conceito de "menos é mais" significa que a tendência na comunicação são as mensagens simples, a estética minimalista. A Apple adoptou esta estratégia há uns anos, o que explica, entre outras coisas, porque razão foi eleita a marca do ano.
6. Conteúdos smartphone friendly
Quer isto dizer que todos os sites deverão ter uma versão móvel para poderem ser abertos e explorados a partir de tablet ou telemóvel.

7. Ad retargetting
Confesso que não sei como se traduz isto. O significado é este: as cookies permitem identificar os sites visitados por cada utilizador; sempre que o utilizador saí de um site pode receber anúncios relacionados com as páginas que visitou anteriormente. Com esta ferramenta, as marcas/produtos que eventualmente interessam a uma pessoa (ou pelo menos lhe suscitaram alguma curiosidade) vão continuar a "aparecer-lhe à frente dos olhos". Desta forma influencia-se a presença dessas marcas/produtos na mente do consumidor elevando a probabilidade de escolha.