domingo, 2 de março de 2014

Holy chic! (ou marketing de luxo) - parte I

Quando penso em chique penso em Gucci ou Prada.
Destas marcas o que tenho no meu património são óculos de Sol verdadeiros, uma mala e uma clutch contrafeitos, que eu nestas coisas, por defeito, avareza ou simplesmente por ser mal paga, ainda não tenho a coragem suficiente para gastar num adereço tanto quanto estou disposta a investir numas férias num resort tudo incluído em destino ensolarado.
Creio que o luxo entrou nas nossas vidas precisamente através desta possibilidade: as sete noites cinco estrelas numa praia de areia branca. Se retirarmos o efeito crise e as impossibilidades induzidas pela troika antes de sermos classe média remediada fomos ricos em férias e aos fins-de-semana. 
Mesmo os que não são ricos, no sentido estrito do termo, fazem ou vão fazendo uma vida chique sempre que podem. Esta vaidade, luxúria ou delírio nota-se nalgumas compras, mas acima de tudo nas preferências culturais e gastronómicas.
Cara David, vice-presidente de marketing corporativo na American Express Publishing, identificou três momentos chave na evolução do consumo entre as classes altas: a extravagância (2005-2006), a ansiedade (2007-2008), a resourcefulness* (2009 até hoje).
*não encontro a palavra certa para traduzir esta palavra, que é utilizada para significar a ponderação de gasto com poupança, a compra selectiva por oposição ao esbanjamento,.
 A crise financeira de 2008 veio mudar radicalmente os hábitos de consumo de uma certa classe endinheirada, alguns porque perderam fortunas outros porque ganharam medo em gasta-la.
A pesquisa de informação é hoje factor preponderante nas nossas escolhas.
Os consumidores de hoje, quer os ricos quer os empobrecidos ou remediados, são mais ponderados. Querem comprar com desconto, produtos ecológicos com origem eticamente correcta, politicamente descomprometida e economicamente sustentável.
O consumo já não é a mera aquisição de coisas - acto que a conjuntura revelou fútil e a sociedade condena como irresponsável - mas sim a procura de uma realização pessoal que fica para lá da pirâmide de Maslow, a procura de um nirvana como ser humano solidário.
A equação de consumo faz-se entre dinheiro e poupança entre poder de compra e procura de bons negócios. Daí a popularidade dos sites de revenda ou das páginas que fazem vendas spot de produtos ou serviços a escandalosos preços de saldo.
De um lado estão os consumidores que ainda têm liquidez e que estão dispostos a pagar um custo marginal pela suposta qualidade associada a uma imagem de marca, do outro temos os outros, os que ponderam cada cêntimo, revendo-se como homens de negócio convertidos em compradores profissionais.

O novo mantra do mercado do luxo é
dinheiro sobre crédito
experiência sobre posse
qualidade sobre quantidade
felicidade sobre poder
planeamento sobre impulso
emoção sobre status


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