terça-feira, 25 de março de 2014

Netnografia ou o National Geographic do marketing

Os social media horizontalizam o diálogo entre pessoas e empresas.
O quê que isto quer dizer? Basicamente a relação entre emissor e receptor é directa, ou quase, não existindo uma longa cadeia de intermediários entre o topo da pirâmide e a base.
As leis da comunicação hoje são multilaterais, cruzadas, pessoais, 
com um potencial de interatividade que põe em causa 
os modelos tradicionais do marketing.
O público, essa massa anónima que o marketing por defeito subdivide em segmentos e cataloga como mercados-alvo, esteve sempre remetido ao papel de sujeito passivo. Contudo, a sociedade de comunicação em que hoje vivemos legitimou a intervenção do consumidor na gestão das marcas, quer porque as estratégias de marketing deliberadamente convidaram o público a intervir e a opinar sobre o lançamento de novos produtos, sobre restylings ou sobre as próprias campanhas publicitárias, quer porque o público assumiu um papel incontornável, para o bem e para o mal, na difusão social dessas mesmas estratégias.
Se a comunicação é bem sucedida o fenómeno de propagação potencia a notoriedade e alavanca vendas, mas se a orientação falha e é mal percebida pelos destinatários originais, facilmente se dissemina um espírito de crítica e contestação que empresa alguma consegue evitar.
A velha máxima de que 1 cliente satisfeito comenta o produto/marca com 3 potenciais clientes; um cliente insatisfeito comenta o produto/marca com 7 está agora acrescida de muitos zeros que se dispersam de forma tão rápida quanto uma pandemia à escala mundial.
O hiato de tempo entre recepção e processamento da mensagem é tão curto que a velocidade de reação das empresas é inevitavelmente inferior à rapidez com que se ligam e partilham os seus potenciais consumidores.
A crítica on-line é mais fácil. O exagero e o radicalismo são também muito mais prováveis. Para a marca que se submete a este escrutínio em tempo real o que passa a valer é a sua capacidade para entender as expectativas e para responder de forma adequada, com a maior rapidez possível, se tais expectativas forem defraudadas.
A gestão de uma marca apoiada numa comunidade on-line 
não é apenas content marketing, mas sim o desenvolvimento 
de uma estratégia de relacionamento em tempo real.

Actualmente fala-se de uma análise etnográfica aplicada aos negócios, querendo abranger com o conceito a envolvência do emissor e dos destinatários no processo de inovação, criação e comunicação.
A mítica inovação, o nirvana dos marketeers, está hoje a dar lugar ao design thinking, o processo que fomenta a procura de soluções através da valorização da opinião das pessoas, daqueles seres humanos que durante décadas foram meros dados demográficos, estratificados por idades, classes e habilitações literárias, com outros tantos detalhes de categorização massificada que pouco ou nada revelam sobre a principal motivação do comportamento: as emoções.
Com os social media esta análise etnográfica deu lugar à netnografia - análise etnográfica sobre a rede digital – cujo objecto de estudo são as interacções online. A netnografia não pressupõe a mera análise quantitativa de dados mas sim uma análise qualitativa do comentário, do post, da opinião.
A netnografia é uma fonte de conhecimento do universo omnipresente das interações sociais em suportes digitais. Este estudo permite às empresas conhecer realidades culturais, identificar padrões simbólicos, adequar os conteúdos das mensagens e as características das propostas. No final, o que se pretende é vender, mas até chegar a esse resultado há todo um processo de engagement entre o público e a marca que só se consegue através de uma interacção emocional permanente.

Responder “obrigado pela sua opinião” é medíocre e insuficiente...


Sem comentários:

Enviar um comentário