O conceito não é novo e fiquei surpreendida por este endereço ainda estar disponível. Afinal o óbvio nem sempre é uma evidência para o comum dos mortais. Confirma-se que as boas ideias, por mais banais e banalizadas, podem sempre ser usadas, recicladas, convertidas em tesourinhos deprimentes ou elevadas ao estatuto de vintage.
sábado, 27 de setembro de 2014
Marketing do SIM, marketing do NÃO
Depois da Escócia vem aí a Catalunha, região de Espanha que se considera pouco espanhola, uma espécie sobranceira de pátria que se quer económica e fiscalmente independente por crer que financia uma oportunista e preguiçosa nação com a qual não se sente identificada.
Não obstante as razões que dão sentido a este tipo de escrutínios, as eleições pressupõem um período de campanha eleitoral que constituí um teste severo e duro à eficácia das estratégias de marketing.
Na Escócia o SIM ganhou porque apelou à emoção do eleitorado, a sentimentos que tinham a ver com a "lágrima no canto do olho", com a mão no peito aos primeiros acordes do hino nacional, com solidariedade, com sorrisos e com abraços patrióticos. O NÃO ganhou porque esgrimiu um role de argumentos racionais, por certo muito objectivos e sensatos, mas que no final ressoaram na perversa mente do eleitoral/consumidor como a entediante bula de um xarope para a tosse.
Na prática, a Apple tornou-se um ícone por apelar às sensações que nos proporcionam os seus equipamentos e não por enfatizar as enfadonhas inovações tecnológicas que tornam possíveis aqueles instantes mágicos. De igual forma é mais fácil vender um detergente para a roupa que faz as famílias felizes do que um produto químico para lavagem com uma concentração de surfactante acima da média.
A SuperBock e a Sagres disputam quota de mercado comunicando-se através de gente bonita e cool não através de provas de sabor cegas como a inolvidável prova do sabor Planta.
O marketing vende produtos através das emoções não através das suas qualidades ou características físicas, provas de eficácia ou de versatilidade.
O marketing político é apenas marketing.
Um político ou uma ideologia são produtos equiparáveis a um desodorizante ou serviço de limpeza na medida em que, na pura perspectiva do marketing, são "coisas" que alguém quer vender a um determinado público-alvo. O papel do marketing é chamar a atenção das pessoas para a existência dessas "coisas", despertando junto dos consumidores potenciais a necessidade de as ter ou de as consumir, idealmente demonstrando que a existência dos seres humanos é imperfeita ou incompleta quando tais "coisas" não são introduzidas no seu quotidiano.
Na Catalunha, a discussão do tema independência é latente, arrisco quase efervescente.
Agora que a secular vontade Catalã vai ser o best-seller dos social media e o bem de consumo imprescindível em qualquer lar espanhol, antecipo que a emoção ardente, inflamada e histriónica de neutros hermanos vai exigir dos estrategas de marketing uma capacidade cinematográfica para comunicar com paixão, elevando ao rubro o amor incondicional e indivisível à pátria-mãe ou capitalizando com sobriedade televisiva o ódio ancestral ao jugo de castela.
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