Nem estudam nem trabalham.
Esta é a geração dos jovens que acabam os estudos, que fazem o périplo das respostas a anúncios de emprego e das candidaturas espontâneas, que com sorte até vão a entrevistas, mas que lamentavelmente, por causa da crise, por causa dos outros ou deles próprios, não conseguem ingressar no mercado de trabalho.
São cada vez mais. Muitos milhares. Para lá de 400 mil só em Portugal.
Não contribuem para a estatística de desemprego porque não tiveram ainda o estatuto de "empregado". São uma espécie híbrida, um segmento sem projecto de vida, com poder de compra limitado, um conjunto de pessoas que sendo consumidores por conta de outrem têm um interesse relativo para o marketing.
Quando terminei a licenciatura no remoto ano de 1995 o desemprego não era uma preocupação.
Não eram conhecidos casos de colegas que não conseguissem encontrar emprego ou fazer um estágio, quase sempre remunerado.
Tínhamos todos aspirações, fantasiávamos sobre a vida depois do curso como se ter um "Dr," ou um "Eng," antes do nome fosse um bilhete de acesso VIP ao universo dos poderosos e dos milionários. Tínhamos contudo a noção de que o mais provável era passar um ano a servir cafés aos seniores, a limpar o pó a pastas de arquivo e a tirar fotocópias.
Para a minha geração o primeiro emprego era uma praxe necessária, uma via sacra que tínhamos de fazer nas multinacionais que nos acolhiam, formavam e acrescentavam pontos ao curriculum vitae. Nem sempre o contacto com a vida real era uma alegria mas pelo menos saíamos para trabalhar de blazer e cabeça erguida, tínhamos um canto com cadeira num open space com plantas, luz directa e ar condicionado.
Hoje as oportunidades são mais escassas.
Concordo que ser caixa de supermercado ou vendedor comissionista são posições que não agradam a quem tem conhecimentos de estatística, de direito ou de sistemas sequenciais.
Porém, a vida tal como ela é nem sempre é fácil, justa ou agradável.
Presumo que não há ninguém que não tenha tido um momento na sua carreira profissional em que não se sentiu infeliz, frustrado ou humilhado. Os momentos em retrospectiva são dias inteiros consecutivos, que se acumulam em semanas, meses e anos... A vantagem de ter muitos anos de vida depois do "canudo" é que percebemos que o tempo relativiza todas as memórias.
O tal emprego medíocre que pensamos que duraria uns tempos prolonga-se por alguns Verões sem férias e outros tantos Natais. Esses anos de penitência inglória que tanto nos martirizam quando os vemos "por dentro" são meros segmentos de angústia imerecida quando os vemos "por fora".
A carreira que todos queremos ter raras vezes é uma progressão geométrica ou pelo menos um avançar plano sem acidentes nem percalços.
Como li por estes dias num livro de Primo Levi ("Se isto é um homem") nunca somos tão felizes como desejamos nem tão infelizes como pressentimos.
Assim sendo, por mais amargas que sejam as perspectivas, é preferível ser a voz monocórdica num Call Center do que uma estatística monótona com nome de nada.
O conceito não é novo e fiquei surpreendida por este endereço ainda estar disponível. Afinal o óbvio nem sempre é uma evidência para o comum dos mortais. Confirma-se que as boas ideias, por mais banais e banalizadas, podem sempre ser usadas, recicladas, convertidas em tesourinhos deprimentes ou elevadas ao estatuto de vintage.
A geração pós Licenciatura, está a caminhar sem conseguir enxergar o fim do percurso, que idealizou percorrer sem contratempos....
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