terça-feira, 19 de agosto de 2014

No reino dos peixinhos dourados...

Sou absolutamente viciada no programa Shark Tank ("O Lago dos Tubarões" - SIC Radical, todas as noites depois do Conan).
Segundo consta Portugal é um país de empreendedores, característica arrancada a ferros com as dores de tanto desemprego. 
Há uns anos, um visionário Sócrates almejou fomentar com os expedientes da "empresa na hora" uma era tão gloriosa como a dos Descobrimentos. Nasceram empresas como cogumelos (ou carrapatos) mas o rácio entre negócios que se foram criando e negócios que se fecham a cada instante, evencia como são poucos os casos de sucesso. Mais aterrador ainda é verificarmos que os projectos identificados como vencedores em capas da "Exame" ou reportagens com toque de "conto de fadas" no jornal das oito, padecem de idêntica taxa de fracasso, nem sempre com saídas honrosas dos respectivos proprietários.
Claro que esta conjuntura é uma desgraça, penalizando de forma ingrata muitos sonhos que em circunstâncias mais harmoniosas até podiam gerar dividendos.
Claro que o mercado americano é tão desproporcionalmente maior que o nosso que qualquer acordo com uma cadeia de lojas equivale à entrada directa em mais de mil pontos de venda.
Claro que aquilo é televisão por cabo, um show tão reality como o "The Voice" ou do "Big Brother", com a mesma proporção de espectáculo que exige a guerra das audiências.
Mas a verdade é que sempre que assisto a algumas apresentações, principalmente aquelas que são feitas por miúdos com sardas que era suposto interessarem-se apenas por PlayStations e Oreos, fico estupefacta com a forma clara, pragmática e simples com que se apresentam planos de negócio, como se todo o americano aprendesse no ensino primário os básicos da segmentação de mercado e do posicionamento de preços.
Os nossos heróicos descobridores trilharam caminhos nunca antes navegados por mero acaso ou coincidência. Uma grande parte dos empreendedores contemporâneos perpetua essa espontânea falta de organização lançando-se ao mar com uma rota errática rabiscada nas costas de um guardanapo. 
Já fui uma empreendedora que morreu na praia por isso posso falar sem preconceitos sobre o tema.
Os empreendedores que vou conhecendo cá em Portugal confiam que pressupostos como a intuição, a perseverança ou a fé são garante quanto baste para as suas ambições eloquentes.
Os candidatos ao Shark Tank é claro que como humanos tendem a confundir o wishfull thinking com o realisticamente possível, mas a grande piada do programa está na perspicácia com que os ditos tubarões distinguem a "pesca grossa" dos peixinhos dourados, que jamais sairão do aquário.


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