terça-feira, 15 de julho de 2014

Vírus emocional

Investigadores da Universidade de Cornell publicaram um estudo sobre o contágio de emoções através das redes sociais. No caso concreto, estes académicos serviram-se do FaceBook como tubo de ensaio, opção esta que, não obstante as polémicas levantadas sobre a legitimidade dos métodos, demonstrou com uma certeza matemática que
existe uma transferência de emoções entre os anónimos seres humanos que se cruzam nas redes sociais.
De uma forma muito simples a conclusão é esta: se somos expostos a feeds positivos, de pessoas que saúdam cada dia com um estridente "BOM DIA!", que partilham imagens de locais paradisíacos e produzem comentários que inevitavelmente nos fazem sorrir, temos maior propensão para ser igualmente esfuziantes e divertidos nas coisas que partilhamos. Se inversamente recebemos feeds de pessoas deprimidas ou que simplesmente estão a atravessar um mau momento, somatizamos idênticos sentimentos negativos reflectindo essa angústia no que escrevemos, nas músicas que selecionamos, nas fotos que partilhamos.
Creio que para a generalidade dos utilizadores de redes sociais este fenómeno viral é claro e perceptível.
Recordo que quando faleceu o Manuel Forjaz o FaceBook de Portugal se vestiu de negro.
Inversamente, quando Portugal foi selecionado para o Mundial, partilhamos um fervoroso sentimento de patriotismo, que meses mais tarde deu lugar a um clamor de revolta contra a falta de empenho e de eficácia dos jogadores que entretanto passaram a ser "nossos".
O que tem isto a ver com marketing?
Tudo.
Nos dias que correm fala-se de "branding emocional" como a ferramenta de comunicação que recorre às emoções, mais concretamente ao estímulo emocional, como plataforma para a construção e consolidação de uma marca.
O que se pretende é desencadear uma emoção junto do público-alvo e nada melhor do que as redes sociais para provocar reacções, para testar o seu impacto, para medir resultados, para induzir um efeito de contágio que potencialmente pode ser mais rápido e amplo do que o desencadeado por qualquer outra forma de contacto tradicional.
Estudos realizados na área do marketing (e que já por cá comentei...Os básicos das emoções) indicam que o sentimento de felicidade/alegria é um potenciador da partilha, o que explica a disseminação daqueles videos palermas que inevitavelmente nos fazem rir, ou pelo menos sorrir de forma condescendente.
Seria por isso óbvio que todas as marcas se procurassem associar ao humor como forma de se promoverem de forma instantânea.
Sucede porém que, sendo o medo um dos instintos básicos que nos leva a procurar nos outros apoio ou solidariedade, os videos que apelam a essa emoção, seja pelo terror puro, seja pela evocação de receios latentes - como o medo da solidão, do envelhecimento ou da pobreza... - são igualmente eficazes ao nível da propagação.
A opção pela emoção positiva ou pela emoção negativa tem mesmo a ver com o tipo de relação que a marca quer estabelecer com o público-alvo, sendo que nem todas as emoções negativas têm uma ressonância perigosa se a marca souber sobressair como o lenitivo que previne todos os males.




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