quinta-feira, 12 de junho de 2014

Quem são os spornossexuais????

Se há coisa que me faz sentir velha é saber que o conceito de metrossexual já tem 20 anos!
Pior fico ainda quando me apercebo que ao continuar a empregar o termo, para além de cota estou fora de moda, outdated, ultrapassada.
Num artigo recente, o autor que pela primeira vez empregou o termo metrossexual para descrever o grupo de homens com preocupações excessivas com a imagem, afirma que o cuidado no vestir, o uso de cremes, a depilação são já banalidades. Os homens de hoje querem ser objecto de desejo, apresentando-se com um estilo e com um jeito que roça o pornográfico.
Mark Simpson avança assim com um novo conceito - o de metrossexual -, uma espécie de homem-objecto, musculado, depilado e tatuado, que claro se preocupa com o que veste, com a textura da pele, com a espessura das sobrancelhas e com a densidade dos pêlos corporais, mas que valoriza acima de tudo a sua embalagem original, leia-se o seu corpinho tal como veio ao mundo, besuntado com cremes e esculpido no ginásio.
Nas mulheres esta obsessão pelo aspecto físico é uma imposição social milenária.
Nos homens havia alguma tolerância em relação ao peso e ao aspecto físico, persistindo ainda o mito de que homem que é homem bebe cerveja e devora petiscos, com a barriga atrevida a ser carinhosamente acolhida como uma curva de felicidade.
A metrossexualidade ao impor-se como mainstream veio condicionar de alguma forma os comportamentos e hábitos a tender para o "à vontade" ou javardo. Os homens de hoje podem ir para os copos com os amigos, falar de futebol e verbalizar umas asneiradas, mas têm de ter um corte de cabelo impecável, vestir camisa branca, combinar o cinto das calças com os sapatos, usar creme anti-rugas e hidratante corporal.
A spornossexualidade, que a genética determina como possibilidade de acesso restrito, exige que para além dos adereços e etiquetas de grife, o homem tenha abdominais definidos, bíceps esculpidos e glúteos arrebitados. Nesta cruel selecção natural promovida pelos media estão tramados os homens baixos, gordos, com borbulhas, pêlos a sair pelos ouvidos e óculos de fundo de garrafa.
A conversão dos indivíduos em produtos com respectivas imagens de marca é um facto. Nós as mulheres sabemos isso desde a pré-primária! Aprendemos a habituar-nos à ideia que existe uma Primeira Liga, uma Liga de Honra e um competitivo campeonato regional, realizando a partir da adolescência que se não nascemos com determinada cilindrada não há tunning nem bruxaria criativa que nos permita dar nas vistas nas pistas de alta-velocidade.
Até agora, os homens podiam ser feios mas simpáticos, desde que contassem umas piadas giras e não fossem daltónicos na escolha da indumentária. O que a sociedade contemporânea está a criar é um bando de moços com pose de selfie, que exibem o corpo de forma gratuita - num estilo que no feminino tem um rótulo pouco agradável -, propagando-se a ideia, ou o ideal, de que a um produto basta ter uma embalagem bonita mesmo que o interior seja feito de vento ou de nada...



2 comentários:

  1. Adorei ler o texto, além de muito bem escrito, demonstra conhecimento das tendências e motivações que presentemente os jovens vivem

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