Anos mais tarde, depois de uma série de pares de óculos em massa com lentes de dimensão tipo plasma, lá comprei os meus Aviator de lentes verdes e armação dourada, um modelo que as tendências de mercado e a estratégia de marca reposicionaram, capitalizando esta tendência que transforma o antiquado em vintage.

Os míticos Aviator foram concebidos na década de 30 com o intuito de protegerem os pilotos de aviação da forte exposição solar mas rapidamente se transformaram num símbolo americano de sucesso. O grande impulso à Ray Ban foi dado de forma não premeditada por um dos heróis da II Grande Guerra Mundial, o General Douglas MacArthur, que ficou para a história fotografado com uns Aviator.
Surgiu assim a ligação emocional com o público que a marca soube manter até hoje:
quando somos fotografados com óculos Ray Ban parecemos celebridades.
Sucede o mesmo com a Nike, a outra marca que adoro: quando usamos a marca sentido-nos diferentes, não necessariamente mais bonitos, mas seguramente mais fortes e confiantes.
Nos anos 60, a Ray Ban cria o primeiro modelo com armação de plástico, o Wayfarer, celebrizado por Audrey Hepburn no icónico filme "Breakfast at Tifanny's".
Dado o sucesso da marca no meio artístico, a Ray Ban entrou nos anos 70 como marca de moda, acomodando-se a um patamar de vanguarda que limitou o seu mercado-alvo a uma certa elite social e cultural.
Foi o início da estagnação das vendas...
Nos anos 80 com o inexplicável fenómeno da moda, com top models a competirem em fama com actrizes vencedoras de Óscares, o mercado é invadido por óculos de Sol com símbolos vistosos, nomeadamente Channel, Gucci, Yves Saint Laurent ou Versace.
Os óculos de Sol e os relógios são os acessórios de griffe a que o cidadão normal pode aspirar quando um par de sapatos ou um vestido das marcas em questão se vendem por valores superiores aos de um salário razoável. As marcas passam a ser sinal de estilo e de estatuto, a determinar quem somos e ao que podemos aspirar. Numa época em que o poder de compra se viciava no crédito fácil surge uma procura febril por etiquetas e logotipos, utilizados sem cerimónia nem pudor como símbolo social.
Em 1999 num daqueles negócios multimilionários que se fazem entre empresas a italiana Luxótica comprou a marca Ray Ban.
A conjuntura estava a mudar.
A opção dos novos proprietários foi levar a Ray Ban ao comum dos mortais. Ao contrário do que seria mais previsível a Luxótica não alterou a tal linha de comunicação que associava a marca a celebridades apenas permitiu que qualquer cidadão pudesse surgir nas fotografias como pessoa importante.
A campanhaNever Hide(ALWAYS SEEK) foi lançada em 2007 e tem sido sucessivamente reciclada até aos dias de hoje. A ideia de base é que os óculos Ray Ban não escondem quem somos (há os cépticos que defendem que os olhos são o espelho da alma logo quem os esconde atrás de lentes escuras não revela a amplitude da sua personalidade) mas pelo contrário nos permitem afirmar-mo-nos enquanto pessoas extraordinárias. O encorajamento a este exibicionismo assenta como uma luva aos narcisistas que entopem as redes sociais com selfies e posts autobiográficos.
Os anúncios da Ray Ban transmitem uma mensagem emocional que os incita a partilharem imagens e fotos fazendo do product placement da marca um fenómeno viral.
É fácil associar a Ray Ban a uma espécie de cultura popular ou pop culture por ter conseguido perdurar no tempo sem alterar de forma muito radical os seus produtos e a sua publicidade na forma. O que mudou foi o alargamento do alvo, uma espécie de democratização que o mercado acolheu com um aplauso. Casos há em que a entrada em segmentos mais baixos afasta os consumidores iniciais e deprecia o valor da marca, como sucedeu por exemplo com a Benetton em Portugal, que passou de "marca dos betos" a "marca de ninguém em especial".
Esta evolução só foi possível porque a Ray Ban manteve uma comunicação sofisticada e cool, estendendo estas características glamourosas para todo aquele que "não se esconde".
Porque gosto da marca? Porque também eu pareço uma celebridade quando fotografada com uns Ray Ban...
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