domingo, 28 de dezembro de 2014

Tendências para 2015 - take II

Há muito que se houve falar no on-line como A TENDÊNCIA.
Ter uma plataforma de vendas on-line tornou-se banal e as compras pela internet continuam a crescer a dois dígitos.
A vantagem competitiva no negócio on-line está hoje na capacidade para processar dados comportamentais em tempo real, no instante em que o potencial cliente entra no site, de forma a customizar a oferta de acordo com as preferências do utilizador. Esta abordagem multi-canal que combina a análise e tratamento de informação com agressivas técnicas de vendas revelou-se em 2014 como uma poderosa ferramenta de marketing.
O que se espera em 2015 é que a combinação de estratégias online e offline se continue a elevar a novos patamares de engenho e criatividade. As tendências chave serão montras interactivas (reais ou virtuais), personalização automática (ou instantânea, a partir da padronização de dados sobre os consumidores) e inovação em back-office.
A generalização de suportes como o i-Beacon* ou sucedâneos será um básico para qualquer estratégia de marketing.
Qualquer retalhista terá de se apoiar nas novas plataformas para potenciar as suas vendas, nomeadamente utilizando inteligentemente as redes sociais, recorrendo a wearables**(não sei como isto se traduz) e promovendo experiências de compra interactivas.
Dado o imperativo de incorporar a inovação tecnológica em qualquer estratégia de marketing a gestão do back-office será crucial para tirar o máximo partido de todas estas possibilidades.
No futuro que começa já em 2015, as aplicações móveis serão fundamentais para aproximar os consumidores das montras das lojas. O exemplo da Burberry nas galerias Printemps (vale a pena seguir o link) é um expoente milionário mas cada marca terá de encontrar a solução tecnológica mais ajustada ao desenvolvimento de uma relação permanente, on-line, com os seus clientes.
Para além das múltiplas oportunidades que derivam da inovação tecnológica, a verdade é que o soberano papel das redes sociais no quotidiano dos consumidores tende a substituir o e-commerce pelo social-commerce, fenómeno este que se poderá revelar uma ameaça uma vez que o elo entre a marca e o seu cliente deixa de ser directo. Veja-se o exemplo do tweet to buy que se apresenta como intermediário entre marcas e potenciais compradores.
O futuro que começa em 2015 também vaticina o fim do pagamento em notas, moedas ou cartões de crédito com o pagamento via smartphone a generalizar-se nas transacções quotidianas.
No capítulo da personalização ou customização, a tendência é a utilização de informações sobre os comportamentos de compra para produzir experiências de consumo taylor-made, que se assumirão como o derradeiro instrumento de diferenciação e de fidelização às marcas.

Nos próximos anos, o universo digital vai continuar a colidir com o universo real. Nalguns negócios a loja física será um componente da route-to-market noutros será uma redundância prescindível. Para muitos consumidores as compras virtuais serão um comportamento tão natural como uma tarde de compras no centro comercial, mas para os marketeers a forma de interagir e de estimular a compra num e noutro ambiente serão desafios distintos, ainda que interligados numa estratégia de marketing integrada onde não faz sentido separar estas realidades que se complementam.


*Esta tecnologia desenvolvida pela Apple utiliza o Bluetooth para localizar potenciais clientes que possuam um dispositivo com iOS 7, ou até mesmo com Android 4.3 ou superior, para enviar notificações, que podem variar desde simples promoções e ofertas, até informações ou mensagens personalizadas para o titular do equipamento.
**São gadgets "usáveis" pelos consumidores, como pulseiras, relógios, óculos ou quaisquer outros dispositivos que possam permanecer em contacto directo com o corpo, transmitindo assim informação sobre sinais vitais para os telemóveis via Bluetooth. 


domingo, 14 de dezembro de 2014

Básicos para o marketing de luxo

O marketing experiência está para as marcas de luxo como básico, não como tendência. 
Neste segmento tão exclusivo o tal efeito experiência assenta nos seguintes pilares:

1. Comunicar crenças e não valores
Todos os que estudam e trabalham marcas sabem que o eixo de qualquer estratégia são os valores associados a cada marca. No caso dos bens de luxo os esforços fazem-se num patamar acima deste: o das crenças
As premissas que os consumidores assumem como verdadeiras em relação a uma marca são um elo de identidade mais forte e duradouro do que os valores que essa marca comunica. 
Os automóveis da Ferrari são produzidos em edições limitadas com uma relevante incorporação de trabalho de artesãos especializados e um incontável acervo de detalhes que reforçam o carácter luxuoso do produto. Contudo, a força desta marca não resulta deste carácter de exclusividade, que de resto é comum a todas as marcas de luxo. Se a Ferrari conquistou o título de marca mais poderosa no seu segmento em 2014 foi porque as crenças que os consumidores nutrem em relação à marca a distinguem de forma inequívoca em relação às outras. A Ferrari tem sex appeal, inspirando junto dos consumidores ideais de potência, força, sexualidade que nenhuma outra marca no segmento evoca com idêntica intensidade.

2. Ser mais do que um logotipo
Nas marcas de luxo os ícones visuais são de extrema importância. Para o consumidor, mais importante do que o logotipo são os monogramas, os símbolos, as cores, os padrões e outros elementos visuais inequivocamente associados a uma marca. 
A iconografia é vital para comunicar, defender e valorizar qualquer marca de luxo.
Por exemplo, se é verdade que o logo da Chanel é inconfundível, é igualmente verdadeiro que certos símbolos como o número 5 ou certos objectos como as pérolas são inequivocamente associados à marca. Em 2013 a Chanel foi eleita como Luxury Marketeer do ano devido à forma brilhante como se comunica com os diferentes segmentos-alvo através das redes sociais, nomeadamente através da utilização intensiva de vídeos, potenciando as vantagens da difusão em massa sem desvirtuar ou sequer beliscar o seu valioso legado histórico. Segundo o júri que atribuiu este galardão a marca Chanel soube gerir com primor um grandioso argumento, reforçando com cada segmento publicitário os detalhes únicos que contam a sua apaixonante história.
3. Envolver os consumidores em rituais 
As marcas de luxo não oferecem um produto mas sim um serviço único associado à venda de um produto.
Se no segmento de luxo as experiências são um argumento diferenciador essencial, então o acto de compra deve em si mesmo incorporar toda a mise en scène de um ritual.
A flagship store da Burberry em Londres, que funciona num espaço que albergou em tempos um cinema, é uma autêntica experiência teatral. Com a abertura desta loja, que é também um local para eventos e um centro de criatividade, a Burberry incorpora a alta tecnologia na mítica tela xadrez que em tempos foi decretada como outdated e depreciativamente classificada como conservadora e clássica. Na loja de Londres todas as etiquetas possuem identificação por radio frequência (RFID) permitindo ao consumidor explorar conteúdos sobre o produto em que estão interessados nos múltiplos écrans existentes ou nos i-pads disponíveis que guardam registo dos gostos pessoais e histórico de compras de cada cliente. Mais recentemente, na inauguração da oja em Pequim, a Burberry projectou uma passagem de modelos holograma através de vídeos 4D.

4. Fazer de cada loja um templo  
Se a experiência de compra é um ritual então cada loja é um templo.
As marcas de luxo devem prestar atenção redobrada à forma como vendem e inovam no ponto de venda. 
As lojas devem ser espaços multifuncionais que comunicam as crenças associadas à marca.
A Prada desenvolveu uma parceria com a AMO - empresa associada do conceituadíssimo gabinete de arquitectura OMA - uma espécie de laboratório que trabalha para lá das fronteiras tradicionais do desenho de espaços e que criou para a marca um conceito de identidade baseado na tecnologia e na produção de conteúdos para as lojas epicentro em Nova Iorque e Los Angeles. Estas lojas não são apenas um espaço físico de design arrojado pois a sua maior inovação reside no facto de proporcionarem ao consumidor uma experiência virtual única e exclusiva, nomeadamente uma escadaria que é uma rampa mas se converte num auditório para a projecção de filmes, para espectáculos e passagens de modelos. Nestas lojas o acto de compra é subvalorizado já que a prioridade é o envolvimento sensorial com a marca.

5. Convidar os consumidores para um círculo restrito  
As marcas de massa "empurram" os produtos para os consumidores. 
As marcas de luxo" puxam" os consumidores para um círculo restrito ao qual não pertencem os que querem mas apenas os devotos praticantes, isto é, os consumidores que compreendem as crenças, se envolvem nos seus rituais e visitam os seus templos. 
Todos intuímos que ser cliente de uma marca de luxo não é possuir uns óculos de Sol, uma mala ou um básico com a sua etiqueta. Ser cliente de uma marca é o equivalente a ser membro honorário de um clube, ter acesso à área reservada, ao camarote VIP.
Qualquer pessoa que tenha dinheiro suficiente pode adquirir uma mala Hermés. No entanto, apenas os clientes com uma ligação duradoura com a marca podem adquirir os modelos mais exclusivos. Esta atitude elitista da Hermés não afasta potenciais compradores, pelo contrário consolida a relação com a marca, desenvolvendo um sentimento de pertença e de fidelidade que outras marcas que concorrem no mesmo segmento de mercado não conseguem igualar.
6. Recorrer a lendas para comunicar o mito   
As marcas de massa tendem a comparar-se com os seus competidores para sustentarem a sua estratégia de comunicação nas vantagens competitivas que mais as diferenciam. As marcas de luxo posicionam-se como únicas logo não são comparáveis.
Este carácter singular alimenta uma aura mitológica associada às marcas de luxo, reconhecidas pelo mercado como acessíveis apenas a um grupo limitado de eleitos.
A Chanel tem na sua criadora uma figura mitológica primordial, mas o mais usual é que as marcas recorram a celebridades como personagens que melhor transmitem a essência de um produto, gama ou colecção. A Louis Vuitton, que de tão aspiracional deve ser das marcas mais plagiadas e contrafeitas, sendo as malas com o seu monograma vistas amiúde ao ombro de secretárias e de caixas de supermercado, incluí na sua estratégia de comunicação o recurso a estrelas fotografadas de forma cinematográfica, publicando imagens que são em si mesmas tão ou mais impressionantes do que a personalidade que se deixa fotografar.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Natal é marketing

O Pai Natal gordinho e simpático que faz parte do nosso imaginário é uma produção do marketing da Coca-Cola. Trata-se de uma criação dos anos 30, logo uma produção vintage, que permanece até aos dias de hoje sobrepondo-se à imagem pobrezinha do "menino Jesus" que evocavam as criancinhas na época dos nossos pais.
De um modo geral o Natal é uma época boa para as vendas logo é uma época fantástica para o marketing. Eventualmente o Natal é uma época de marketing fantástico que potencia as vendas...
Qualquer que seja a perspectiva ou o negócio o facto é que ocorrendo o Natal numa altura em que o ano chega ao fim, num mês de dias úteis que os feriados, festas de empresa e convívios de amigos tornam curtos, com mais tempo livre, ou pelo menos com maior flexibilidade para os compromissos e deadlines, as pessoas têm mais tempo para ouvir e para olhar, sendo por isso mais sensíveis aos apelos ao consumo e às mensagens do marketing.
Por outro lado, tratando-se de uma época de reconciliação, de família, de sentimentos fortes, de agradecimento, reconhecimento, retribuição, estamos todos mais sensíveis, mais simpáticos, mais permeáveis às histórias emocionais a que o marketing tanto se agarra.
Num contexto único que só se verifica uma vez por ano qualquer estratégia com sentido pode deixar na mente de quem compra uma imagem inesquecível, ou pelo menos, uma mensagem potente, vibrante, com elevado grau de memorização e classificação positiva nos parâmetros da notoriedade.
Este vídeo da John Lewis teve 1,8 milhões de visualizações no dia de lançamento. Trata-se de uma department store que convida os seus clientes a oferecerem Natal aquilo que os outros realmente precisam ou apreciam, comunicando esta mensagem tão sensaborona e banal através de um vídeo que retrata a amizade (impossível, acrescente-se) entre um rapazinho e um pinguim, história esta que termina com um final feliz que nos embacia os olhos e nos aquece a alma.
Outro video que foi top de visualizações no YouTube foi o da Burberry que tem como protagonista o jovem Romeo Beckham. Este é daqueles anúncios em que se confunde o interesse pela marca com o interesse pela personagem mas a verdade é que a Burberry se comunica de forma romântica, posicionando-se como atractiva para um segmento mais jovem.
Aldi, cadeia de supermercados de origem alemã com posicionamento equivalente ao do Lidl, comunica o Natal sem menção a produtos ou preços mas com uma indicação clara de que nas suas lojas existem todos os ingredientes para o Natal de qualquer família. O senhor que aparece no final do filme é uma espécie de celebridade em Inglaterra, servindo a marca como uma espécie de embaixador que convida os segmentos A e B.
Nós por cá, temos o exemplo excelente da NOS, que tanto critiquei quando lançou o anúncio épico para comunicar a nova marca. A música é a mesma mas as sonoridades são lusas apesar do inglês cantado por uma série de vozes que reconhecemos, não faltado sequer os celebrados alentejanos com o seu cante da Humanidade.

O que têm em comum estes anúncios? Não falam de produtos nem marcas mas sim de emoções.
Sabendo-se que nem todas as marcas se comunicam desta forma e que são cada vez mais parcos os orçamentos de marketing, as ideias a reter destes exemplos são:
1. O marketing no NATAL vive do "barulho das luzes" logo há que saber transpor o brilho festivo para todas as peças de comunicação da empresa, desde a assinatura no mail, ao papel de carta, aos sacos plásticos, etiquetas e outros suportes.
2. O Natal é uma excelente oportunidade para deixar uma impressão positiva nos clientes, oferecendo promoções especiais aos clientes assíduos, descontos com estatuto de brinde aos clientes novos, ofertas únicas a uns e outros como forma de estimular o consumo e de facilitar as escolhas aos indecisos.
3. O Natal é quando um homem quer, o que significa que, mesmo existindo uma data no calendário que é fixa e universal, poderá marcar a diferença a empresa que em Agosto ou Setembro recorda aos clientes que o final do ano se aproxima e que podem beneficiar de condições especiais em reservas ou em compras antecipadas.
4. O Natal é para dar e para receber, o que significa que para além da evidente relação de troca entre quem compra e quem vende deverá existir do lado da empresa uma preocupação em dar um "miminho" aos seus clientes, seja através do contacto pessoal, de mensagens personalizadas ou de presentes cujo valor simbólico seja uma mais valia cujo retorno se verifica em compras no ano seguinte e na mais antiga de todas as estratégias de comunicação de uma marca: o passa-a-palavra.







domingo, 30 de novembro de 2014

O que é essa coisa da "Black Friday"?

A Black Friday é mais uma coisa do marketing que os americanos inventaram. 
Para eles, a Black Friday surge depois do feriado de Thanksgiving, o tal que, de acordo com os filmes cor-de-rosa que Hollywood nos vai servindo, é dia para encontro de famílias, reconciliações, paixões assumidas e apresentação do namorado/a aos pais. Num contexto de tanto amor e harmonia é natural que a predisposição para oferecer presentes esteja potenciada, logo a sexta-feira seguinte à Acção de Graças é o momento ideal para dar início à época oficial das compras de Natal.
Curiosamente, o nome Black Friday surgiu com uma conotação negativa, inventado por um polícia de trânsito de Filadélfia que via demasiadas séries com detectives, querendo significar um dia em que, pelo inevitável congestionamento de tráfego entre os que saíam para as compras e os que regressavam a casa, se geravam mais acidentes do que em qualquer outra sexta-feira do ano.
É claro que em termos de marketing qualquer associação depreciativa é um drama, mas a verdade é que quando o nome surge agarrado a saldos, promoções ou oportunidades únicas, o consumidor retira do negro todas as conotações macabras. 
Este ano só nos E.U.A. mais de 95 milhões de pessoas aproveitaram a Black Friday para fazer compras num clima de delírio consumista, não perdendo um nano segundo do seu tempo a dissertar sobre a designação sombria publicitada por todo o lado.
A conjuntura e a desaceleração das vendas tem ditado que a Black Friday deslize para programa de fim-de-semana, com consumidores que as circunstâncias converteram em especialistas em contas rápidas de cabeça, a tomarem de assalto as lojas que aderem explicitamente ao evento.
Sabemos que as pessoas gastam cada vez menos dinheiro, por um lado porque não podem, por outro porque mesmo podendo são mais criteriosos nas escolhas, ponderando as decisões com subjectivos critérios quase científicos de preço - valor - benefício.
Sabemos também que qualquer empresa preferia não ter de alinhar com uma estratégia de redução de preços para fazer volume de vendas antes do fecho das contas. Sucede porém que estando o fenómeno disseminado, quem não faz descontos perde clientes. Assim sendo, se a época assim o dita, mais vale hastear a bandeira negra e assumir uma perda deliberada de margem.
Em Portugal ainda não se celebra o Dia da Acção de Graças, a comemoração em que se agradece a Deus as graças recebidas ao longo do ano. Não importamos ainda o cerimonial religioso nem a carga sentimental associada a esta festa porque a nossa herança genética nos torna mais predispostos a cantar saudade e a contar desgraças do que a celebrar os momentos bons que vivemos entre Janeiro e o pré-Natal. Ficamos pois pela recompensa material da coisa: a possibilidade de comprar produtos com descontos que merecem referência nas conversas entre amigos, em que nos gabarmos dos euros que virtualmente poupamos em transacções de compra que percebemos como grandes negócios.
Thanksmarketing!



domingo, 23 de novembro de 2014

Tendências para 2015 - take I

Entre aquilo que já se vai escrevendo sobre o que vai ser tendência no ano que a passos largos se aproxima, eis uma síntese dos básicos:

1. Comunicação via social media cada vez mais eficaz
Os posts gratuitos com número de views relevante ascendem à categoria de mito urbano. Em plataformas como o FaceBook os posts mais vistos são pagos logo qualquer empresa/marca que se queira comunicar de forma eficaz tem de gerir com inteligência o algoritmo que potencia a popularidade dos conteúdos.
Sendo o dinheiro um recurso escasso, o que se espera desta racionalização do investimento em social media é que os conteúdos sejam cada vez mais pertinentes e interactivos com benefícios claros para quem se comunica mas também para os seus destinatários.

2) Vídeos curtos serão instrumento privilegiado de comunicação
Plataformas já tradicionais, como o FaceBook ou o Youtube, mas também outras opções mais recentes como o Vine serão canais privilegiados de comunicação. Os vídeos curtos, com mensagens simples em forma de história com enredo e personagens, assumem-se como uma porta de entrada fundamental para links que conduzem às páginas oficiais de empresas e de marcas.

3) Inbound online marketing
O marketing tradicional é um marketing outbound: anúncios + bases de dados = vários disparos para um mercado amplo com limitações óbvias à comunicação eficaz com um segmento-alvo.
Surgiu em 2006 o inbound marketing assente no desenvolvimento de conteúdos capazes de atrair os consumidores potenciais para determinado produto ou marca.
Simplificando: o outbound empurra, o inbound puxa.
O futuro do marketing é o desenvolvimento de conteúdos com capacidade de atracção suficiente para transformar estranhos em consumidores, mas acima de tudo em promotores do produto da empresa.

4) Novos formatos para conteúdos com qualidade
O conceito de qualidade está para os conteúdos como há uns anos se revelou obsessivo para os produtos. Chegamos rapidamente à fase em que a qualidade já não é vantagem competitiva mas sim um dado adquirido, logo a tónica já não está na prosa mas sim na forma como as palavras visualmente se apresentam aos nossos olhos.
A qualidade do conteúdo já não se mede pela arte aplicada à escrita, uma vez que outros formatos de comunicação, como a infografia, se revelam mais eficazes na comunicação de uma mensagem.

5) Marketing orientado para ecrans móveis
Longe vão os tempos em que a configuração/layout dos sites se perdia ou desvirtuava quando as janelas eram abertas em telemóvel ou tablet. Sabendo-se qua actualmente quase metade dos consumidores acedem a conteúdos em suportes móveis, toda a comunicação da empresa tem de ser formatada e ajustada a estas plataformas sob pena de se excluir automaticamente uma parte fundamental do mercado-alvo.

6) Bases de dados
Os estudos de mercado tal como os conhecemos são uma obsolescência.
Estratégias de inbound marketing só funcionam quando se percebem as características particulares de cada grupo de consumidores, preferências essas que, por um lado, dificilmente se revelam através de questionários, por outro, mudam mais rápido do que a velocidade com que se processam esses dados.
O ideal é que as páginas das empresas/marcas convidem os visitantes a partilharem informação relevante sobre o seu estilo de vida. Mas para que este acesso a informação relevante seja potenciado é necessário, em primeiro lugar, que as questões pertinentes sejam colocadas de forma inteligente; posteriormente, é fundamental que as respostas sejam tratadas com perspicácia, em tempo útil, para que os conteúdos sejam ajustados ao público que se revela mais propenso a interagir.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O marketing do Pai Natal

Segundo consta, os portugueses este ano estão mais optimistas logo vão gastar em prendas de Natal mais do que gastaram em 2013. A despesa média estimada é de 183 euros, o que corresponde a um crescimento de 60% face ao valor previsto no ano passado.* 
O curioso é que este aumento na despesa média não resulta de um maior investimento por prenda mas antes num alargamento do número de pessoas na "lista do Pai Natal".
Depois de dois anos de "cortes troikanos" em que apenas as crianças foram contempladas, este Natal os portugueses estão dispostos a incluir até cinco nomes na sua lista de embrulhos com laçarote.
Dado que todos os marketeers adoram segmentações criativas, em relação a esta época é possível identificar 3 tipos de comportamentos:
1) As organizadinhas
Sem querer ser sexista, parece-me que este segmento é claramente feminino... As organizadinhas são aquelas pessoas que começam a fazer as compras de Natal nos saldos de Verão, que até são prendadas q.b. para manufacturarem os seus presentes e que inevitavelmente fazem listas com a despesa por cabeça devidamente orçamentada e justificada por critérios subjectivos que vão das dívidas de gratidão às contas correntes entre valor pecuniário das prendas oferecidas versus o valor percebido das prendas recebidas.
2) Os dezembristas
São as pessoas que assim que o subsídio de Natal caí na conta (com sorte no final de Novembro) rumam aos centros comerciais da vizinhança para "despacharem" a lista dos presentes numa maratona demoníaca entre lojas. 
3) Os procrastinadores
A palavra não é reconhecida pelo dicionário do Word mas sabendo-se que procrastinar significa adiar - mas adiar com um forte sentimento de culpa, acrescente-se -, estão incluídos nesta definição todos aqueles que se lançam na aventura de fazer compras no dia 24 de Dezembro, descobrindo com surpresa que as lojas encerram pelas 19 horas, mesmo as dos centros comerciais.

Apesar de não dispor de dados estatísticos sobre a dimensão de cada segmento em Portugal, se acreditar que o mercado português se pode equiparar minimamente ao dos Estados Unidos, onde a distribuição entre organizados, dezembristas e procrastinadores é de 45% - 20% - 35%, então as montras com bolas vermelhas e luzinhas que começaram a aparecer ainda a temperatura exterior rondava os 30ºC até fazem sentido pois vão de encontro às expectativas do segmento mais amplo.
Por outro lado, as promoções que se vão comunicando sem pudor nas lojas de roupa - que por certo foram antecipadas devido a este Verono quente que prolongou a época da sandália -, são um chamariz para o tal segmento de compradores não compulsivos que prospectam com antecipação científica o presente ideal para cada destinatário.
Uma empresa com alguma esperteza tira partido destas promoções a meio da temporada para gerar vendas. 
Uma empresa com alguma inteligência planeia estas promoções, descontos especiais ou ofertas para, em primeiro lugar, agradar aos clientes que demonstram alguns sinais de fidelidade, e só depois cativar os tais organizadinhos das compras. O risco de utilizar campanhas como forma discricionária para gerar vendas é o de fazer com que os "clientes da casa" se sintam enganados ou explorados por terem comprado os mesmos produtos sem qualquer desconto.
Os produtos que podem ser best-sellers na época natalícia não são necessariamente os que têm decorações com o Pai Natal, embrulhos e renas, tão pouco os que recorrem a temas do folclore religioso como os reis magos ou bebés deitados sobre palhinhas. As pessoas que compram produtos com alguma antecipação, tanto no segmento 1) como no 2), saem de casa com uma motivação compradora que os torna mais atentos a oportunidades ou a bons negócios. 
Os meses de Outubro, Novembro e Dezembro são pois excelentes para escoar stocks de baixa rotação ou para alavancar a rentabilidade através da venda massiva de produtos com margens mais altas (por exemplo em campanhas que estimulam a compra em quantidade, como a celebérrima "Leve 3, Pague 2").
Como muitos consumidores sofrem do síndrome da "falta de ideias", principalmente os dos segmentos 2) e 3) que não são do tipo que dedica muito tempo a esses assunto, os cartões presente podem ser uma excelente alternativa que garante visitas às lojas no início do ano seguinte, num mês em que as pessoas se afastam de toda e qualquer tentação consumista já que andam a pagar os pecados da gula e da luxúria de Dezembro.
Para que os cartões presente sejam atractivos enquanto prenda devem ter uma apresentação festiva e colorida que fique bem debaixo de qualquer árvore.
Como é lógico, toda a comunicação da empresa nesta época deve ressoar a ambiente natalício, com decorações kitsch e azevinho como frame para toda a palavra escrita, seja no website seja no mais simples dos mails. 
O Natal é em regra uma excelente época para vendas porque existe uma predisposição para consumo que não se concentra com a mesma magnitude em nenhuma outra época do ano
Sabendo-se que este ano os portugueses estão ainda mais sensíveis a todos os incentivos ao consumo, então todas as empresas devem orientar a sua energia criativa para o desenvolvimento de campanhas que capitalizem tal bem-aventurança.


*fonte inquérito Cetelem, citado em www.dinheirovivo.pt a 01/11/14

sábado, 25 de outubro de 2014

Uma imagem vale mais do que MAIS de 1.000 palavras...

Todos sabemos que a informação visual comunica de forma mais rápida (uma imagem é processada pelo cérebro a uma velocidade 60.000 vezes superior à de um texto). No marketing este facto já teve imensas variantes mas o que acontece hoje é que as empresas que melhor comunicam com o público-alvo são as que produzem melhores conteúdos gráficos, desde o logotipo à imagem estática da página de entrada no site, passando pela infografia e pelo video.
Os conteúdos visuais, uma espécie de marketing pronto-a-comer, são social media friendly, isto é, são facilmente partilháveis,  convertendo a pessoa que os partilha numa espécie de "estrela social descartável" cuja notoriedade se mede pelos gostos e comentários acumulados entre feeds.
A infografia assume-se como uma forma fácil de debitar um texto em poucas palavras, sendo que as estatísticas demonstram que esta forma de comunicar é mais eficaz do que outros meios tradicionais que recorrem à palavra escrita.
O marketing de hoje é multi-canal e multi-facetado, mas qualquer que seja a forma como uma empresa ou marca chega ao público-alvo a regra de ouro é única e simples: a mensagem tem de ser inspiracional, visualmente atractiva, tão subtil que o destinatário a assimile e partilhe de forma espontânea, sem perceber que ao fazê-lo se transformou numa espécie de Sales Rep não remunerado...
Como sou uma acérrima defensora da máxima as boas ideias copiam-se, partilho um vídeo que sintetiza os básicos do projecto de content marketing de uma das empresas que mais capitaliza o efeito multiplicador da publicidade tradicional: a Coca-Cola Company.
1. Conteúdos de excelência
Ideias tão virais que não podem ser controladas, gerando comentários que se transformam em conversas, que no final se medem pela quota de popularidade na chamada pop culture.
2. Agir e reagir sobre os conteúdos
O compromisso de partilha de histórias, de reacção aos comentários, de interactividade com os seguidores tem de ser permanente, 365 dias por ano.
3. Aumentar a distribuição de criatividade
As histórias criadas e partilhadas pelos consumidores devem suplantar aquelas que a própria empresa é capaz de produzir. A empresa reconhece o crescente empowerment dos consumidores mas propõe-se a encarar este facto como oportunidade e não como ameaça.







domingo, 19 de outubro de 2014

Ser CEO ou não ser, eis a questão...

Quem anda minimamente atento sabe que a Harvard Business Review já publicou a lista dos 100 melhores CEO's do mundo e que Jeff Bezos, fundador da Amazon, ocupa o primeiro lugar.
Nota: entre os 100 melhores CEO's do mundo apenas 2 são mulheres, apesar da reconhecida capacidade de liderança, inteligência emocional e blá, blá, blá... da dominante população feminina no mercado de trabalho.
Os critérios de avaliação da HBR foram a rentabilidade accionista da empresa (na indústria e no país) e a capitalização da empresa no "reinado" do respectivo chefe-executivo.
Para além destes critérios objectivos, a HBR recorreu ao Reputation Institute para ponderar factores subjectivos como ambiente de trabalho, ética, cidadania, responsabilidade social, satisfação dos empregados, orientação para o cliente... Curiosamente, na avaliação à luz destes parâmetros, Bezos ficou em quarto lugar mas a Amazon ficou em primeiro por ser considerada a empresa mais customer centric à escala planetária (apesar de gastar quase nada em relações públicas e em publicidade).
Curioso é também o facto de os resultados trimestrais da empresa nem sempre serem positivos: o core business da venda on line está maduro e é rentável mas os new business apresentam, na maioria, contas de exploração com resultado negativo.
Sabe-se de Bezos que proíbe os Powerpoints e que pretere a lógica das folhas de cálculo à gestão pela intuição. Sabe-se da Amazon que as suas vendas aumentam, que o retorno dos acionistas é alto e estável, que é intenção declarada do CEO procurar o desenvolvimento do negócio através de melhorias incrementais e não através de extraordinárias inovações tecnológicas (apesar da posição relevante da Amazon em cloud computing, e-readers e online video).
O visionário que criou um negócio que tem sido sucessivamente decretado como moribundo ao longo dos anos, persegue um discreto mas consistente crescimento a longo prazo em detrimento dos saltos de dois dígitos na curva de vendas que tendencialmente são seguidos por períodos de menor rentabilidade - um estilo de gestão por ciclos que predomina em muitas empresas e que dificilmente se sustenta no tempo sem feridos nem baixas.
Já que as boas ideais se copiam, aqui vão as cinco regras básicas de gestão de Jeff Bezos, a seguir para quem um dia queira ser tão CEO quanto ele:
1. Ser uma "fada madrinha"
Fazer propostas tão boas aos parceiros, concorrentes, fornecedores, accionistas, trabalhadores... que estes as não possam recusar. Numa propostas acima das expectativas os detalhes do negócio acabam por não ser analisados como relevantes, o que pode derivar numa vantagem competitiva quando são exigidas as contrapartidas ou responsabilidades.
2. Não partilhar informação em demasia
Os accionistas ou parceiros da Amazon sabem pouco da estratégia da empresa. Jeff Bezos é altamente criticado pela opacidade da conta de exploração da empresa que dirige. Felizmente para ele, tais críticas não merecem resposta nem comentário na medida em que os resultados confirmam que as suas decisões mantêm a empresa no rumo certo.
3. Manter as equipas com uma dimensão que permita que sejam alimentadas com 2 pizzas
A regra das 2 pizzas é um clássico de Bezos. Para ele o tamanho ideal de uma equipa é entre 5 a 7 pessoas. Em equipas maiores existem inevitavelmente assimetrias de esforço e de empenho; equipas mais pequenas podem não ter massa crítica suficiente para devolver um trabalho de qualidade.
4. Promover a falta de comunicação 
Uma das críticas ao estilo de gestão de Bezos resulta da promoção deliberada da falta de comunicação entre equipas. Sou levada a concordar com a sua teoria (que a prática revela eficaz): quando as equipas comunicam entre si tendem a procurar consensos (ou a investir demasiado tempo e energia a alimentar rivalidades, acrescento); a procura de consensos, a homogeneidade de pensamentos, é um obstáculo à criatividade.
5. Promover o conflito
Bezos não suporta o clima de coesão social, aquele lado bonito das empresas em que todos são muito felizes e muito amigos, o tal "great place to work" que infelizmente para a maioria das pessoas é uma mera utopia. Para ele a inovação nasce da disrupção, do conflito, logo os subordinados são estimulados e valorizados quando põem em causa colegas e superiores, quando questionam e quando são proactivos a sugerir novas formas de dinamizar o negócio.
A Amazon não é lugar para yes man, nem para comodistas ou acomodados.



i-(s)watch: competidores ou complementares?

Já fui uma ávida consumidora de relógios: comprava entre um a dois por ano das colecções ditas de moda e pedi como prenda de final de curso um Pequignet, marca que muitos leigos desconhecem (falhando por isso na função de símbolo de status como é suposto com as marcas de luxo).
Hoje praticamente não utilizo relógio.
A função básica é substituída pelo telemóvel, ou pelo relógio do computador ou pelo relógio do carro; a função de acessório de
moda tornou-se supérflua ante a fobia pelas pulseiras de diferentes materiais, combinadas por cor, por coerência espiritual entre medalhas ou penduricalhos, pela combinação de materiais ou por qualquer outro subjectivo critério de vaidade.
Na minha adolescência quem não tinha Swatch estava out. Muitos dos meus amigos iniciaram uma doentia obsessão pela marca, acumulando colecções que são actualmente um inquantificável património sentimental de valor real inexplicável para quem não viveu o fenómeno.
Quem estudou marketing sabe que a Swatch é o case study de uma marca que salvou uma indústria agarrada aos predicados da manufactura tradicional e do carimbo "swiss made". Na altura, a ameaça eram os relógios digitais e Nicolas Hayek ultrapassou essa contrariedade lançando no mercado um relógio de ponteiros em plástico, que apesar de aparentemente obsoleto e pouco nobre como produto funcional, possuía uma vantagem inalcançável pela concorrência asiática: os relógios Swatch eram um produto de moda.
Num contexto em que a utilização de relógio já não é hábito entre um cada vez mais amplo segmento de consumidores, o lançamento do
i-Watch pode ser uma oportunidade para a Swatch mais do que uma ameaça.
Da mesma forma que os utilizadores que se apaixonaram pela Swatch nos anos 80 adoptaram a marca como objecto de colecção ou adereço de fim-de-semana, tendo evoluído para marcas mais caras como sinal de upgrade social ou de mero amadurecimento e consequente sofisticação nas preferências, também agora se vislumbra a possibilidade de que os utilizadores de gadgets se habituem a utilizar um adereço no pulso para consultar as horas, descobrindo o fabuloso mundo da relojoaria de moda e da alta-relojoaria de luxo.
Assim como o i-book não conseguiu substituir o livro em papel, sendo até eventualmente responsável pelo crescente interesse de consumidores pela literatura, não é líquido que as inovações que alteram hábitos de consumo ou que introduzem novas formas de consumo de um hábito, se sobreponham aos produtos tradicionais ou aos costumes de longa data.
Independentemente das intenções dos criadores, há produtos que se transformam em complementares e não em competidores.
Reconhecendo este fenómeno como vantagem, fala-se de uma parceira entre a Apple e a Swatch, de forma mais abrangente entre os executivos da indústria dos smartphones e os executivos da indústria relojoeira, para o desenvolvimento de um produto orientado para as necessidades do consumidor independentemente da tecnologia de base que o suporta.
A promessa do i-Watch é ser capaz de detectar os micro-movimentos do utilizador, fornecendo informação em tempo real que lhe pode permitir tomar melhores decisões e interagir de forma mais positiva com o meio ambiente. Curiosamente, a visão contemporânea da indústria relojoeira posiciona o relógio como uma extensão da identidade do seu utilizador, uma forma de este se comunicar e se afirmar perante os outros. Entre estes dois conceitos que se tocam poderá certamente surgir uma nova definição de produto, com benefício para aqueles que percebem que os esforços devem ser orientados para a felicidade do consumidor e não para a infelicidade da concorrência.



domingo, 12 de outubro de 2014

Millenials: os que não eram sequer um projecto antes do 25 de Abril

Os Millenials, ou "geração milénio", são a geração nascida na década de 80.
Tendo nascido numa fase de surpreendentes avanços tecnológicos, num clima de crescimento económico, com pais que, no caso português, nasceram na clausura do Estado Novo, foram mimados e protegidos, beneficiaram de uma educação de excelência provavelmente no ensino privado, frequentaram múltiplas actividades extra-curriculares, formaram-se em universidades de topo, plenos em mais-valias e predicados, com uma auto-estima acima da média.
Os Millenials são pejorativamente apelidados de geração Peter Pan, aquela que se recusa a crescer, a sair de casa dos pais, a casar e a constituir família, a abdicar da estabilidade comodista que lhes permite consumir marcas premium, frequentar os locais da moda e viajar com frequência.
O seu estilo de vida ambivalente - altamente orientado para a carreira e simultaneamente pela necessidade de viver intensamente cada minuto não dedicado ao trabalho - converteu os elementos desta geração em heavy users das plataformas sociais como forma de socialização, diversão, informação e consumo.
O atractivo desta geração não é a sua dimensão. No contexto de recessão actual não é certamente o seu poder de compra.
Esta geração é interessante e desafiante porque são consumidores informados, cultos, permeáveis à mudança, fortes entusiastas da inovação, tipicamente os primeiros a aderir a propostas diferenciadoras, a novas marcas, com uma sensibilidade relativa ao preço-base na medida em que ponderam as suas escolhas em função da imagem e do status pretendem ostentar.

Características básicas deste grupo social:
Viciados em social media, principalmente nos conteúdos criados por si próprios ou pelos seus pares
Os Millenials povoam redes sociais como o FaceBook, o Twitter ou o LinkedIn.
Tipicamente, confiam mais nas opiniões e sugestões daqueles que consideram como iguais, do que nas figuras públicas remuneradas como embaixadores de marcas ou contratadas como prescritores institucionais.
É claro que a identificação com um ícone continua a ser relevante na medida em que clarifica o posicionamento. Contudo, o fenómeno de sugestão ou recomendação potenciado por bloggers e por opinion makers semi-anónimos é fundamental para credibilizar a marca junto do segmento.
Privilegiam o "eu", o Me, myself and I, acima de todas as coisas
O valor acrescentado de uma marca no universo virtual de alguém desta geração deriva da possibilidade de personalização, como tão bem o sabem a Nike, a Primark ou a Coca-Cola.
Idealmente as marcas que gravitam no universo social de um Millenial devem permitir ao potencial consumidor o acesso a ofertas especiais, promoções exclusivas ou eventos.
O que os Millenials procuram é uma forma de se auto-promoverem através de uma marca, nomeadamente através das selfies que os retratam numa festa, numa loja ou com uma peça que as destaca e promove socialmente.
Quanto maior o apelo ao narcisismo maiores as possibilidades de sucesso de uma marca.
Altamente sensíveis a questões sociais e amigas do ambiente
Esta geração é paradoxal: por um lado são egocêntricos, por outro compensam esse seu pecado egoico através de uma atenção particular à sustentabilidade, à ética e à responsabilidade social, valorizando as marcas que se afirmam como verdes, justas e "boazinhas".
Os Millenials valorizam a filantropia e a lógica da "retribuição" (que os americanos apelidam de giving back), característica esta que eventualmente compensa a sua falta de identidade religiosa ou de coerência espiritual.

Do ponto de vista sociológico pertenço à geração anterior - a geração X - muito embora partilhe alguns dos tiques que categorizam estes consumidores sobre os quais recaem actualmente as atenções e esforços do marketing. Talvez porque não tive filhos, ou por ser filha única, provavelmente porque cultivo um estilo de vida que me aproxima mais da vitalidade histriónica dos trinta do que do conformismo cansado dos quarenta.
Seja como for, porque para lá dos conceitos do marketing existe um estilo de vida real, identifico-me com esta forma de estar na vida, com o carpe diem como filosofia, com o convívio genuíno com um grupo restrito de amigos entre copos de vinho tinto ou baldes de gin tónico, e com a socialização imensa com um vasto grupo virtual de contactos à distância de um clique no smartphone, no i-pad ou no portátil. Gosto de fins-de-semana em hotéis de charme com as comodidades de um cinco estrelas de características rústicas, com marcas que são hype, trendy e chiques, que reciclam, se bio-degradam e renovam, que são caras pela qualidade das matérias-primas mas acima de tudo porque não se alimentam da exploração insensível do trabalho de crianças.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Vai um snapchat?


O Snapchat é uma das plataformas de comunicação mais utilizadas actualmente entre os jovens.
O seu criador, Evan Spiegel - um jovem com um ar mais despenteado que Mark Zuckerberg e que recusou uma compra de três mil milhões de dólares por parte do FaceBook -, confirmou que a publicidade vai ser permitida na plataforma mas na secção Our Story. Os utilizadores podem integrar o anúncio na sua narrativa ou então ignora-lo.
Dado que as redes sociais são a forma mais rápida e eficaz de comunicar com um publico-alvo a uma escala planetária, fazer da inexistência de publicidade uma das virtudes de uma plataforma como sucede no WhatsApp começa a ser indicador de falta de visão estratégica. O próprio Instagram já permite anúncios, introduzidos de forma tão natural como as fotos ou videos que partilham os nossos "amigos". O próprio Twitter, já considerado um sénior por estas andanças, está a testar uma fórmula de rentabilidade assente na integração com ferramentas de comércio electrónico, nomeadamente a possibilidade de fazer compras a partir das publicações.
A Dove - marca que entrou nos corações de quarentonas como eu quando começou a utilizar "mulheres reais" nos seus anúncios - aposta cada vez mais num segmento mais jovem, leia-se mais teenager, com um eticamente correcto apelo à auto-estima.
Dada a aposta na fidelização de consumidores desde a idade das "escolhas fundamentalistas", a marca elegeu o Snapchat como canal fundamental de comunicação.
Esta estratégia de recolha de depoimentos sobre a forma como as pessoas se sentem em relação a elas próprias, nomeadamente em relação ao seu corpo, tem sido o tom da comunicação da Dove.
Em anúncios tipo filme que facilmente se tornam virais - como o Dove legacy - a marca incita mulheres a falarem sobre as inquietações relacionadas com a beleza exterior, que basicamente as perseguem desde a escola primária.
A promoção deste tipo de introspecção é relativamente fácil junto de uma população adulta mas encontra sérios obstáculos junto da malta mais jovem, que se por um lado se expõe desbragadamente nas redes sociais em relação à sua vida privada, pode ser reservada ou até dissimulada quando o tema são sentimentos de alguma profundidade, principalmente quando revelam inseguranças ou fraquezas que os inferiorizam.
A utilização do Snapchat pela característica efémera das conversas, facilita a exposição dos medos e traumas relacionados com a auto-estima, sendo a interacção com a marca assegurada através dos conselhos e palavras positivas que os "embaixadores" da Dove vão publicar no decurso desta acção que se prolonga apenas por alguns dias (um fim-de-semana que começou hoje, para ser mais precisa).
Se o maior de todos os argumentos do marketing é a relação emocional com o consumidor, então a Dove está de certeza a consolidar uma posição diferenciadora dos seus concorrentes, ocupando um lugar de destaque na mente de um vasto mercado potencial e um lugar cativo no coração de muitas miúdas que daqui a uns anos vão eleger a marca de forma espontânea, para si e para a família.



domingo, 5 de outubro de 2014

O que vai mudando no marketing...

"A mudança é uma constante"
Feita esta afirmação que ecoa como soundbyte passo a esclarecer o meu ponto de vista: o marketing, como qualquer outra área, evoluí a uma velocidade mais rápida do que a nossa disponibilidade mental; assim sendo, se não formos um bocadinho nerds, se não investirmos umas quantas horas a googlar, a saltar de página em página, a procurar links novos para adicionar aos "favoritos", ficamos agarrados a uma zona de conforto que com o tempo se transforma numa inóspita ilha deserta.
A escrita neste blogue obriga-me a estudar, a saber, a perceber, faz com que eu queira investigar mais para estar além, quem sabe até um pouco mais à frente.
Do que já se vai comentando sobre as tendências do marketing para 2015 descubro com satisfação que nada me soa como novo ou inovação, o que significa que ser uma curiosa com método me traz alguma vantagem teórica.
A marca como conceito editorial
A tendência do storytelling, que consiste na substituição da publicidade directa e descarada por filmes, slideshows ou notas que contam uma história sobre uma marca ou produto, vai crescer de forma exponencial na medida em que favorece o desenvolvimento da tal relação emocional que todos os marketeers já perceberam como fundamental para despoletar um comportamento de compra.
O desafio que se coloca às marcas é serem capazes de provocar reacções empáticas potencialmente virais. Os conteúdos têm de ter alma, forma e cor, algo que se sobrepõe à mera publicação de textos ou à articulação de narrativas sobre imagens.
As palavras ganham primazia
É claro que uma imagem vale mil palavras mas se cada imagem vai ser explicada, comentada ou descrita convém que aqueles cuja missão é dar consistência ao lado visual de uma marca sejam capazes de se expressar de forma bonita.
Pessoalmente não suporto erros ortográficos, atropelos gramaticais, vocabulários limitados, incapacidade de ordenar palavras de forma coerente com algum senso na utilização de vírgulas, pontos finais e parágrafos.
Profissionalmente, reconheço que a capacidade de síntese e a clareza de expressão são argumentos fundamentais quer para o marketing pessoal quer para o exercício eficaz da função que temos na empresa.
Numa época em que se comunica por tags e por siglas, o domínio da palavra, a capacidade de compor textos com a extensão e com a profundidade adequadas ao público-alvo são sinónimos de competência e sinais de superioridade num contexto em que a competição se faz a cada caractere.
A métrica da amplificação vai ascender ao estatuto de ciência
Sendo a viralidade um pressuposto fundamental para o sucesso de uma campanha, a capacidade para medir a difusão de uma mensagem vai ser vital, mas acima de tudo terão vantagem as empresas que sejam capazes de desenvolver modelos que antecipem o poder de multiplicação dos likes e das partilhas. Presume-se que surgirá um ramo da matemática dedicado ao estudo da correlação entre cliques, auxiliar fundamental para qualquer estratégia de marketing no momento de selecionar as plataformas, formas e formatos para comunicar com os potenciais consumidores.
Back to basics
Depois de o marketing digital ter sido tendência, aumentando de forma exponencial o número de consumidores possíveis, a eficácia de qualquer estratégia vai exigir redobrado esforço de segmentação, identificando os grupos de pessoas que equilibrem as características de homogeneidade, consistência e rentabilidade fundamentais para se justificarem como mercado.
Assim sendo, em paralelo com a sofisticação de meios e sofismas linguísticos, o domínio dos princípios básicos da segmentação e posicionamento será essencial para fazer marketing com sentido.
Uma experiência, diferentes meios
Sabemos que são inúmeros os meios para comunicar, sendo diferentes os formatos e públicos associados a cada plataforma.
A obsessão pelos social media e pelo mundo virtual deve contudo ser moderada, na medida em que os orçamentos de marketing têm limites medidos em numerário, contado cêntimo a cêntimo.
Os meios mais tradicionais ou menos usuais podem revelar-se excelentes veículos transmissores de mensagens. O fundamental é que, independentemente do meio, a marca seja capaz de se comunicar de forma consistente, enfatizando o seu carácter único, inimitável e inconfundível.
As marcas sobrevivem em ecossistemas de informação
Os social media vai deixar gradualmente de ser uma táctica para passarem a ser o ecossistema em que as marcas se desenvolvem.
Quer isto dizer que os social media evoluem do estádio de plataforma para a comunicação e para a venda, para outro estádio em que desempenham um papel de informação e comunicação interactiva com aqueles que se interessam e potencialmente compram.
Mais pessoas, menos celebridades
Os ícones das marcas, os prescritores com maior grau de legitimidade e credibilidade, tendem a ser cidadãos anónimos, pessoas reais que se fotografam e filmam com a marca, que falam sobre um produto, demonstrando aos seus congéneres sociais como é cool, chique ou bestial comprar, possuir ou usar as coisas que o marketing tanto quer que eles comprem.
A mensagem da Joana que lava os caracóis com Pantene ou do Johnny que perde peso a correr com ténis Nike, começa a ser mais forte do que as deixas decoradas por uma actriz com cabeleira voluptuosa, que até duvidamos que seja verdadeira, ou o palavreado monocórdico do atleta com poderes sobrenaturais que depende da forma física para ganhar a vida.

Muito mais está a acontecer neste preciso momento e faço questão de me ir mantendo atenta.
"A mudança é uma constante...
que só apanha distraídos os que se desligam".



domingo, 28 de setembro de 2014

Um produto chamado António

O marketing político partilha a essência do marketing, sendo que a "venda" de um político ou de uma ideologia recorre às teorias e princípios que se aplicam aos detergentes, aos carros, às férias ou às calças de ganga.
Neste caso, o produto é o candidato, uma pessoa particular inserida numa plataforma partidária, uma imagem pública que se constrói sobre uma sedimentação de registos passados. 
O preço é medido como um custo psicológico. Na mente do consumidor/ eleitor o que pesa efectivamente não é a selecção do melhor mas sim a escolha do menor dos males, num contexto em que são cada vez mais dúbias as diferenças ideológicas entre forças partidárias. 
A promoção na política é por tradição feita sob a forma de propaganda, a ferramenta que historicamente mais se adequa ao canal, mas adquire cada vez mais os contornos de publicidade descarada materializada em outdoors, cartazes, autocolantes, camisolas e bandeiras. Os debates, os comícios, os minutos oficiais de tempo de antena são momentos privilegiados para o exercício de estratégias de promoção à desgarrada.
O placement, termo que nunca consegui igualar a nenhuma das palavras que a tradução lusa emprega, diz respeito à forma como o político faz chegar a sua mensagem ao mercado.
No caso concreto destas eleições primárias no PS, assumindo-se que a mensagem seria similar dado que comungam dos mesmos ideais do socialismo contemporâneo, a distinção entre os candidatos far-se-ia, em teoria, pela forma. Na prática, o que estava em causa não é a eficácia de cada um dos António's no exercício do cargo de líder de um partido, o maior partido da oposição, mas sim o carisma das personalidades que de forma pouco digna se digladiaram pelo cargo.
O António José Seguro é uma espécie de nem-nem com ar de menino mimado. O rapaz que não se conseguiu desagarrar da imagem de líder juvenil que o projectou para a ribalta, há-de ter os seus méritos e qualidades mas tem, como tantos comentam, claras dificuldades ao nível da comunicação, pela demagogia filosófica do seu discurso, pelo tom coloquial e melodramático com que se expressa.
O António Costa tem aquele ar de gajo porreiro, uma voz de barítono que se faz ouvir, tão potente que disfarça até a forma atabalhoada com que atropela sílabas e engole palavras. Dizem que é uma pessoa intelectualmente brilhante, diligente, decidido e vibrante. Por outro lado, especula-se que muita da obra feita em Lisboa, o palco que lhe permitiu brilhar enquanto marinava a estratégia de conquista do poder legislativo (a derrota do líder do próprio partido foi uma mera etapa), é mais show-off, festas e relações públicas, do que obra feita em quantidade e em qualidade.
Seja como for, neste despique interpartidário que se tornou de interesse nacional pelas consequências a muito curto prazo, tornou-se evidente que o produto António José Seguro era mais débil em conteúdo e mais pusilânime em embalagem; que o seu preço estava desajustado; que as estratégias de promoção que o foram mantendo sob os holofotes funcionaram pela falta de outros temas para preencher as horas das notícias não pelo conteúdo da sua mensagem; que apesar de ter tentado muito fazer-se entender, este líder que o não soube ser foi ineficaz na responsabilidade básica que um político tem de assumir para se converter num produto de massas: ser simpático.

sábado, 27 de setembro de 2014

Marketing do SIM, marketing do NÃO


Depois da Escócia vem aí a Catalunha, região de Espanha que se considera pouco espanhola, uma espécie sobranceira de pátria que se quer económica e fiscalmente independente por crer que financia uma oportunista e preguiçosa nação com a qual não se sente identificada.
Não obstante as razões que dão sentido a este tipo de escrutínios, as eleições pressupõem um período de campanha eleitoral que constituí um teste severo e duro à eficácia das estratégias de marketing.
Na Escócia o SIM ganhou porque apelou à emoção do eleitorado, a sentimentos que tinham a ver com a "lágrima no canto do olho", com a mão no peito aos primeiros acordes do hino nacional, com solidariedade, com sorrisos e com abraços patrióticos. O NÃO ganhou porque esgrimiu um role de argumentos racionais, por certo muito objectivos e sensatos, mas que no final ressoaram na perversa mente do eleitoral/consumidor como a entediante bula de um xarope para a tosse.
Na prática, a Apple tornou-se um ícone por apelar às sensações que nos proporcionam os seus equipamentos e não por enfatizar as enfadonhas inovações tecnológicas que tornam possíveis aqueles instantes mágicos. De igual forma é mais fácil vender um detergente para a roupa que faz as famílias felizes do que um produto químico para lavagem com uma concentração de surfactante acima da média.
A SuperBock e a Sagres disputam quota de mercado comunicando-se através de gente bonita e cool não através de provas de sabor cegas como a inolvidável prova do sabor Planta.
O marketing vende produtos através das emoções não através das suas qualidades ou características físicas, provas de eficácia ou de versatilidade.
O marketing político é apenas marketing.
Um político ou uma ideologia são produtos equiparáveis a um desodorizante ou serviço de limpeza na medida em que, na pura perspectiva do marketing, são "coisas" que alguém quer vender a um determinado público-alvo. O papel do marketing é chamar a atenção das pessoas para a existência dessas "coisas", despertando junto dos consumidores potenciais a necessidade de as ter ou de as consumir, idealmente demonstrando que a existência dos seres humanos é imperfeita ou incompleta quando tais "coisas" não são introduzidas no seu quotidiano.
Na Catalunha, a discussão do tema independência é latente, arrisco quase efervescente.
Agora que a secular vontade Catalã vai ser o best-seller dos social media e o bem de consumo imprescindível em qualquer lar espanhol, antecipo que a emoção ardente, inflamada e histriónica de neutros hermanos vai exigir dos estrategas de marketing uma capacidade cinematográfica para comunicar com paixão, elevando ao rubro o amor incondicional e indivisível à pátria-mãe ou capitalizando com sobriedade televisiva o ódio ancestral ao jugo de castela.

domingo, 21 de setembro de 2014

Eu SOU aquilo que COMPRO


Há dias, numa daquelas conversas que se vão tendo em viagem para ajudar a "queimar" os quilómetros de auto-estrada, o tema era a descida forçada do padrão de vida.
Qualquer pessoa que tenha passado pelo mercado de trabalho na década de noventa teve - ou esteve perto de ter, ou pelo menos conhece quem tenha tido - um vislumbre de uma carreira como a dos executivos que se vêem no cinema, um salário acima da média, carro de serviço topo de gama, cartão de crédito de empresa, estadias em hotéis cinco estrelas, jantares de luxo e cocktails de negócios em ambiente de festa. 
Claro que a esta distância a vida que tivemos nos parece muito mais excêntrica, mas a verdade é que no meu caso, por exemplo, o salário que auferia aos vinte e cinco anos era similar ao que tenho hoje, o que só pode significar que o meu rendimento era pornográfico no remoto ano de 1998, assumindo pelo bem da minha auto-estima e sanidade mensal que recebo nesta década o que o mercado justamente paga a uma chefia intermédia com a minha experiência e habilitações académicas.
A vida mudou para toda a gente.
Há aqueles, que antecipando o descalabro financeiro ou movidos pela mais genuína e ingénua vontade, deixaram voluntariamente cargos de direcção em empresas com nome estrangeiro, mudaram-se para um monte alentejano com a intenção de se dedicarem à agricultura gourmet ou ao turismo étnico. Estes são os que fizeram o tal downshifting que em tempos foi uma espécie de moda.
Há outros, que se viram obrigados a mudar de vida pelo acumular de hipotecas.
Em relação aos que desceram de escala sem vontade própria há padrões de negação facilmente identificáveis numa análise sociológica feita por amadores entre dois troços de auto-estrada.
Na essência, quem muda para pior sem o querer, agarra-se ao consumo como a bóia de salvação que confirma o seu status, como se as coisas que se compram e o quanto que estas valem fossem um indicador vital de personalidade.
Na prática, o marketing e as marcas, a forma como tantos produtos e empresas se comunicam. se posicionam e se apresentam com seus símbolos e significados, fomentam uma espécie de segregação social que nos classifica e estratifica num complexo e subjectivo sistema de castas nem sempre flexíveis mas raras vezes estanques.
Se por um lado, ao nível dos produtos básicos para a subsistência, já é socialmente aceite o consumo descarado de iogurtes Milbona ou de ice tea com marca de distribuição, um homem que não tenha meia dúzia de camisas e pólos da Raph Lauren é brega enquanto que o pedigree de uma mulher se mede pela marca da mala e pela genuinidade da pele dos sapatos. Tal não significa que não se possa ser chique com um básico da Massimo Dutti ou com um vestido da Primark. A diferenciação entre os uns e os outros faz-se pelo brilho e pela etiqueta dos acessórios, por todo um conjunto de adereços tangíveis ou imateriais, pela carga de eufemismos que nos descreve como seres humanos que trepam uma imaginária pirâmide de Maslow à procura de um topo inalcançável.
A nossa paranóia social pelas aparências dita regras subliminares complexas, nem sempre coerentes ou racionais.
Por exemplo, em tempos de crise, os membros de um clã de classe média-alta-assim-assim compreende que uma família se prive de umas férias em regime tudo incluído quando atinge os limites de todos os plafonds, mas tal tolerância para a moderação não concebe que gente que é gente (ou que se julga mais gente do que os demais) possa prescindir de alguns fins-de-semana na Comporta (ou em Moledo, para os do norte) ou de umas escapadelas ao Algarve no auge da época alta.
Em relação à área de residência, para a maior parte dos que se encontram no limiar do crédito hipotecário é preferível passar fome ou mendigar ajuda aos pais ou a outros membros da família, do que mudar-se para um subúrbio que fica a horas de trânsito dos bairros que servem de apelido de família aos privilegiados que neles moram. A freguesia distingue os ricos e subdivide a classe média, elevando os mais afortunados para um ideal burguês de luxo e de comodidade. O maior sinal de queda social não é a passagem de um apartamento de quatro assoalhadas para outro mais pequeno, sem suite e sem lugar de garagem, mas sim a mudança de bairro.
Da mesma forma que uma mudança de latitude significa uma transformação radical na percepção da classe social a que o sujeito pertence, também a troca de carro pode ser um sinal estridente de crise financeira, patologia infecciosa que repudia os que gravitam no mesmo ecossistema. 
Muitos dos que são obrigados a vender o carro de milhares de euros para pagar prestações em atraso, quando querem manter as aparências não escolhem um Audi A4 em segunda mão, compram um Smart. Um carro em segunda mão é sinal inequívoco de desgraça, mesmo que venha com jantes em liga leve e estofos em pele. Um Smart, pelo contrário, é um carro engraçado, uma espécie de gadget para utilização urbana, uma justificação credível para a opção por um utilitário que nem sequer é barato. 
São muitos os exemplos caricatos e cínicos que podemos encontrar nesta sociedade onde crescem os novos-pobres, aqueles que uma época gloriosa num momento da vida catapultou para um consumo esbanjador, e que agora se digladiam de forma criativa para manter a aparência sofisticada e chique que inventaram para si próprios, entre os espólios de uma riqueza fictícia e um engenhoso instinto de sobrevivência assente em cartões de plástico.