quarta-feira, 25 de março de 2015

Marketing imersivo: the new big thing!

O termo imersivo está associado a mergulhar, imergir...
Ao coligar esta palavra com marketing estamos a designar todas as estratégias pensadas para "engolir" os consumidores, não como onda gigante de bandeira vermelha, mas como temperado oceano de águas calmas.
Uma marca exerce o seu poder de atracção sobre o mercado-alvo recorrendo a imagens visuais fortes, conteúdos interessantes e apelos à interacção. Contudo, sendo estes argumentos a base de qualquer estratégia de marketing, a competição entre marcas resulta numa capacidade de diferenciação muito ténue.
O patamar que se segue é pois o da imersão.
As empresas/marcas competitivas serão as que desenvolvem estratégias ditas "customer centric".
Tais estratégias deverão conceber os pontos de venda como locais de experiência da marca. Se essa experiência for valorizada pelo cliente a compra acontece naturalmente.
Curiosamente, estas experiências físicas extraordinárias poderão ser mais facilmente criadas por empresas em que a venda on-line esteja já em velocidade cruzeiro. Na loja virtual exibe-se todo o portfolio de produtos, organizado por preços e/ou por categorias, na loja real mostram-se apenas os best-sellers, as inovações ou os lançamentos, sendo a prioridade no contacto físico com o comprador potencial a experimentação de um estilo de vida.
As lojas do futuro serão em si mesmas canais de marketing.
Na prática, os dados sobre nós próprios que vamos carregando nas redes de social media e as informações que partilhamos sempre que nos registamos num site, não serão apenas uma ferramenta essencial para o marketing on-line, mas também, e cada vez mais, uma plataforma fundamental para a construção de experiências de compra únicas e personalizadas para os consumidores que entram nas lojas físicas.
O que se pretende é prolongar o tempo de permanência do cliente no estabelecimento no pressuposto de que essa proximidade gera afinidade com a marca. Naturalmente essa permanência não pressupõe espaços imensos em que os consumidores deambulam entre artigos até se aborrecerem pelo tédio, pelo cansaço ou pelo limite do cartão de crédito. Tal permanência consegue-se, por exemplo, pela existência de um bar de gin numa barbearia, pelo agendamento de concertos acústicos numa mercearia, pela invenção de noites temáticas em restaurantes com presença de videntes ou de caricaturistas, pela aposta em todo o tipo de actividades que, não tendo qualquer ligação directa com os produtos que se vendem, funcionam como convites irrecusáveis para atrair e manter os clientes no ponto de venda.
Idealmente, a ida à loja deve transformar-se num evento social que o consumidor partilha e comenta.
Para além dos exemplos relativamente banais e fáceis de implementar que citei, não resisto a partilhar algumas realizações megalómanas de marcas gigantes:
Coca-Cola
Criou o future room como instalação no museu de arte moderna em Istambul
Barbie
A Mattel criou os armários mágicos para comemorar o aniversário da sua irónica boneca loira.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Relógio para que te quero...

Não sei se ainda há quem acredite que o relógio serve para ver as horas.
Não sei sequer se ainda existe alguém que de facto utilize o relógio para esse fim.
O relógio é um acessório de moda, ponto final. Os relógios de luxo são um produto aspiracional equiparável a uma birkin Hermés ou a um par de sapatos Tod´s. Ponto parágrafo.
Nos relógios existem segmentos objectivamente delimitados pelo factor preço, sendo as marcas de luxo comercializadas por valores que facilmente ultrapassam o custo de um utilitário.
O mercado que faz mexer a milionária indústria dos relógios na Suíça é precisamente o da alta relojoaria. Fenómenos como a Swatch ou outros acessórios com marca de estilistas de elevada notoriedade, como Tom Ford ou Calvin Klein, são apenas um "mal necessário" para garantir rotação, liquidez e empregabilidade.
Os consumidores que os suíços querem cativar, os que coleccionam relógios e valorizam os detalhes manufacturados, não procuram num relógio a tecnologia que a Apple vende no i-watch.
Este relógio não compete pois com as marcas de referência para o mercado do luxo mas sim com os gadgets sucedâneos que lançam outras marcas de telemóveis.
A Apple apresentou ao mercado "the Apple watch edition collection" com preços a partir dos $10.000 mas o mais provável é que os 30 milhões de relógios que a marca estima vender em 2015 estarão no segmento dos $700. Ao tentar posicionar-se no segmento preço do luxo, a Apple abriu uma oportunidade a marcas como a Montblanc ou a Tag Heuer para desenvolverem o seu próprio modelo de smartwatch.

É impensável conceber que a Apple se tenha equivocado na sua estratégia de marketing. Podemos contudo aventar que os criativos tecnológicos que idealizaram o i-watch, como típicos americanos que são, negligenciaram o pequeno grande pormenor que concede valor às marcas de luxo: o carácter artesanal da produção.
Os verdadeiros relógios de luxo são peças clássicas. São herança de família, memória de antepassados, património sentimental. Um smartwatch fica obsoleto no dia em que é apresentado ao público, vai entrar, sair e ser substituído nas nossas vidas com a mesma frieza desafectuosa com que trocamos de telemóvel.
O i-watch, como o i-phone ou o i-pad, será pois o premium da categoria, uma categoria nova de relógios que são uma espécie de telemóveis.
Sabendo bem que os gostos mudam a uma velocidade que nos faz parecer mentirosos (ou incoerentes), para já prefiro manter no pulso os meus relógios dourados ou prateados e continuar a utilizar o i-phone como telemóvel...


domingo, 15 de março de 2015

Básicos do marketing 1,2,3

O marketing tem destas coisas: parece tão simples, tão senso comum, tão fácil e evidente, que caímos no erro de cavalgarmos em grandes teorias, mega conceitos e sofisticados planos para demonstrar o óbvio.
O marketing funciona quando:
Temos um público com um problema
A dificuldade está em, por um lado, identificar esse público, quantificar o alvo; por outro, delimitar o problema, a tal necessidade que um produto pode satisfazer.
Há exemplos óbvios de necessidades que não existiam antes de ser criada a solução (como o da máquina fotográfica para o telemóvel) e de produtos que foram lançados para um mercado mas acabaram por ter mais sucesso noutros segmentos.
Como o comum dos mortais ou dos profissionais de marketing não trabalha no desenvolvimento de produtos absolutamente novos para o mercado, mas antes, com sorte, na gestão de um produto ou marca, a sua grande responsabilidade é apenas a de estar atento às tendências.
Temos uma solução
Apresentada com um preço justo, tão relativo quanto o público alvo: preço acessível a um largo espectro de consumidores se o produto visa um mercado amplo; preço restritivo q.b. se o produto se destina a uma minoria com maior poder de compra.
O preço é apenas a variável que define o posicionamento.
O relevante é que o produto que apresentamos se revele solução eficaz para o problema identificado.
Temos uma exclusividade percebida
Isto é, o produto ou marca é percebido como único, inigualável, ou pelo menos como melhor do que os seus potenciais substitutos ou sucedâneos. Num contexto em que é tão fácil copiar ou plagiar, em que é verosímel que produtos semelhantes sejam "imaginados" por empresas distintas a milhares de quilómetros uma da outra, em que é até provável que um upgrade num produto antigo possa ser apreciado como inovação irreverente, a questão da exclusividade pode ser uma vantagem passageira. Qualquer empresa tem de trabalhar continuamente na manutenção desse mito, desenvolvendo estratégias que convençam o consumidor que não existe no mundo melhor solução para o seu problema.

Simples, verdade?


quarta-feira, 4 de março de 2015

Dia da mulher é Dia D para o Marketing

Sem querer ser machista, mas correndo o risco de ser interpretada como tal, "mulher" e "compras" são uma combinação evidente. Assim sendo, numa perspectiva de marketing, o Dia Internacional da Mulher não tem nada a ver com celebrar a emancipação e a liberdade, não requer actos românticos como oferecer rosas, muito menos demonstrações revolucionárias que impliquem queimar soutiens ou gritar palavras de ordem numa manifestação povoada de gordas, mal amadas e lésbicas.
Para as marcas, esta data pode representar um boost nas vendas similar ao de uma Black Friday.
As regras básicas para as promoções alusivas à efeméride são:
1. Premiar as clientes femininas
Por exemplo, oferecer a cada cliente do sexo feminino um serviço grátis (como a aspiração do carro numa bomba de gasolina) ou um bónus (como um balde de pipocas grande pelo preço do pequeno) ou um desconto especial (a ideia mais banal e fácil de copiar...)
2. Mimar as clientes femininas
A oferta de flores é tão recorrente que chega a ser pirosa. Uma empresa/marca pode sempre tentar chocolates, massagens express, uma vale oferta para gastar num SPA, algum merchandising percebido como de valor acrescentado, o que excluí canetas de plástico e porta-chaves de fita.
3. Entreter as clientes femininas
Para grande parte das mulheres que conheço a ida às compras é terapia ou entretenimento. Perante este facto, nada melhor do que fazer do Dia Internacional da Mulher (ou de data mais adequada mas igualmente alusiva de forma a evitar o domingo) um Dia Especial para Compras. Tal efeito consegue-se com operações relativamente económicas como a realização de uma happy hour nas lojas, com presença de DJ ou de miúdas giras a oferecerem balões, ou a presença de um fashion adviser ou personnal shoper para ajudar as clientes nas compras, ou oferta de vales para compras futuras (mesmo que num horizonte temporal curto) para reforçar a ideia de que o dia da mulher é todos os dias.

A UNILEVER eleva o marketing para o Dia Internacional da Mulher a um nível estratosférico. Pode ler-se no site que 75% dos clientes da empresa são mulheres.
A UNILEVER reforça valores que são chavões da ética e do blá, blá, blá empresarial, como a diversidade e a integração, mas esclarece também que todos os trabalhadores devem estar conscientes que a base de clientes que sustenta o negócio pertence ao sexo feminino.
Num ano em que se fala da igualdade de género, a UNILEVER esclarece que, respeitando a equidade nas oportunidades e a diversidade dentro da empresa, considera as mulheres como eixo fundamental da sua estratégia pois, por um lado, à escala global as mulheres são responsáveis por cerca de 12 triliões de dólares das decisões de compra, o que equivale a quase 70% do orçamento familiar; por outro, na maior parte dos países, as mulheres estão em maioria nas universidades logo dominarão necessariamente o mercado de trabalho a médio prazo.
O exemplo da UNILEVER serve para frisar que mesmo que uma empresa não adopte acções spot para celebrar o Dia Internacional da Mulher, e simultaneamente alavancar vendas, não pode ignorar a relevância dos elementos do sexo feminino na sua estratégia global de negócio.
As mulheres são decisores fundamentais, quer como clientes quer como gestoras.



domingo, 1 de março de 2015

O gordo negócio do emagrecimento

O negócio das dietas alterou-se substancialmente.
Hoje fala-se menos em comprimidos milagrosos e mais em alimentação saudável, substituem-se os regimes dramáticos à base de sopa e de maçãs por formas alternativas de escolher os alimentos e de cozinhar a comida.
Confesso que tenho dificuldade em manter-me actualizada em relação às tendências que fazem furor entre as miúdas (e graúdas) obcecadas pela balança e pelo ginásio, mas consigo manter-me minimamente atenta aos fenómenos que andam nas "bocas dos cidadãos responsáveis e informados" graças à intervenção criativa dos profissionais do marketing.
Nos tempos que correm a dieta é um estilo de vida.
Entre tantas fobias ou modas que alimentam o nosso regime alimentar, destacam-se algumas tendências que construíram um guloso mercado à escala mundial:
Sem glúten
De repente, o glúten* revelou-se uma ameaça para a nossa saúde. São cada vez mais os produtos que incluem a menção "sem glúten" como suposta garantia de qualidade e promessa de menos uns gramas de gordura indesejada à volta do umbigo. Se é verdade que existem certas patologias como a doença celíaca que exigem regimes alimentares livres de glúten, a verdade é que a procura por produtos sem glúten vem crescendo a dois dígitos nos últimos anos porque se foi espalhando o boato de que o glúten forma uma espécie de goma no intestino, provocando a saturação do aparelho digestivo e a acumulação de gordura abdominal. Nos E.U.A. o número de pessoas com doença celíaca ascende a 3 milhões, número grande mas não suficiente para colocar no mercado produtos específicos a preços competitivos. Perante este cenário de procura significativa mas não geradora de economias de escala, eis que se começa a disseminar a mensagem de que o glúten é o responsável pelos inestéticos "pneus" que exibimos na praia, atingindo-se por milagre, num curto espaço de tempo, uma relação competitiva de preço-qualidade-rentabilidade que viabiliza a produção em massa.
Sumos detox
Há quem diga que estão a ficar out porque muitos adeptos da modalidade foram descobrindo com desgosto que muitos destes cocktails contém mais açúcar do que uma tablete de chocolate.
Nos E.U.A. o mercado destes suminhos já vale 5 bilhões de dólares, o que é muito dinheiro se pensarmos que estamos a falar de fruta e de legumes triturados! É claro que o que faz dinheiro é a comercialização dos sumos preparados, de preferência num kit que promete uma desintoxicação em três dias ou um emagrecimento rápido de segunda a domingo. O passo seguinte, depois destas curas milagrosas de fim-de-semana, é introduzir os sumos naturais como hábito alimentar quotidiano, missão que o marketing está a conseguir com sucesso moderado dados os custos e a logística associados a transportar um mix de laranjas, cenouras e espinafres frescos numa garrafa de plástico.
Vegan
Os vegan estão um passo à frente dos vegetarianos pois recusam todos os tipos de produtos de origem alimentar, incluindo os ovos e os lacticínios.
Os vegan são pois uma espécie de braço radical do vegetarianismo, baseando as suas opções alimentares em questões éticas e civilizacionais (matar animais para consumo é bárbaro!).
Nos E.U.A. existem actualmente 7,5 milhões de pessoas que se declaram vegan (mais do dobro do que as efectivamente intolerantes aos glúten) mas existem outros tantos milhões que, não sendo vegan em full-time, consomem refeições ditas vegan ocasionalmente, porque gostam ou porque aderir a estas modas alimentares as valoriza socialmente.
O marketing que promove produtos vegan baseia-se em valores mas não em preço, daí que este mercado seja altamente rentável para as empresas que decidem amar os animais e se recusam a explorar vacas leiteiras ou galinhas poedeiras. Neste caso, os social media, nomeadamente o Pinterest, são instrumento fundamental para a disseminação de mensagens e promoção das marcas.

Em 2006, 2 ou em cada 3 americanos faziam dieta ou exercício ou ambos. Presumo que hoje, nos E.U.A. como em Portugal, quase todos os consumidores, em qualquer idade, de ambos os sexos, por questões de saúde, vaidade ou estética, seguem um qualquer regime presumivelmente saudável, alteraram hábitos alimentares e introduziram uma qualquer prática desportiva nas suas rotinas.
Durante décadas o marketing promoveu obscenamente fast food e refrigerantes. Em simultâneo promoviam-se dietas mágicas gerando expectativas irrealistas de emagrecimento rápido. No contexto actual, as cadeias de hamburgueres e as bebidas que os acompanham ainda são investidores de peso em marketing e em publicidade, mas o comportamento ambíguo e paradoxal dos consumidores, abriu as portas a novas empresas/marcas cujo maior atributo é o adjectivo "saudável", obrigando os grandes players da indústria alimentar a inovar sobre os seus produtos tradicionais ou a diversificar as suas propostas.

*O gluten é uma proteína que se encontra na farinha, logo no pão e numa imensidão de produtos embalados.