domingo, 22 de fevereiro de 2015

O marketing dos Oscares

Quem não se recorda da selfie que imortalizou a noite dos Oscares no ano passado?
Esta fotografia que só os ingénuos acreditaram ser espontânea foi patrocinada pela SAMSUNG que, no global, investiu 20 milhões de dólares na noite das estrelas de cinema. Presumo que o investimento terá sido largamente recompensado pelos 3,3 milhões de retweets que se seguiram (até hoje é a fotografia com mais tweets desta curta história!), com uma média de 900 citações da marca por minuto nos social media. Como em média cada utilizador do Twitter tem 350 seguidores, a foto atingiu em poucas horas um potencial de 1.155.000.000 utilizadores!
A utilização de um telemóvel SAMSUNG num comportamento banal ao mais comum dos utilizadores de smartphone foi sem dúvida uma ideia de génio.
Episódios como este introduziram no léxico um novo conceito: real-time marketing moment (expressões destas não se traduzem com sentido).
O que torna estas situações únicas, inigualáveis, é a autenticidade aparente com que irrompem entre as 5.000 mensagens publicitárias que bombardeiam diariamente este público anónimo que somos nós, os potenciais consumidores.
Eventos mediáticos com uma ampla assistência mundial são um delírio para os marketeers.
Para além dos momentos extraordinários que certamente vão dar que falar (ou tweetar) daqui a poucas horas, há estratégias básicas que já fazem parte da tradição na noite das estatuetas douradas:
Moda
Qualquer estrela que seja interpelada por um dos múltiplos repórteres que cobrem o evento, vai certamente referir sem qualquer cerimónia o nome do estilista que desenhou o seu vestido ou do joalheiro que manufacturou as suas jóias.
Evocação directa ou subliminar das marcas
No longo discurso de abertura que é suposto o Neil Patrick Harris fazer e até, porque não, nos ensaiados-para-parecerem-improvisados discursos dos vencedores, serão evocadas ou sugeridas marcas ou mensagens publicitárias.
Realidade aumentada = Augmented reality
É uma das grandes tendências do marketing para este ano. Muito embora tenha alguma dificuldade em explicar o que é, pois todos os exemplos que encontro dizem respeito à NFL ou à Superbowl, dizem os especialistas que a realidade aumentada corresponde à introdução de um elemento digital sobre uma imagem como se fosse parte integrante da mesma. A realidade aumentada serve para enfatizar a mensagem visual, eventualmente permitindo a interactividade e fomentando a partilha.
Swag bags milionários
O swag bag é uma espécie de prémio de consolação oferecido aos nomeados perdedores para as quatro categorias de representação (actor/actriz principal e secundário) e para a categoria de director. O saco das prendas deste ano está avaliado nuns escandalosos $167.000 dólares e incluí cerca de 80 items oferecidos pelas marcas que esperam que este patrocínio se converta num crescimento explosivo do seu índice de notoriedade.

É claro que os filmes também são importantes mas, deixando os comentários para os críticos, ficamos ansiosamente à espera dos grandes golpes de marketing para a cerimónia deste ano...




terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

As melhores ferramentas para criação de conteúdos

Isto de as coisas mudarem muito rapidamente obriga a alguma disciplina e redobrado esforço para nos mantermos actualizados. É uma obrigação profissional de todos os que trabalham em marketing.
Sendo que o contet marketing é A TENDÊNCIA, é fundamental conhecer as principais ferramentas utilizadas por quem é perito nesta área:
Photoshop
Trata-se de uma ferramenta velhinha que permite melhorar fotografias numa era em que a imagem é a forma primordial de comunicação.
Instagram
É uma espécie de Photoshop em versão andróide que nos permite melhorar as fotografias que tiramos, partilhando com quem nos segue imagens poderosas de um cenário banal.
PhotoGrid
Aplicação que nos permite utilizar várias fotografias para compor uma única imagem, adicionando texto, personalizando borders e backgrounds de forma a produzir um conteúdo único.
InstaQuote
A moda das imagens sob frases feitas, soundbytes e clichés tornou-se uma epidemia. Nos tempos que correm todas as marcas/empresas têm de desenvolver uma sólida estratégia de comunicação que produza de forma sistemática e consistente "imagens de marca" com elevado potencial de partilha.
Word Swag
Outra aplicação que permite sobrepor texto às imagens com utilização de templates fabulosos que fazem qualquer publicação parecer um milagre. Esta aplicação está apenas disponível para i-phone (ou i-pad).
PicMonkey
Permite fazer colagens e desenvolver infográficos de elevada qualidade.
Unsplash
É um serviço gratuito de partilha de imagens ligado ao motor do Tumblr. Tem a desvantagem de não ser uma base de dados na qual se pesquisam as imagens por categoria, mas por outro tem a vantagem imensa de fornecer imagens de elevada qualidade, livres de direitos de autor (10 imagens a cada 10 dias).
Canva
Inscrevi-me nesta plataforma quando estava a redigir este post e em menos de 1 minuto produzi a imagem ao lado (esquerdo). Não é nenhuma obra-prima mas tenho a certeza de que com algum tempo e paciência é possível produzir gráficos extraordinarios com esta ferramenta.
Designspiration
É uma fonte fabulosa de imagens inspiracionais.
QuotesCover
Mais uma ferramenta fantástica e gratuita que converte qualquer pessoa com conhecimentos básicos num expert em design (imagem da direita).


A democratização do acesso a tantas ferramentas fantásticas coloca desafios cada vez mais altos aos que se dedicam à produção de conteúdos.
Por um lado, a proliferação de imagens bonitas, com legendas gráficas interessantes, escritas em fonte original com layout distinto, banaliza a utilização de certos temas e fotografias: por exemplo, qualquer texto sobre uma fotografia da natureza há-de evocar alguma baboseira sobre a vida, a esperança, a fé... ou qualquer outra receita divina prescrita por Paulo Coelho e sucedâneos.
Por outro, o blá, blá, blá constante leva a que mensagens que faziam algum sentido e até tinham alguma profundidade na origem se tornem superficiais e ocas quando vestidas com um tipo de letra vintage sobre uma despropositada fotografia.
É fácil encontrar ferramentas de trabalho para escrever frases ou publicar ideias através de imagens. Contudo o verdadeiro trabalho de atribuir às palavras e às fotografias um conteúdo depende ainda de factores subjectivos de criatividade que não se descarregam on-line nem são gratuitos...








domingo, 8 de fevereiro de 2015

O futuro já não é o que era...

Quando revejo algum filme de ficção científica, daqueles rodados na década de oitenta ou noventa que vaticinavam que o mundo estaria por esta altura lotado de extra-terrestres maquiavélicos, não consigo deixar de sorrir com a ironia desta imaginação profícua que facilmente nos via como robots sensíveis mas jamais como seres humanos ligados entre si pelas redes sociais.
O que aconteceu de mais extraordinário neste século que é o XXI foi que os social media se tornaram parte integrante do ecossistema. Nós não estamos nas redes sociais como espectadores ou utilizadores furtivos: as redes sociais fazem parte do nós.
Graças à interconectividade em tempo real, o momento em que as coisas acontecem é o agora, imediatamente acessível, vivido e partilhado.
Não sendo historiadora nem socióloga, o que detenho deste presente é que os consumidores são influenciados em tempo útil pelos comentários uns dos outros. Pode acontecer que eu esteja a pensar ir ao restaurante X e que, enquanto faço o trajecto, um estranho que nem sequer conheço mas que me entra pelos feeds através de improváveis ligações cruzadas, comente que a comida nesse sítio é terrível, levando-me a travar a fundo e mudar de direcção. Da mesma forma, posso estar sentada em casa a preguiçar e ver num post que a loja Y entrou em liquidação. Eu, e tantas outras mulheres que desconheço, somos assim convocadas para uma estratégia de saldos que em segundos se torna viral.
A internet que há uns anos servia para muitas coisas é agora a plataforma que serve para tudo.
Já não somos capazes de marcar férias sem consultar vários sites de viagens para comparar preços e auscultar as opiniões de outros viajantes; já não tomamos uma decisão de compra sem pesquisar as infinitas informações e comentários sobre o produto, sem pesquisar substitutos ou sucedâneos; já não circunscrevemos o nosso universo de lojas ao centro comercial mais próximo, à nossa cidade, sequer ao país em que habitamos.
Somos antagónicos, complexos e esquizofrénicos: vamos às lojas físicas ver os produtos mas depois compramos on-line; compramos em lojas físicas os produtos que previamente namoramos on-line.
A nossa resistência às compras via internet pode ainda ser justificada por questões de segurança bancária, mas o futuro que é hoje facilmente resolveu o problema criando alternativas de pagamento que podem estar no écran do telemóvel (actualmente existem 163 moedas virtuais!).
Se pensarmos nos nossos hábitos há meros dez anos, percebemos o quanto a internet mudou as nossas rotinas, em lazer e no trabalho. Continuamos anónimos mas criamos perfis visíveis que permitam aos marketeers aperfeiçoarem as suas técnicas de abordagem. Mantemos a etiqueta "Publicidade aqui não" na caixa do correio mas toleramos que essa mesma publicidade nos contacte dissimuladamente através das redes sociais.
Já nem sequer somos capazes de definir os limites da nossa vida íntima, quando fazemos declarações, partilhamos opiniões ou divulgamos fotografias da nossa família e da nossa casa, numa leviana atitude que é consciente no propósito vaidoso de nos mostrarmos.
Para bem dos consumidores estamos na era da personalização em massa, uma oferta taylor made que se ajusta às preferências e expectativas de um conjunto povoado de nichos que, mesmo não falando a mesma língua, se revelam como um grupo imenso cujo perfil é mais parecido do que o são os traços de personalidade entre familiares.
Este presente que não é o futuro imaginado, é muito mais desafiante e assustador do que o ambiente desolador em que alguns futuristas imaginavam a raça humana.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Blue Monday

Esta manhã ouvi na rádio que hoje era o dia mais triste do ano. Nada como notícias destas para nos animar no caminho para o trabalho!
Aparentemente a determinação de que a terceira segunda-feira de Janeiro é o dia mais infeliz do ano obedece a fórmula científica.
Sucede porém que, neste caso, a conclusão melancólica não é mais do que uma golpada de marketing patrocinada por uma agência de viagens, que em 2005 pagou a um psicólogo para corroborar, através de uma série de teorias com probabilidade matemática, a existência de uma blue monday, o dia ideal para marcar uma viagem.
Há estratégias publicitárias mais simples, que provavelmente são até mais eficazes!
O mesmo psicólogo, um verdadeiro relações públicas, ao que tudo indica foi também contratado pela marca de gelados Walls (homóloga da Olá) para identificar, com recurso a idêntico raciocínio exato, o dia mais feliz do ano. Este ocorrerá a 21 de Junho, caso queiram tomar nota.
As variáveis que o dito charlatão com PhD (Cliff Arnall da Universidade de Cardiff, para que conste) avançou para a fórmula da infelicidade são:
Clima 
(por acaso, apesar do frio, hoje esteve um Sol maravilhoso);
Dívidas 
(são uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer);
Nostalgia do Natal 
(pode ser, mas há quem já sonhe com Carnaval, com a Páscoa, com o Verão... 
o ano faz-se em ciclos e depois de umas décadas de tarimba ficamos acostumados);
Depressão pós-resoluções de Ano Novo 
(que invariavelmente se não cumprem, como a promessa de deixar de fumar ou a tal dieta que em duas semanas nos faria emagrecer 7 quilos!)

O dia mais triste do ano é um mito que não tem tido grande aproveitamento por parte das empresas, como sucede com outros eventos criados a partir de outras fábulas, como a Black Friday.
Não é preciso ser psicólogo, cientista ou meteorologista para inferir que o clima afecta o nosso estado de espírito e que o Inverno é mais propenso a estados depressivos pela ausência de luz solar.
A poética expressão anglo saxónica feeling blue tem um equivalente académico cujo acrónimo é S.A.D. (Seasonal Affective Disorder), uma espécie de depressão cíclica provocada pelo deficit de melatonina.
Para além dos químicos com que se tratam este tipo de patologias parece que os hidratos de carbono são o equivalente a uma dose generosa de raios de Sol, principalmente os hidratos complexos como os dos doces!
A blue monday decretada para hoje não deve servir de desculpa para ficar na cama com medo que o céu nos caía em cima mas antes ser usada como argumento incontestável para comer uns quadradinhos de chocolate....
Os markeeters da Mars e da Nestlé devem estar atentos a estes impulsos únicos para o consumo...

domingo, 18 de janeiro de 2015

CEO da marca "EU"

A gestão da marca pessoal é fundamental para prolongarmos o ciclo de vida do produto que somos.
Em primeiro lugar, qualquer que seja a nossa formação, idade ou percurso profissional devemos sempre considerar-nos como uma marca.
Porquê?
Somos inequivocamente seres únicos, uma combinação genética muito particular de células, umas tantas características inatas e muitas outras que adquirimos ao longo da vida, que determinam a forma como agimos perante desafios, como resistimos e reagimos a adversidades, como competimos ou meramente sobrevivemos a cada dia.
Somos seres humanos em mutação, cada vez mais complexos e completos, idealmente tão mais sábios quanto mais velhos. Somos também trabalhadores em processo contínuo de formação e de aprendizagem, pelo que, mesmo não estanho activamente à procura de emprego, por questões de ego ou meramente de auto-estima, devemos querer ser percebidos como marca premium e não como commodity, no mercado de trabalho.
Em segundo lugar, sendo uma marca, devemos reavaliar-nos periodicamente, pelo menos fazer planos estratégicos anuais, olhando para nós, para o que conseguimos, para o que queremos e para o que queríamos há doze meses, com sentido crítico e objectivo de forma a avaliar a consistência do produto que comunicamos.
Ser CEO significa ter poder. 
No caso da marca pessoal, independentemente dos reveses e azares que o destino nos prepara, está nas mãos de cada um controlar e gerir a sua reputação. As nossas acções devem todas ser consistentes com a manutenção de um conceito único, distinto e credível.
A checklist da gestão da marca incluí os seguintes pontos:
1. Identificar as nossas mais-valias
isto é, as características pessoais ou combinação de atributos que fazem de nós uma pessoa difícil de imitar. Esses pontos fortes têm necessariamente de ser relevantes para o ecossistema que identificamos como o nosso mercado de trabalho natural.
2. Identificar o que é relevante na indústria em que trabalhamos (ou queremos trabalhar)
Depois da licenciatura, os estágios e empregos que aceitamos empurram-nos ou puxam-nos inevitavelmente para uma determinada indústria. Se identificamos que a indústria em que entramos não nos fascina devemos procurar rapidamente uma alternativa pois o mais certo é que, depois de uma experiência superior a dois anos numa área (como mandam os requisitos de recrutamento), façamos a nossa evolução futura nessa mesma área. Quanto mais perdurarmos nesse negócio mais dificilmente conseguimos mudar.
As empresas procuram tendencialmente especialistas e não gerenalistas por isso a coerência acaba por ser imposta pelo próprio mercado.
O ideal é que o nosso nome seja uma referência positiva no mercado, entre quem nos paga o ordenado, clientes, fornecedores e concorrentes.Devemos por isso ter uma cautela imensa quando nos pronunciamos sobre entidades que gravitam na nossa órbita pois qualquer uma destas pode ser um potencial empregador.
3. Construir um perfil social coerente em todas as redes sociais
São vários os casos de pessoas que foram desmascaradas, devassadas ou humilhadas pelo que partilhavam no FaceBook quando mantinham uma sóbria imagem de fato e gravata no LinkedIn. Pesem-se as diferenças entre a pessoa que somos em família ou entre amigos, de camisa com palmeiras e chinelo no dedo, devemos manter privadas as fotografias que não nos dignificam e reservados os comentários que podem ser polémicos. A liberdade a que temos direito não fica de forma alguma limitada mas apenas e só circunscrita a um universo particular.
4. Partilhar conteúdos de forma sistemática
Há quem crie conteúdos ou quem simplesmente copie links. Independentemente do mérito e da capacidade criativa, a web não é meramente um espaço lúdico e recreativo, mas sim uma fonte inesgotável e imensa de informação e de conhecimento que, sendo relevante para a nossa área, devemos assimilar e partilhar com os demais. Se há uns anos fazia sentido a expressão "diz-me com quem andas que eu dir-te-ei quem és", hoje em dia é absolutamente verdade a máxima "mostra-me o que partilhas que eu dir-te-ei o que sabes."
No LinkedIn existem 25 pessoas com o mesmo nome que eu mas o meu perfil aparece como primeiro na lista provavelmente porque sou activa na rede mas também porque ostento o símbolo 500+. Mesmo não sendo tão regular neste tipo de networking como gostaria admito que nenhum dos cliques que faço nesta rede é casual ou aleatório.
5. Criar uma rede relevante de contactos
Neste caso falo não só nos contactos virtuais que podemos coleccionar no LinkedIn, que provavelmente nem reconheceremos na rua se com eles nos cruzarmos, mas também de contactos reais, pessoas de carne e osso que se relacionam connosco numa base quotidiana e que poderão indicar referências positivas sobre a pessoa que somos. Para que isto aconteça é fundamental manter a personalidade profissional de forma contínua, mesmo nos momentos mais informais ou de lazer. A personagem que construímos com a marca que vendemos tem de se comunicar sempre da mesma maneira, à distância de uns passos, de um telefone ou de um écran de computador.
6. Separar a marca pessoal da marca profissional
Assim como a P&G gere o seu portfolio de marcas como um conjunto de entidades independentes e estanques, também nós devemos saber gerir as duas personagens que mantemos sob a mesma pele como duas pessoas autónomas. É claro que o ser humano que somos tem características omnipresentes que se revelam de forma inequívoca em qualquer contexto. Não devemos no entanto, ser tão rígidos ou formais na vida íntima, nem tão descontraídos ou extrovertidos na vida profissional, sob pena de algumas qualidades se revelarem ameaças perigosas ou alguns defeitos nos condenarem ao fracasso.

Gerir esta ambivalência é tarefa árdua, requerendo muita sensibilidade e empenho. Talvez por isso apesar de todos temos uma marca, para alguns o rótulo é apenas um autocolante em branco...



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"Je suis Charlie" já é uma marca?

Um chico-espero de um belga tentou registar a marca "Je suis Charlie".
Como é evidente o pedido será declinado mas a visão deste homem, se não se basear unicamente num rasgo de esperteza saloia, revela um sentido de marketing extraordinário.
Se pensarmos que o valor de uma marca decorre dos produtos, pessoas e reputação que lhe estão associados, então a frase repetida, impressa, exibida e partilhada até à exaustão nos últimos dias reúne todas as condições para ser considerada uma top brand.

Ainda ontem, nos Globos de Ouro, várias celebridades exibiam a marca da moda com mais orgulho do que a da vestimenta patrocinada.
As razões que fazem de "Je suis Charlie" uma marca milionária são:
1) Omnipresença
Esta marca já se tornou quotidiana, tão presente como a marca da pasta de dentes ou do gel de banho, tão reveladora da nossa personalidade como a marca do perfume ou do casaco.
2) Tendência para a valorização
É claro que este fenómeno de histeria silenciosa que até atirou a Merkel para os braços do Hollande vai acalmar. Sucede porém que, a acreditar no infeliz vaticínio de que os acontecimentos da semana passada vão mudar para sempre a paz podre entre o mundo Muçulmano Radical e o Ocidente, a frase "Je suis Charlie" jamais será erradicada do nosso léxico.
3) Apelo a emoções
É claro que "Je suis Charlie" é uma marca que incorpora o toque mágico que tantas marcas ambicionam: mexe com as nossas emoções mais básicas. Já se sabe que as marcas que conseguem estabelecer laços emocionais agarram-se à nossa selectiva memória como uma espécie de tatuagem...

Nos próximos tempos a própria utilização do "Je suis..." será garante de atenção e promessa de viralidade. Em situações destas os marketeers não podem ficar adormecidos já que oportunidades de alavancagem destas são um oásis.
A Apple, que no que toca à inovação sofre de insónias, aprovou sem hesitar uma aplicação que ajuda a espalhar a mensagem de apoio à liberdade de expressão. Este pedido foi colocado por uma pequena empresa francesa que conseguiu o feito de validar a sua pretensão em tempo recorde. Como diria a minha sábia avó "quem sabe, sabe..."








sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A Europa não (é) marca

Como é evidente não fiquei indiferente aos acontecimentos de quinta-feira. Do ponto de vista político, geo-estratégico, religioso, moral muito se tem dissertado e se continuará a dissertar nas próximas semanas.
A questão fundamental, mais dramática do que a violência gratuita, mais perigosa do que este fundamentalismo cego e insano, é porque razão tantos miúdos aderem a estes movimentos radicais rebelando-se contra o estilo de vida ocidental que supostamente os acolhe?
Sabemos que o enquadramento social e o ambiente familiar são factores que influenciam a integração dos indivíduos. Existem imensas justificações para explicar porque razão alguns conseguem alhear-se da violência doméstica, da brutalidade, da delinquência, da droga, da promiscuidade, enquanto outros de afundam e afogam neste pântano negro que os condena de forma perpétua antes mesmo da primeira infracção às leis dos homens. Não me parece contudo que se tenham desenvolvido até ao momento teorias suficientemente estruturadas que desenhem o perfil e o percurso daqueles que se deixam seduzir pela Jihad.
Mesmo sabendo que existem norte-americanos entre os jihadistas fanáticos, no contexto actual é pertinente aprofundar a alegada falta de integração de jovens supostamente europeus nesta sociedade azul de estrelas douradas.
A conclusão é simples:
a Europa é apenas uma entidade burocrática 
com moeda única e liberdade de circulação.
Enquanto que em relação a países como o Brasil ou como os Estados Unidos existe uma identidade única e inequívoca, uma série de atributos positivos que fazem com que os cidadãos desses países (os que lá nasceram ou para lá emigram) se queiram sentir naturais e assimilar por osmose essas características benfazejas que prometem fazer deles pessoas melhores, na Europa não existe essa identidade partilhada orgulhosamente nem sequer um esforço deliberado para que a União que supostamente existe ao nível político se reflicta espontaneamente no estado de espírito dos cidadãos.
É evidente que a União Europeia não é uma nação mas sim um conjunto heterogéneo de nações, o que constituí um obstáculo profundo à disseminação de um sentido de identidade comum. Falamos línguas diferentes, temos heranças históricas distintas, pensamos e reagimos de formas muito particulares. Acresce ainda, e esta talvez seja a desconformidade mais séria, que não nutrimos grande respeito uns pelos outros, com os alemães a tratarem os gregos como tontos e todos os outros como filhos de um deus menor; com os franceses a cultivarem um chauvinismo histórico que os torna insuportáveis; com os ingleses a isolarem-se na sua ilha como europeus de outra casta e os nórdicos ignorando educadamente tudo o que se passa para lá da sua sauna.

O que falta à Europa é definir-se como marca, 
consolidando um conceito tão forte e potente 
que desenvolva em todos os que habitam no espaço Schengen 
o orgulho imenso em afirmar "eu sou cidadão europeu!"

Quando uma marca nos toca desenvolvemos em relação a esta uma devoção similar à que nutrimos pela Coca-Cola versus Pepsi. Isto não quer dizer que não sejamos consumidores da segunda quando a primeira não está disponível, mas sim que não assumimos a troca de forma leviana. Por outro lado, somos solidários com os que preferem Pepsi e dificilmente os demovemos da sua opção. Deveríamos aplicar este respeito pelas preferências entre refrigerantes a todas as decisões de escolha dos que gravitam na nossa órbita.

Para a Europa, os conceitos-chave que urge trabalhar são
Optimismo solidário
Conseguiremos todos superar a crise que assolou a Europa porque somos uma nação que se ajuda sem cobranças e contrapartidas que fazem lembrar pactos com o diabo.
Tolerância
Sendo a Europa constituída por povos tão diferentes, com raças distintas, religiões variadas e orientações políticas nem sempre convergentes, está na nossa genética a tolerância em relação aos outros, independentemente da sua ascendência, origem, ideologia ou fé.

Uma estratégia de marketing tão ambiciosa é viável como demonstra o sinal de pertença que levou milhares de europeus a unirem-se em marchas, vigílias e protestos desenvolvendo sinais e códigos próprios, que em termos de marketing vão do merchandising aos elementos visuais chave que distinguem uma marca.

Se acreditarmos que estas são as qualidades que definem a nossa terra-mãe, seremos de forma espontânea uma sociedade que integra melhor os que se sentem estrangeiros, minimizando assim a procura de realidades paralelas alternativas que sob o ponto de vista do marketing são marcas rascas de contrafacção.